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Para reconhecermos uma guerra, nem sempre é preciso estabelecer a definição de duas nações inimigas ou conquista de um território. Ao longo do tempo, podemos ver que as situações de conflito se desenvolveram por razões diversas. Partindo dessa perspectiva é que podemos entender a Inquisição Católica como uma situação de conflito na qual uma instituição religiosa entra em discordância com comportamentos e experiências religiosas que ameaçavam a sua hegemonia entre a Idade Média e a Idade Moderna.
Interessada em vencer esse confronto, a Igreja espalhou uma série de tribunais que investigavam os acusados de cometer os chamados “crimes de fé”. Após a autuação, o suspeito era submetido a uma série de torturas que visavam arrancar a devida confissão do acusado. Em alguns casos, dependendo da gravidade do crime, a morte em público era aplicada como um meio de inibir os demais moradores de uma região, de forma que não cometessem uma falta semelhante.
Uma das primeiras armas impostas contra o acusado era a chamada “cadeira inquisitorial”. Nela, o suspeito era submetido a uma série de perguntas relacionadas ao crime que supostamente cometera. A cadeira era recheada de grossos pregos de metal que laceravam a carne de sua vítima enquanto o questionamento dos clérigos acontecia. Não raro, esse tipo de instrumento já bastava para que muitos confessassem qualquer tipo de falta.
Em algumas situações mais extremas, o chamado “berço de judas” era também utilizado pelos inquisidores. Nesse instrumento, o acusado tinha seus braços amarrados por correntes situadas no teto e seu corpo acoplado a uma cadeira pontiaguda. Na medida em que a corrente era solta, o peso do corpo da vítima fazia com que toda a região anal fosse dilacerada. O desconforto da posição e os ferimentos eram capazes de arrancar até os pecados que não foram cometidos pela vítima.
Até mesmo as acusações e pecados mais leves contavam com um tipo de instrumento de repreensão. O uso de “máscaras da vergonha” e o apresamento do pescoço e dos punhos eram bastante aplicados na punição dos delitos menores. Os viciados em jogo, beberrões e fumantes também eram castigados com um barril com passagem para os membros e a cabeça. Nesse tipo de punição, o condenado era obrigado a vagar pela cidade vestido com o incômodo barril.
Quando a morte era aplicada como punição, podemos ver que os requintes de crueldade eram ainda maiores contra o pecador. Alguns acusados eram presos em gaiolas vazadas com o formato do corpo humano. Preso na estrutura metálica, o condenado era dependurado em uma via pública até morrer e seu corpo se decompor. No “Touro de Falaris” o pecador era inserido em um touro de metal que levava uma fogueira embaixo. Enquanto a temperatura subia, o público ouvia os urros da pessoa aprisionada no touro.
Sem dúvida, ao notar a variedade de recursos que era aplicada na Inquisição, podemos ver que a truculência empregada contra os pecadores era devastadora. Vale lembrar que, naqueles tempos, a ideia dos direitos individuais e a liberdade religiosa estavam longe de serem defendidas. Deste modo, muitos consideravam a ação da Igreja como algo inerente às suas funções religiosas.
Por Rainer Sousa
Mestre em História