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É comum observarmos nos comentários das pessoas mais velhas alguns relatos sobre as transformações climáticas, como: “no meu tempo, não ficava tantos dias seguidos sem chover nessa região”; “na minha época, os ventos não eram tão fortes e o tempo nem ficava tão seco assim”. Apesar das influências do homem sobre o clima, esses relatos podem ser representativos de um fenômeno climático natural, a Oscilação Decadal do Pacífico (ODP).
A ODP é um fenômeno muito semelhante aos eventos do El Niño e La Niña (ENSO), pois se trata de uma variação das temperaturas do Oceano Pacífico. No entanto, diferentemente dos dois fenômenos citados, a PDO (sigla para Oscilação Decadal do Pacífico em inglês) tem uma variação climática um pouco mais longa, com cerca de 20 anos de duração, enquanto o ENSO costuma durar entre 6 e 18 meses.
Existem duas fases bem definidas da ODP: uma positiva – quando há um aumento das temperaturas do Pacífico – e uma negativa – quando há uma diminuição das temperaturas. Tais variações estão relacionadas a fatores como correntes marinhas, vulcanismos no fundo do oceano e, principalmente, a atividade solar. Dessa forma, em virtude do fato de o Oceano Pacífico ocupar cerca de um terço da superfície terrestre, as variações da ODP influenciam diretamente o clima dos continentes.
Efeitos da ODP positiva: aumento do número de ocorrências e da intensidade do El Niño e uma consequente diminuição do La Niña. Dessa forma, observa-se nas regiões afetadas – dentre elas o território brasileiro – um maior número de anos secos do que anos chuvosos (o que ajuda a explicar, por exemplo, alguns períodos de longas secas no Nordeste e a diminuição da intensidade do inverno na região Sul).
Efeitos da ODP negativa: diminuição das temperaturas, elevação da umidade do ar e uma maior incidência e intensidade do La Niña em detrimento da diminuição e enfraquecimento do El Niño. As regiões antes atingidas por longas secas passam a ter uma maior quantidade de períodos chuvosos, além de invernos mais frios.
Isso explica, portanto, quando algumas pessoas afirmam que o clima era diferente em décadas anteriores: trata-se, provavelmente, da alternância entre ODPs positivas e negativas.
Oscilação Decadal do Pacífico x Aquecimento Global
Normalmente, alguns meteorologistas e, principalmente, os meios de comunicação costumam atribuir as variabilidades climáticas, especialmente o aumento das temperaturas, ao aquecimento global.
Entretanto, muitos dos críticos daquilo que chamam de “alarmismo global” vêm refutando essa concepção, utilizando como argumento, principalmente, a Oscilação Decadal do Pacífico, que está associada a variações climáticas não somente dos dias atuais, mas de períodos anteriores também, quando não se falava em aquecimento da Terra.
De acordo com estudos elaborados pela MetSul Meteorologia, nos anos 40, o clima encontrava-se sob os efeitos de uma ODP positiva, com El Niños mais fortes e frequentes. De 1950 a 1976, no entanto, a ODP passou a ser negativa, resultando em invernos extremamente fortes no Sul do Brasil e clima mais frio no Sudeste e Centro-Oeste. Nas décadas de 1980/90, a oscilação tornou-se novamente positiva, propiciando a ocorrência dos El Niños mais fortes do século, em 1983, 1997 e 1998.
A partir dos anos 2000, novamente a ODP passou a ser negativa e a influência do La Niña foi maior do que do EL Niño. Prova disso foi a ocorrência de intensos períodos de chuva no Nordeste, nos anos 2000, 2001, 2006, 2008 e 2009, enquanto nos outros anos as secas foram mais amenas. A tendência, a partir de agora, é que as fortes secas e os invernos menos rigorosos voltem a ser a tendência climática.
Isso, no entanto, não anula totalmente as teorias que alertam sobre a influência da ação humana sobre o clima. Segundo os especialistas em climatologia, é preciso considerar tanto os fatores naturais quanto os elementos antrópicos para diagnosticar as variações climáticas no planeta. Além disso, é preciso considerar os microclimas, sobretudo nas cidades. Esses sim estão diretamente associados às atividades humanas.
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* Créditos da Imagem: Giorgiogp2
Por Rodolfo Alves Pena
Graduado em Geografia