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O Punjab na Índia: o Separatismo Sikh

A luta da população sikh pela criação de um Estado independente resultou em diversos conflitos com o governo da Índia.

O fato de a população sikh lutar pela ampliação de sua autonomia política gerou diversos enfrentamentos com o governo da Índia.*
O fato de a população sikh lutar pela ampliação de sua autonomia política gerou diversos enfrentamentos com o governo da Índia.*
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O Punjab é um estado localizado na porção nordeste da Índia, próximo ao Paquistão e da região da Caxemira. A fronteira norte do Punjab é formada pelo sopé do Himalaia (o Panjal no Paquistão e as Colinas Shivalik na Índia).  O rio Indo constitui a fronteira ocidental e o rio Yamuna faz a fronteira oriental.  A região de cinco rios - Jhelum, Chenab, Ravi, Beas e Sutlej – integra o rio Indo, no trecho sul.  Essa característica ajuda a explicar o termo Punjab: a palavra persa "Panj", que significa 5, e "ab", que quer dizer águas.

Politicamente, o estado do Punjab é o resultado de uma divisão entre Índia e Paquistão, após a partilha da Índia britânica em 1947. O Paquistão recebeu 62% do Punjab.  Essa parte do Punjab se tornou uma das províncias do Paquistão.   Em 1966, a parcela da Índia do Punjab foi dividida em três estados: Punjab, Haryana e Himchal Pradesh. O noroeste tornou-se o estado de Punjab, a região sudeste tornou-se o estado de Haryana e as regiões montanhosas no nordeste constituíram o estado de Himchal Pradesh. 

O estado de Punjab é um dos mais prósperos da Índia e com os menores índices de fome do país.  Seu crescimento econômico foi em grande parte resultado do desenvolvimento da agricultura, que atualmente possui alta produtividade.  Um dos fatores que fazem do Punjab uma área agrícola produtiva é o seu solo fértil de aluvião, com uma extensa superfície plana. Outro fator são as obras de irrigação extensiva que controlam e distribuem a água em toda a área para o aproveitamento máximo.  As partições de terras entre os rios são chamadas doabs.  Durante os séculos XIX e XX, a Índia investiu na construção de barragens, reservatórios e canais de irrigação extensiva, cruzando-se os doabs.  Esses sistemas de irrigação trabalham em conjunto com as chuvas da monção de verão e a água do solo fértil do Punjab, irrigando 78% das suas terras, muito mais do que em qualquer outro estado indiano.

Outra razão que favorece o sucesso na agricultura do Punjab é que ela possui duas safras distintas: novembro-abril e maio-setembro.  O trigo, a cana-de-açúcar e as hortaliças são plantados em novembro. A primavera chega no início de fevereiro e as árvores começam a florescer: cevada, trigo, cana-de-açúcar, frutas e legumes amadurecem e podem ser colhidos em abril.  Em maio, a terra é arada novamente e as culturas de verão são plantadas.  Um período de intenso calor começa em maio e vai até o final de junho.  Durante esse período, os agricultores aguardam a vinda das monções de verão, que vão de julho a setembro.  As principais culturas de verão - arroz, algodão e tabaco - são colhidas em outubro.  Em novembro, as culturas de inverno são semeadas novamente. 

É importante notar que, embora a região do Punjab tenha sido dividida por razões políticas, o termo histórico "Punjab" acabou sendo utilizado para se referir à planície aluvial ocupada pelo Paquistão e pela Índia. No Paquistão, a província de Punjab compõe cerca de 25% do território paquistanês e contém quase 60% de sua população. Na Índia, o estado de Punjab representa apenas 1,7% do seu território, detendo 2,1% de toda a população do país, sendo apenas 2% dessa população formada por muçulmanos.  No entanto, quando se considera que cerca de 13% da população total da Índia é muçulmana, o Punjab ocupa as fronteiras da Índia muçulmana com o Paquistão e, por isso, essa população é politicamente importante, principalmente para a manutenção da paz entre os dois países.

A questão étnica mais delicada envolve a população formada pelos sikhs, correspondentes a 60% do total. O Sikhismo surgiu a partir do hinduísmo, como um movimento de reforma no século XVI. A crença de que cada indivíduo possui o seu próprio karma e realiza, a cada encarnação terrestre, uma evolução espiritual é característica herdada do hinduísmo. A religião também utiliza alguns elementos do islamismo, como o monoteísmo e a proibição da idolatria, em que nem a figura de Deus deve ser representada. O sikhismo possui em torno de 27 milhões de adeptos no mundo, configurando a quinta maior religião do mundo, com 83% da população sikh concentrada na Índia. Milhões de sikhs migraram para diferentes países, a maioria de língua inglesa, com destaque, na ordem de importância, para Canadá e Reino Unido. As correntes migratórias sikhs também se dirigiram para os Estados Unidos, leste da África (Quênia, Uganda, Tanzânia), Europa e mais recentemente para a Austrália.

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Como a religião sikh é contrária aos preceitos hinduístas de segmentação da sociedade em castas e, ao mesmo tempo, é mais flexível do que a religião islâmica, seus adeptos sempre buscaram uma maior autonomia. Quando ocorreu a fragmentação da Índia e a criação do Paquistão, os sikhs ficaram confinados entre um país de maioria hindu e um Estado islâmico, o que motivou a maior parte das migrações para outros países.  Mesmo após a criação do estado de Punjab, em 1966, algo reivindicado pelos sikhs, as tensões continuaram a aumentar, principalmente a pressão pela autonomia total do Punjab e a criação de um país independente da Índia. Nos anos 1970, essa movimentação deu origem ao movimento pelo Khalistan, o almejado Estado sikh.

Na década de 1980, ocorreram os maiores incidentes. O movimento pelo Khalistan ganhou notoriedade e passou a agregar cada vez mais militantes. Um de seus idealizadores, Jagjit Singh Chauhan, fundou o Conselho Nacional do Khalistan a fim de começar a institucionalização do Estado sikh. Em uma operação do exército indiano realizada em 1984 e conhecida como Estrela Azul, centenas de militantes sikhs foram mortos no Templo Dourado, localizado na cidade Amritsar, local de maior organização dos rebeldes. O episódio serviu para aumentar a popularidade da então primeira-ministra Indira Gandhi entre a população hindu, mas estabeleceu um ambiente de conflito e belicismo. No mesmo ano, terroristas sikhs assassinaram a primeira-ministra, ato efetuado por dois guarda-costas da ministra. Em resposta, diversas localidades do país tiveram ondas de violência antissikh, que resultaram na morte de pelo menos 10 mil sikhs em um período de uma semana, de acordo com observadores internacionais.

A partir da década de 1990, o movimento Khalistan passou a perder representatividade, o radicalismo foi disperso e muitos militantes criaram células terroristas em outros países. Um acontecimento que sintetizou as mudanças de rumo da religião foi o atentado ocorrido num templo sikh, em 2009, na cidade de Viena, Áustria. Fanáticos sikhs feriram 16 integrantes da seita Dera Sach Khand, matando o guru Sant Rama Nand. Essa subdivisão do sikhismo tem grande participação dos Dálits, população hindu que sofre discriminação dentro do sistema de castas. Os extremistas sikhs não toleram essa interação entre sikhs e hindus, e o radicalismo que antes apenas dirigia seus esforços contra o controle exercido pelo governo da Índia começou a desagregar os próprios sikhs. Por isso, o estágio atual do conflito aparenta certa estabilidade.

Em 2012, outro fato chamou a atenção. No dia 5 de agosto, um atirador de procedência neonazista feriu 30 pessoas e matou outras 4 em um templo Sikh na cidade de Milwaukee, no estado de Wisconsin, região nordeste dos Estados Unidos.  Há uma grande confusão por conta da aparência dos sikhs, que utilizam vestimentas e barbas compridas muito semelhantes àquelas usadas pelos islâmicos. Os atentados de 11 de setembro de 2001 desencadearam uma onda de protestos contra a presença de islâmicos nos Estados Unidos e os sikhs também começaram a sofrer com xenofobia e perseguições.

*Créditos da imagem: Luciano Mortula e Shutterstock.com


Júlio César Lázaro da Silva
Colaborador Brasil Escola
Graduado em Geografia pela Universidade Estadual Paulista - UNESP
Mestre em Geografia Humana pela Universidade Estadual Paulista - UNESP

Escritor do artigo
Escrito por: Júlio César Lázaro da Silva Escritor oficial Brasil Escola

Gostaria de fazer a referência deste texto em um trabalho escolar ou acadêmico? Veja:

SILVA, Júlio César Lázaro da. "O Punjab na Índia: o Separatismo Sikh"; Brasil Escola. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/geografia/o-punjab-na-India-separatismo-sikh.htm. Acesso em 21 de dezembro de 2024.

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