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A criação da CEI no ano de 1991 manteve a influência da Rússia em decisões estratégicas para as nações que formavam a URSS. Os desníveis econômicos entre as repúblicas soviéticas eram imensos, e o poderio militar ficou concentrado com a Rússia. Os armamentos nucleares presentes em outros países foram sendo desmantelados durante a década de 1990 através de tratados de desarmamento que foram convenientes para evitar o surgimento de outras potências nucleares ou a comercialização desses armamentos em direção a regimes hostis ao Ocidente ou para organizações terroristas. Para as ex-repúblicas soviéticas, esses acordos serviram para agilizar a obtenção de empréstimos e a atração de investimentos de instituições ocidentais.
Após duas décadas desde a sua criação, a CEI não conseguiu incitar algum tipo de projeto de desenvolvimento econômico e o bloco ficou restrito a poucos acordos comerciais em áreas específicas e aos interesses geopolíticos da Rússia. As nações asiáticas persistiram em condições socioeconômicas de baixo desenvolvimento e alguns países começaram a observar a União Europeia como uma alternativa muito mais adequada a uma mentalidade de modernização econômica.
Os países bálticos não optaram em participar da CEI por conta da sua maior interação comercial com a Europa. Letônia e Estônia ingressaram na OMC (Organização Mundial do Comércio) em 1999 e a Lituânia em 2001. Em 2004, os três países começaram a participar da União Europeia. Em estágio mais avançado de seu desenvolvimento econômico, a Estônia adotou o Euro em 2011. Em oposição ao imperialismo russo, os três países passaram a fazer parte da OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte) em 2004, cabendo ressaltar que a OTAN representa uma aliança militar idealizada pelos EUA após a 2ª Guerra Mundial para combater os avanços militares da URSS.
A ex-república soviética da Ucrânia sempre será lembrada pelo acidente nuclear de Chernobyl, o maior acidente em uma usina nuclear de todos os tempos, que ocorreu em 1986 e refletiu o atraso técnico da época da URSS. O deslocamento da população que residia nas áreas próximas da usina e a contenção da explosão foram mal planejados, o que provocou inúmeros danos sociais e ambientais. Nem mesmo o ex- presidente soviético Mikhail Gorbatchev soube em tempo real do incidente. Passado esse episódio nebuloso, a Ucrânia é considerada o país mais importante da ex-URSS depois da Rússia. Possui um dos melhores solos agrícolas do mundo, o tchernoziom, localizado nas estepes ucranianas e utilizado para o cultivo de cereais, sendo um dos maiores produtores mundiais de trigo. O milho está em plena expansão, o país já ocupa a posição de 3° maior produtor e, possivelmente, ultrapassará a produção da Argentina nos próximos anos.
O setor energético é muito importante, com a presença de grandes jazidas de petróleo e gás natural. No sudeste do país, na região conhecida como Donbass, ocorrem as maiores reservas de carvão mineral e de produção de ferro e aço, setores que formam o pilar da economia ucraniana. Também merecem destaque o setor aeronáutico e o setor aeroespacial. Recentemente, ocorreu uma movimentação para a Ucrânia se juntar à OTAN, mas, em 2010, o parlamento ucraniano decidiu pela não integração junto ao bloco militar ocidental, o que ficou definido como uma reaproximação política com a Rússia.
Ainda na parte europeia, Belarus (Bielorrússia) mantém uma economia vinculada ao planejamento do Estado, ainda que seja uma nação aberta ao capitalismo e à iniciativa privada, com a predominância da indústria pesada, mecânica e da agricultura. Seu presidente, Aleksandr Lukashenko, está no poder desde 1994, sendo acusado de ser “o último ditador da Europa”, restringindo as liberdades individuais e a democracia no país, o que tem criado tensões junto à União Europeia, fortalecendo o vínculo com a economia e política da Rússia. Já a Moldova (Moldávia) é o país mais pobre da Europa, com dependência externa no setor energético e industrial. Como a grande maioria da população da Moldova é formada por romenos, muitos moldavos tentam migrar para a vizinha Romênia, que pertence à União Europeia, a fim de alcançar a cidadania europeia e conquistar os benefícios da livre circulação de pessoas.
Geórgia, Armênia e Azerbaijão possuem reservas de petróleo, com suas economias basicamente voltadas para o setor primário. Desde a sua independência, a Geórgia procurou um afastamento político da Rússia e maior integração com o Ocidente, chegando a estar próximo de ingressar na OTAN ao final da década de 2000, contrariando os interesses russos na região. Em 2008, a Geórgia foi invadida por tropas da Rússia, que apoiaram as repúblicas separatistas da Abkházia e Ossétia do Sul, regiões que possuem maior afinidade com a Rússia e não aceitam o domínio da Geórgia. A Rússia reconheceu a independência dos dois territórios, ainda não consentida pela ONU, que tem procurado monitorar as áreas em questão. Após o conflito, o parlamento da Geórgia aprovou o desligamento do país em relação à CEI, o que foi concretizado em 2009.
As possibilidades de ingresso na OTAN ainda existem e o país conta com o apoio dos EUA, o que pode ser compreendido da seguinte maneira: de um lado, os Estados Unidos querem ampliar o eixo aliado frente ao Irã, pois a posição geográfica da Geórgia favorece o estabelecimento de bases militares ou até sistemas de lançamento de mísseis e posicionamento de navios. Do outro, e muito mais delicado, tentar diminuir a influência da Rússia no Cáucaso.
Os países asiáticos que formavam a URSS (Cazaquistão, Quirguistão, Uzbequistão, Tadjiquistão e Turcomenistão) são os mais frágeis economicamente, dependendo fortemente da agricultura. O Cazaquistão aparece como exceção, pela presença da indústria do petróleo (o país conta com uma das dez maiores reservas de petróleo do mundo), além das instalações de lançamentos de foguetes e satélites. Quirguistão, Uzbequistão, Tadjiquistão e Turcomenistão são países multiétnicos e islâmicos, que mantêm suas relações políticas com a Rússia, que, por sua vez, não interfere em questões internas desses territórios.
Júlio César Lázaro da Silva
Colaborador Brasil Escola
Graduado em Geografia pela Universidade Estadual Paulista - UNESP
Mestre em Geografia Humana pela Universidade Estadual Paulista - UNESP