Notificações
Você não tem notificações no momento.
Novo canal do Brasil Escola no
WhatsApp!
Siga agora!
Whatsapp icon Whatsapp
Copy icon

Leste Europeu: Países que formaram a URSS – Parte - IV

Com o fim da URSS, a Rússia manteve sua posição estratégica em relação ao Ocidente, reestruturando a sua economia com reformas neoliberais e com uma grande abertura econômica.

Vladimir Putin, ex-vice-presidente de Boris Yeltsin, assumiu o controle da Rússia em 31 de dezembro de 1999.*
Vladimir Putin, ex-vice-presidente de Boris Yeltsin, assumiu o controle da Rússia em 31 de dezembro de 1999.*
Imprimir
Texto:
A+
A-
Ouça o texto abaixo!

PUBLICIDADE

A fragmentação da URSS encerrou o modelo de planificação da economia em todas as repúblicas que formavam o império soviético. A Rússia sempre representou a república mais importante, e a capital Moscou correspondia ao centro das decisões estratégicas dos soviéticos. A maior parte do arsenal bélico e das ogivas nucleares continuou sob o domínio russo. Com o fim da economia estatizada ao final de 1991, o país atravessou um processo de privatizações e a atração de investimentos ocidentais. Por conta da fragilidade técnica de muitas dessas empresas, suas ações eram oferecidas a preços simbólicos, pois, caso contrário, não haveria grandes interessados em injetar capitais em instalações industriais decadentes que não acompanharam a modernização tecnológica ocorrida em outras localidades do planeta.

A Rússia também começou a enfrentar o separatismo islâmico na região do Cáucaso, ao sul do país. Ossétia do Norte, Inguchétia, Tchetchênia e Daguestão permaneceram como repúblicas russas após o fim da URSS. Logo em 1991, a Tchetchênia declarou unilateralmente sua independência da URSS e, em 1993, em relação à Rússia. Tropas russas invadiram a capital tchetchena Grozny, causando a morte não apenas dos considerados “terroristas tchetchenos”, mas da população civil. As intervenções agudas do exército russo impuseram a 1ª Guerra Tchetchena (1994-96), que terminou com um acordo de cessar-fogo iniciado pelo governo da Rússia, exatamente em um ano eleitoral, o que nos faz refletir acerca dos conflitos armados que, quando não vislumbram uma resolução imediata, costumam reduzir a popularidade de governos que ainda procuram sua autoafirmação, o que seguramente contribuiu para o acordo na Tchetchênia.

O governo Boris Yeltsin (1991-1999) foi o responsável pelo processo mais doloroso de transição econômica e política.  Em eleições históricas, foi eleito democraticamente para a presidência da república russa em 12 de junho de 1991, quando ainda existia a União Soviética. Logo nos primeiros anos de governo pós-URSS, Yeltsin precisou buscar mecanismos para a realização da abertura econômica, que num primeiro momento aumentou os problemas sociais do país e foi acompanhada de uma enorme inflação - aumento geral dos preços - que, em 1992, atingiu uma marca superior a 2.500 %. As ações pulverizadas das empresas estatais começaram a ficar concentradas nas mãos de poucos especuladores, gerando um grande distanciamento da proposta inicial de proporcionar ganhos líquidos para a sociedade civil, que poderia participar da compra dessas ações.  Essa prática provocou o surgimento de uma oligarquia econômica, formada por grupos empresariais russos e alguns investidores internacionais. O sistema bancário permaneceu controlado pelos empresários locais, atuando de forma inescrupulosa e com o consentimento do governo federal.    

Não pare agora... Tem mais depois da publicidade ;)

Em meio à morosidade de algumas das reformas econômicas, em 1993, a oposição tentou aprovar um impeachment contra Yeltsin, que, de acordo com os seus opositores, tinha adquirido poderes considerados inconstitucionais, inclusive na opinião do seu vice-presidente Aleksandr Rutskoy. Além disso, havia um sentimento de negação das políticas neoliberais que estavam sendo conduzidas pela gestão de Yeltsin, o que ecoava pelos corredores do Parlamento do país. A tentativa de impeachment fez o presidente reagir de forma violenta, ordenando o bombardeamento do Parlamento, o que resultou na morte de deputados da oposição, além de eclodir um conflito que vitimou centenas de civis que realizaram protestos na capital Moscou.

Após esse evento, Boris Yeltsin reduziu ainda mais os poderes do legislativo e aumentou a autonomia do executivo. Em 1996, ocorreram as eleições presidenciais, que dividiram o país entre Yeltsin, de partido independente, e Gennady Zyuganov, do Partido Comunista da Federação Russa, herdeiro do antigo Partido Comunista da União Soviética. A situação tentou vincular Zyuganov ao comunismo da era soviética, enquanto a oposição utilizava o exemplo chinês como a possibilidade de aliar um regime socialista às transformações capitalistas. A corrida eleitoral foi até o segundo turno, que foi vencido por Yeltsin e sua plataforma neoliberal. Observadores internacionais apontaram para fraudes nessas eleições, o que nunca pôde ser realmente desmentido por conta da pouca tradição democrática do país.

O governo russo continuou implementando uma política econômica arriscada de desvalorização cambial, a fim de atrair dólares para a economia da Rússia. Os títulos da dívida eram negociados a taxas de juros altíssimas, induzindo investimentos especulativos - aqueles que nada produzem, apenas apostam em lucros altos e rápidos. Outros investidores e mesmo o governo dos EUA acreditavam que compensaria investir no país, pois havia uma possibilidade remota do governo russo utilizar o seu arsenal nuclear como garantia de pagamento das dívidas, o que nunca foi, de fato, realizado. O resultado desse processo foi a crise econômica russa de 1998, quando Yeltsin decretou a moratória da dívida externa do país, que implicou na renegociação de mais de US$ 32 milhões. Pouco depois, em 1999, os problemas de saúde de Boris Yeltsin se agravaram, obrigando-o a se afastar da presidência e fazendo seu vice-presidente, Vladimir Putin, assumir o controle do país em 31 de dezembro de 1999. 

*Créditos da imagem:Mark III Photonics e Shutterstock


Júlio César Lázaro da Silva
Colaborador Brasil Escola
Graduado em Geografia pela Universidade Estadual Paulista - UNESP
Mestre em Geografia Humana pela Universidade Estadual Paulista - UNESP

Escritor do artigo
Escrito por: Júlio César Lázaro da Silva Escritor oficial Brasil Escola

Gostaria de fazer a referência deste texto em um trabalho escolar ou acadêmico? Veja:

SILVA, Júlio César Lázaro da. "Leste Europeu: Países que formaram a URSS – Parte - IV"; Brasil Escola. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/geografia/leste-europeu-paises-que-formaram-urss-parte-iv.htm. Acesso em 02 de novembro de 2024.

De estudante para estudante