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A palavra revolução traz a ideia de mudança, transformação, questionamento e alteração drástica de uma ordem, de uma situação, quebra de um paradigma. No entanto, a despeito dessa possível definição, o que se pode afirmar é que, em relação à chamada Revolução Industrial, esse processo não ocorreu do dia para a noite, mas alcançou seu ponto alto no século XVIII, mais especificamente na década de 1780, que seria considerada como o ponto de partida de uma nova forma de produção da vida material, agora mais ágil e capaz de atender à necessidade de todos. Segundo Hobsbawm, “este foi provavelmente o mais importante acontecimento na história do mundo, pelo menos desde a invenção da agricultura e das cidades” (HOBSBAWM, p. 52, 2007). A conjugação de vários fatores sociais, econômicos e políticos levaria a Europa a redefinir não apenas sua história, mas a de todo o globo.
A Inglaterra foi o berço da Revolução Industrial. A Grã-Bretanha tinha uma economia razoavelmente forte e com um Estado liberal em busca de novos mercados, competindo com outros países. Ao se pensar o pioneirismo da Inglaterra no processo da Revolução Industrial, deve-se levar em consideração não apenas sua superioridade em termos de desenvolvimento científico (pois outros países, a exemplo da França, eram mais desenvolvidos), mas sim as transformações políticas pelas quais já havia passado, bem como as práticas comerciais burguesas, que foram muito necessárias para a acumulação de capital e para o desenvolvimento da ciência – fundamental para a produção de novas tecnologias de produção. Para Hobsbawm, “o sucesso britânico provocou o que se podia conseguir com ele, a técnica britânica podia ser imitada, o capital e a habilidade britânica podiam ser importados.” (HOBSBAWN, 2007, p. 51).
Ainda segundo o historiador, “as condições adequadas estavam visivelmente presentes na Grã-Bretanha, onde mais de um século se passara desde que o primeiro rei tinha sido formalmente julgado e executado pelo povo e desde que o lucro privado e o desenvolvimento econômico tinham sido aceitos como os supremos objetivos da política governamental”. (Ibidem, p. 54).
O modo de produção da vida material característico da Europa Medieval estava cada vez mais fadado ao fim, isto é, as atividades de trabalho com o objetivo de autossustento começaram a dar lugar à produção em escala. “Com a associação da máquina à força do vapor ocorreu uma modificação importante no método de produção. O aparecimento da máquina movida a vapor foi o nascimento do sistema fabril em grande escala. Era possível ter fábricas sem máquinas, mas não era possível ter máquinas a vapor sem fábricas”. (HUBERMAN, 1986, pg. 172). Dessa forma, inaugurava-se uma nova fase do capitalismo, ou seja, com o fim do capitalismo mercantil, abria-se espaço para o surgimento daquele de caráter industrial. Vale dizer que um dos aspectos que caracterizaram o início do processo de expansão da industrialização pelo mundo foi a produção de mercadorias de consumo de massa, principalmente produtos têxteis, dado o aumento significativo das demandas.
O aumento das demandas estava ligado também ao processo de crescimento populacional e a urbanização. Como se sabe, o processo de urbanização das cidades foi ampliado, formando-se grandes centros urbanos e, dessa forma, houve a modernização dos transportes com a implantação de estradas e ferrovias. Além das transformações em termos de infraestrutura e nos modelos de produção propriamente ditos, também houve outra mudança significativa referente à agricultura: o fim dos campos abertos a todos (tão característicos da Idade Média) para dar lugar à propriedade privada a fim de promover o abastecimento das cidades.
Com o advento da industrialização, a geopolítica mundial sofreria alterações anos mais tarde, isso em virtude do chamado neocolonialismo, caracterizado pelo domínio e exploração dos continentes mais pobres pelas potências do centro do capitalismo. Assim, a Revolução industrial foi uma das revoluções burguesas que definitivamente redesenhariam não apenas a forma de produzir a vida material, mas as relações humanas, as relações sociais de produção: passagem de uma sociedade estamental para outra de classes.
Paulo Silvino Ribeiro
Colaborador Brasil Escola
Bacharel em Ciências Sociais pela UNICAMP - Universidade Estadual de Campinas
Mestre em Sociologia pela UNESP - Universidade Estadual Paulista "Júlio de Mesquita Filho"
Doutorando em Sociologia pela UNICAMP - Universidade Estadual de Campinas