PUBLICIDADE
Dentre as datas cristãs mais conhecidas está a Páscoa, momento em que o cristianismo celebra a consumação do sacrifício de Deus encarnado em homem para a salvação da humanidade. Segundo o cristianismo, com a morte de Jesus e sua ressurreição ao terceiro dia, a vitória da luz sobre as trevas estaria consumada, o que sugere ser a Páscoa um momento de renovação e renascimento, de festa em nome da esperança.
Contudo, a despeito de sua importância para os cristãos, trata-se de uma data de origem ainda bastante discutida entre especialistas, mas que, em linhas gerais, parece haver consenso quanto a sua importância para o povo judeu desde os tempos do fim da diáspora (fuga do Egito quando eram escravos). Segundo consta, a palavra Páscoa vem do substantivo pesah e o verbo pasah (de mesma raiz verbal) significa passar por cima, saltar por cima, conforme aponta do teólogo Tércio Machado Siqueira. Assim, a Páscoa seria a celebração judaica por se ter passado pela escravidão e alcançado a terra prometida, como se vê nas citações da Páscoa nos textos do Antigo Testamento. Logo, o que se entende é que a data foi incorporada pelo cristianismo pelo fato de que a crucificação de Jesus ocorreu no período Pascal.
Além disso, haveria certa relação em termos de significação e sublimação desta data para ambas as religiões (Cristianismo e Judaísmo), uma vez que Páscoa estaria sempre ligada à ideia de redenção e de passagem, seja pelo sucesso da fuga do Egito pelos hebreus, seja pela ressurreição de Cristo. De toda forma, é preciso considerar também que estas marcações nos calendários das primeiras organizações sociais que se têm notícia (como as que viviam no oriente médio, por exemplo) tinham como finalidade indicar os períodos importantes para a produção agrícola, a exemplo do início da Primavera. Para o cristianismo, mas especificamente para a Igreja Católica, a Páscoa é também a marcação do fim da quaresma, período este que se inicia com a quarta-feira de cinzas, no qual se propõe uma maior constrição e reflexão por parte dos fiéis, aludindo-se ao período em que Cristo teria ficado no deserto durante quarenta dias e quarenta noites.
Porém, se a Páscoa do ponto de vista cristão é vista como o momento da reflexão acerca do renascimento, isso ajudaria a pensar porque as figuras do coelho e do ovo se fazem presente neste contexto: ambos remetem à ideia da fertilidade, do nascimento. Como se sabe, entre algumas culturas era comum o presentear com ovos decorados artesanalmente, o que mais tarde se transformou em mais uma mercadoria a ser explorada pela lógica capitalista. Confeiteiros franceses, segundo consta já no século XVIII, lançaram os primeiros ovos de chocolate, os quais hoje acabaram por usurpar o sentido da Páscoa, muito mais lembrada por tais guloseimas do que por seu sentido religioso entre as pessoas de modo geral. Aliás, com o desenvolvimento do capitalismo, como se sabe, a mercantilização de todas as esferas da vida foi uma consequência direta. Até mesmo os símbolos mais tradicionais das culturas populares tornaram-se assim produtos, coisas do mundo do consumo, e dessa forma soterrando-se seus significados primeiros.
Sendo assim, os significados da Páscoa para a cultura ocidental foram se moldando ao longo do tempo, mas ao que parece, cada vez (assim como outras datas e outros símbolos) está mais longe das origens, esvaziando-se em termos dos significados mitológicos, religiosos, confundindo-se com uma data comercial para exploração de um produto. Neste caso, o chocolate.
Paulo Silvino Ribeiro
Colaborador Brasil Escola
Bacharel em Ciências Sociais pela UNICAMP - Universidade Estadual de Campinas
Mestre em Sociologia pela UNESP - Universidade Estadual Paulista "Júlio de Mesquita Filho"
Doutorando em Sociologia pela UNICAMP - Universidade Estadual de Campinas