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Se ao pensarmos em regras somos remetidos à ideia de um código escrito de leis e normas, do ponto de vista do comportamento humano (no sentido de sua manifestação), as regras não são, necessariamente, escritas. Logo, enquanto uma regra não escrita, podemos pensar na definição de etiqueta social.
Obviamente, existem os manuais de etiqueta produzidos para aqueles que a veem como uma prática fundamental à vida social, mas, ainda assim, sabemos que num primeiro momento esses comportamentos nascem da prática, das convenções passadas entre gerações, tornando-se regras, propriamente ditas, em manuais, apenas posteriormente. Dessa forma, podemos dizer que, em linhas gerais, a etiqueta trata-se de uma espécie de convenção social sobre como um indivíduo deve se comportar em determinadas situações ou circunstâncias, pois seriam ações dotadas de significado social.
Porém, esse significado deve ser compartilhado entre os pares, os quais certamente serão de uma mesma cultura, de uma mesma classe social, enfim, os quais farão parte de algum grupo social no qual existirá certamente uma ideia de pertencimento e de reconhecimento entre eles. Dessa forma, tal comportamento teria um sentido de “dever”, sendo assim objeto de uma expectativa social. Isso explicaria por que para alguns a etiqueta social existente entre os mais ricos é tão relevante, enquanto que, para outros, ela não passaria de mera frivolidade, uma vez que tais indivíduos não compartilham de determinados valores ou visão de mundo.
Tais regras comportamentais estariam direcionadas ou relacionadas a vários aspectos pertinentes às relações sociais e ao cotidiano das pessoas. Preocupações, como com a definição de tipos de vestimentas mais adequadas para determinadas ocasiões, com a linguagem verbal de tratamento a ser utilizada, com a linguagem não verbal (expressa pelo corpo), entre outras questões, são apenas alguns exemplos. Considerando-se que a etiqueta social pode cumprir certa função para a vida em sociedade, são muitos os significados que tais práticas e ações podem assumir, desde a manifestação da cordialidade, do respeito ao outro, até mesmo à expressão da ostentação de certo poder ou posição social por alguém.
Se a etiqueta social pode ser associada à ideia de uma convenção ou de uma regra social, ao mesmo tempo poderia estar ligada ao conceito de fato social discutido por Emile Durkheim. Os fatos sociais são construídos pela consciência coletiva, a qual é formada não apenas pela soma, mas pela interação constante de todas as consciências individuais. Eles dizem respeito às formas e maneiras de agir e de pensar dos homens. Assim, os fatos sociais (como diria Durkheim), ou mais especificamente as regras sociais de convivência, acabam por exercer uma pressão, isto é, um poder coercitivo, sobre cada pessoa.
Dessa forma, a etiqueta social nada mais é do que um conjunto de regras elaboradas culturalmente e que varia conforme o contexto histórico e social, cumprindo certa função na vida coletiva. Não se trata de privilégio de uma classe social ou de um grupo (embora possa se afirmar que as regras mais complexas e elaboradas estejam associadas aos padrões de vida dos mais abastados). Assim, da mais refinada etiqueta dentre os mais ricos às convenções mais corriqueiras da vida do homem simples é possível dizer que há, em algum nível, regras consideradas como boas e necessárias à convivência.
Paulo Silvino Ribeiro
Colaborador Brasil Escola
Bacharel em Ciências Sociais pela UNICAMP - Universidade Estadual de Campinas
Mestre em Sociologia pela UNESP - Universidade Estadual Paulista "Júlio de Mesquita Filho"
Doutorando em Sociologia pela UNICAMP - Universidade Estadual de Campinas