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A experiência da amizade e sua importância são definidas de acordo com cada contexto histórico específico, que inclui os aspectos sociais, mas também da família, da religião, da política e da cultura de cada determinada época.
Alguns autores afirmam que as relações de amizade têm passado por mudanças significativas na atualidade: a troca de experiências e os momentos de convivência e diversão, que no passado estavam centrados nos momentos de convivência familiar, agora se encontram voltados para as relações sociais, em especial entre pares. Pares são pessoas que compartilham algum tipo de característica, como a idade, o sexo ou a escolaridade.
Podemos dizer então que historicamente vem sendo atribuída maior importância às relações extrafamiliares, nos grupos de pares. Esses grupos acabam por se tornar as principais agências socializadoras dos indivíduos, já que é a partir da inscrição em grupos que esses sujeitos podem compartilhar suas experiências. É também a partir desse processo que são aprendidas normas e regras da vida em sociedade, por isso, o grupo de amigos é considerado por alguns autores como sendo a principal fonte de referência comportamental de muitas crianças e adolescentes.
A relação com os amigos em algumas fases do desenvolvimento pode ser descrita como a principal mediação entre os indivíduos e o mundo: é a partir das representações compartilhadas que são construídos os significantes de cada experiência cotidiana.
Pesquisas ao redor do mundo têm buscado explicar a importância da amizade em situações extremas como: problemas familiares (separação, divórcio, falecimento de um parente), doenças físicas e momentos de sofrimento psíquico. Segundo alguns autores, as relações de amizade funcionariam como válvula de escape. Para outros, elas seriam objeto importante de investimento de energia libidinal, tornando-se prioridade em algumas fases do desenvolvimento, que são caracterizadas justamente por essa preferência por relações para além do ambiente familiar, no caso os amigos da escola, do trabalho e de outros tantos grupos, uma vez que os sujeitos se colocam em busca de certa autonomia em relação a seus pais, buscando encontrar seu lugar no mundo.
A inserção nesses diversos grupos de amigos proporciona uma ampliação no universo social de crianças e adolescentes, uma vez que favorece experiências diante de novas formas de ver o mundo, a partir da relação com interações sociais e afetivas diferentes daquelas estabelecidas com a família. Segundo algumas pesquisas, o tempo que as crianças e adolescentes passam rodeadas de amigos é três vezes maior que o dos adultos.
A sociedade contemporânea vivencia ainda novas formas de relacionamento social, como as amizades vivenciadas a partir de redes sociais e outras tecnologias de comunicação. Investigações acerca da estruturação e funcionamento dessas redes mostram que elas dependem, em muito, da manutenção de “laços fracos”: colegas, amigos aleatórios, conhecidos, contatos, uma vez que esses tipos de laços favorecem a aderência a diversos grupos diferentes. Essas pesquisas mostram a importância, por exemplo, dos “amigos em comum” que multiplicam o número de “amigos” de uma pessoa em escalas quase que ilimitadas. Algumas pesquisas em neurologia apontam inclusive para uma adaptação cerebral a esse tipo de relação. Segundo esses estudos, o cérebro humano estaria sendo preparado para lidar da mesma forma com amizades presenciais e virtuais.
Outros estudos apontam para as diferenças entre esses relacionamentos. Em suas conclusões, pesquisadores indicam a insuficiência afetiva dessas relações, tornando os contatos artificiais e com pouca intimidade.
Por mais divergente que sejam as opiniões, não podemos descartar o potencial de influência das relações humanas. Independentemente da forma como se dá a relação, ela acaba sendo determinante para a inserção do indivíduo numa forma específica de ver, sentir, conhecer e compartilhar o mundo, e essa dimensão é fundamental para a constituição do ser humano.
Juliana Spinelli Ferrari
Colaboradora Brasil Escola