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Nada.
Gostaria de começar essa coluna com outra resposta. Maior. Não conheço algo mais extenso. É impossível. Não que o Brasil vá parar, vá morrer, vá sumir numa dessas esquinas da vida. Mas no virar da folhinha, ao passar a página do calendário, correndo as vistas pelas datas do notebook, vi que falta ao governo o que qualquer ser vivo precisa para crescer: planejamento. As árvores fazem isso, os peixes, aves e pessoas. Nossos governos, e ao referir à governo norteio o executivo e legislativo, não. Parece que navegam de acordo com a maré, sem qualquer objetivo que fosse traduzido em planejamento e determinação.
Comprei, em uma dessas lojas de R$1,99, uma bola de cristal falso. O vendedor me garantiu que funciona. Graças a ela estou escrevendo essa coluna de presságios. Funcionou mesmo. Aquele vendedor sabia o que dizia e o que vendia. Conhecia seu trabalho, queria ganhar seus trocados. Por essa pequena quantia consegui viajar pelo Brasil político. Fiquei olhando para a bola de cristal falso, horas a fio, com fé nas palavras do vendedor tão animado; perguntando pelo Brasil, pelos políticos, pela política. Ela mostrou tudo, ou seja, nada.
Daí pensei que fosse coisa da minha cabeça. Coisa de quem inicia o ano meio de cara amarrotada. Não era. A falsa bola de cristal falava a verdade. Como a dizer “é isso aí, chefe, engula essa!”. Mas por quê? Nada é muito, nada é uma totalidade, nada escapa do nada, é um abismo dentro de outro abismo. Mas a questão política brasileira não é diferente disso. Nem um pouco. Se olharmos o passado vemos que um gato pingado aqui e outro ali fez alguma coisa. Nada de tão importante. E sabem por que somos os melhores da América do Sul? Porque os outros são os piores! Essa é a nossa lógica, essa conta infantil nos persegue forjando história. Corremos adiante do nada. A culpa é dos políticos. Outra frase banal, mas que a bola falsa mostrou ser fidedigna.
O que esperar de quem vota uma coisa aqui, dá o nome de uma praça ali, remenda um buraco acolá? O que pretender daqueles que usufruem do dinheiro público? Como acreditar em algo que não aponta nem no horizonte mais longínquo? O que temos é uma espécie de aberração política, um corpo vivo que só tem pernas e caminha sem rumo, por conta própria, ao sabor da sorte.
De tudo que vimos no ano passado, na década passada, no milênio passado, tudo que resvalou na necessidade política andou como essa aberração. Foi.
Esse corpo, essa bola falsa, toda essa esquisitice toda apareceu de um interessante lugar: daquela maquininha prática que corta esse Brasil todo: das urnas: da nossa mão.
Só para acabar com seu dia pergunto: responda agora, em quem você votou? Pode ser para síndico do seu prédio, D.A da faculdade, pior programa de culinária. Aceito a resposta. Difícil não? Então somos uma soma de coisas, uma perspectiva de futuro, um caminho trançado nas nossas indecisões políticas.
Vejo que a bola começa a se transformar, não era uma falsa bola falsa. Falsa era a minha interpretação de achá-la falsa. Ela apenas mostrou reflexos. Um nada. Esse “nada” tem uma origem. Um grande e imenso “tudo”. Um outro descaso com coisa séria, sem planejamento e compromisso. Um outro nada de que nada aprende com as lições deixadas nos tapetes do entra ano e sai ano.
A bola vai para meu armário, quem sabe um dia eu voto nela para qualquer coisa. Prometo que dessa não esquecerei. Nem das suas límpidas e transparentes revelações.
Por Divino Advíncula
Colunista Brasil Escola