Observe a pronúncia da palavra a seguir:
SUAVE
Existem duas possibilidades de falarmos essa palavra:
(1) su-a-ve
ou
(2) sua-ve
Em (1), observa-se a pronúncia de um hiato e, por isso, a presença de duas vogais. Já em (2), percebe-se a presença de um ditongo crescente, ou seja, um encontro vocálico composto por uma semivogal e uma vogal que pertencem a mesma sílaba.
Essas duas pronúncias são possíveis e aceitáveis em língua portuguesa por causa do fenômeno conhecido como sinérese. Assim, definimos esse fenômeno como: a mudança das vogais de um hiato para um ditongo crescente.
Veja mais alguns exemplos:
PIEDOSO
pi-e-do-so
ou
pie-do-so
LUAR
lu-ar
ou
luar
CIÚME
ci-ú-me
ou
ciú-me
ATENÇÃO! A sinérese é um fenômeno mais comum do que a diérese e pode ser encontrada em diversos poemas a partir do século XVI. Observe um trecho do poema de Antero de Quental:
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À Virgem Santíssima
Cheia de Graça, Mãe de Misericórdia
(...)
Não era o vulgar brilho da beleza,
Nem o ardor banal da mocidade...
Era outra luz, era outra suavidade,
Que até nem sei se as há na natureza...
(...)
Na contagem das sílabas poéticas, temos dez sílabas em cada verso:
não/ e/ra o/ vul/gar/ bri/lho/ da/ be/le//
nem/ o /ar/ dor/ ba/ nal/ da/ mo/ ci/ da//
e/ra ou/ tra/ luz/ e/ra ou/ tra/ sua/ vi/ da//
que a/ té/ nem/ sei/ se as há/ na/ na/ tu/ re/ za//
Perceba que no terceiro verso há a transformação do hiato em ditongo para que seja preservada a métrica do poema, ou seja, para que haja uma igualdade de números de sílabas poéticas (isometria). Assim, a sinérese ocorre quando pronunciamos um hiato como um ditongo.
Por Mariana Rigonatto
Graduada em Letras