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Mães na Universidade: universitária de 66 anos conta sua história

Mães na Universidade: Soraia, depois de ver três filhas conquistarem o ensino superior, decidiu que agora era sua vez. Veja sua história!

Em 02/10/2024 09h30 , atualizado em 03/10/2024 12h38
Mãos de uma pessoa mais velha seguram livros em referência às mães na universidade.
Das 11 milhões de mães solo no Brasil, apenas 12% são mães que estão na universidade. Crédito da Imagem: Shutterstock
Ouça o texto abaixo!

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Mães na universidade. O que você sente ao ler essa expressão? Talvez estranheza, talvez esperança. Há, no senso comum, a ideia de que a universidade é um local reservado para os jovens (que ainda são filhos e filhas).

De fato, após se tornar mãe, os desafios de cumprir com uma graduação aumentam consideravelmente. Ainda mais na realidade brasileira em que 11 milhões de mães são mães solo, ou seja, cuidam de seus filhos sem participação dos pais. Desse total de mulheres, apenas 12% são universitárias.

Mas esses empecilhos e obstáculos não conseguem impedir todas as mães de alcançar o tão sonhado ensino superior, mesmo depois de atingirem a terceira idade. Exemplo disso é Soraia Tineui, aluna com 66 anos e mãe de três filhas, que está no 2º segundo semestre de turismo na Unesp.

Soraia Tineui, mãe e aos 66 anos de idade, foi aprovada na Unesp.
Créditos: Acervo Pessoal

O interesse pelo ensino superior

Soraia nos conta que sempre desejou fazer uma faculdade, mas precisou trabalhar e criar suas filhas praticamente sozinha. Mesmo sem o ensino superior, ela conseguiu que suas três filhas se formassem: duas em economia e uma em ciências contábeis.

Ela nos conta que concluiu o ensino médio pelo EJA (Educação de Jovens e Adultos) e depois ficou sabendo de um projeto chamado Educafro, um cursinho voltado para pessoas negras. Após meses de estudo, ela conseguiu ser aprovada na Unesp. Soraia também contou que pensou em desistir do projeto uma vez, mas uma filha sua a motivou para que ela fosse até o final.

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Rotina no ensino superior

A grade do curso de turismo é integral. Soraia conta:

“Tem aulas durante o dia e duas ou três vezes por semana tem a noite também. É muito puxado! Mas,é isso ou a depressão que eu tinha.”

Ela explica que, mesmo sentindo cansaço, se sente feliz na universidade, pois lidava com a depressão há muitos anos e, hoje, esse não é mais um problema no seu dia a dia. Soraia diz que convive com uma colega na faixa etária dos 40 anos que afirma também ter se livrado da depressão ao entrar na faculdade.

Inclusive, a universitária afirma que aceitou conceder a entrevista porque sabe que muitas mulheres lidam com esse problema quando os filhos saem de casa e elas ficam sozinhas. Ela disse:

“O que fazer? Vai estudar! Tem que estudar, sabe? É uma outra vida, né!?”

Desafios e ajuda nos estudos

Quando Soraia começou o cursinho na Educafro, ela conta que foi bem recebida. Esse cursinho possui profissionais como psicólogas e assistentes sociais, que foram muito úteis na preparação da Soraia para o vestibular.

Ela disse:

“Eles levantaram minha bola, sabe? Educafro é educação para afrodescendentes. É uma ONG do Brasil inteiro e todos os funcionários são voluntários. É uma organização que vou te falar, viu?! Nunca vi uma coisa tão bem organizada!”

Uma preocupação que Soraia tinha era a competição com os mais jovens, mas ela revelou que logo percebeu que a experiência de vida que ela tinha ajudava muito na resolução das questões do vestibular, principalmente as de humanas.

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Trajetória antes do vestibular

Soraia foi mãe pela primeira vez aos 20 anos e criou suas três filhas sozinha. Ela conta que trabalhou com vendas, como recenseadora do IBGE e em uma instituição de ensino superior no Paraná, além de outras coisas. Até que foi acometida por um câncer na laringe e teve que ficar parada. Foi quando sua depressão começou.

O câncer avançou e deu metástase cervical. Por conta da radioterapia, Soraia também teve um AVC e depois de tudo ela ainda teve que lidar com outro câncer nos ovários. Ela superou as doenças, retirou o câncer e depois lidou com a depressão, que só se resolveu quando voltou a estudar.

Ela declarou:

“Não sei se sou guerreira, a vida facilita algumas coisas quando você quer, principalmente agora essa minha ida para a faculdade, foi um fator que mudou minha vida.”

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Novas descobertas aos 66 anos

Pergunto qual foi a maior descoberta de Soraia ao entrar na faculdade e ela respondeu rapidamente:

“Existe outro mundo!”

Ela diz que foi muito bem recebida na faculdade pelos alunos e professores. Mas também revela outra história:

“Inclusive, tem um senhor que trabalha limpando a faculdade, ele passou na faculdade, só que não entrou. Ele falou que teve medo de ser julgado e não foi.”

Soraia diz que é a “queridinha” da faculdade e elogia o tratamento que teve desde o cursinho até após ingressar na faculdade. Diz que tem dificuldades na estatística, mas muitos alunos se propuseram a ajudá-la na matéria, assim como com inglês e espanhol, matérias com as quais Soraia está tendo contato pela primeira vez.

Projetos para o futuro

Soraia revela que seu próximo objetivo é fazer intercâmbio, e os destinos que estão em sua mente são Cuba, Egito, Portugal, além de outros países. A época de fazer intercâmbio é no segundo ano da faculdade, 2025 para Soraia; por isso, ela já monitora as oportunidades que irão se abrir.

Conselhos para quem luta contra a depressão

Soraia, por fim, fala sobre outra vontade sua e compartilha um conselho para quem luta contra a depressão:

Eu só queria que muitas mulheres que estão na situação em que eu estava, uma depressão horrível, pensando “não tem saída”, saibam, tem sim! Ir para a faculdade é uma coisa nova. Você ocupa sua mente com coisas positivas. É a única coisa que mulheres da minha idade podem fazer. Vai fazer o que mais? Beber? Eu já bebi, mas não bebo mais. Vai para baile? Tudo furada… Vai estudar, eu acho! Posso estar enganada, mas é o que eu acho.”

Ela também disse que está disposta a conversar com quem precisar de mais conselhos. Para entrar em contato com ela, você pode mandar um WhatsApp para (11) 98119-5571.

Por Tiago Vechi

Jornalista