Notificações
Você não tem notificações no momento.
Whatsapp icon Whatsapp
Copy icon

Dia das mulheres na engenharia: conheça a história de Aline Guasti, engenheira civil

Conheça mais sobre a realidade e os desafios que as mulheres enfrentam na área profissional da engenharia

Em 23/06/2024 07h00 , atualizado em 23/06/2024 07h00
Mulher engenheira trabalhando em alusão ao Dia das Mulheres na Engenharia
Mulheres vem conquisatndo seu espaço dentro da engenharia Crédito da Imagem: Shutterstock
Ouça o texto abaixo!

PUBLICIDADE

O dia das mulheres na engenharia é hoje, dia 23 de junho. É um momento para refletir sobre os desafios que as mulheres precisam enfrentar dentro um setor profissional dominado por homens. 

Elas têm de lidar desde problemas perceptíveis como o desrespeito e o assédio, até adversidades que passam, quase sempre, despercebidas, como desigualdade salarial e falta de compreensão com a maternidade. Mesmo com todos estes desafios, as engenheiras não se intimidam e continuam conquistando seus espaços dentro da engenharia. 

Em 2019, segundo o Conselho Federal de Engenharia e Agronomia (Confea), as mulheres eram 12% dos Conselhos Regionais de Engenharia e Agronomia (CREAs). Atualmente, esse número é de 20%, ainda que seja uma cifra tímida, representa um aumento de mais de 50% em 5 anos. 

Na busca de entender a vida profissional das mulheres na engenharia, conversamos com Aline Guasti, fundadora do projeto "A metamorfose das mulheres que constroem", sócia e CEO da MConsult engenharia.

Aline Guasti. Créditos: acervo da MConsult Engenharia - Fotografo André Rêgo

Veja tudo que descobrimos!

A decisão de cursar engenharia

Começamos tentando entender quando surgiu o interesse da Aline pela engenharia civil. Ela nos conta que, na verdade, foi a engenharia que a escolheu. 

Sua trajetória profissional começou como vendedora de sapatos, quando ainda estava em idade escolar. Até que um dia foi aprovada em um concurso na prefeitura de Santana de Parnaíba, para atuar na área da educação. Essa aprovação foi o que possibilitou ela arcar com os custos de uma graduação.

Aline tinha o desejo de entrar na faculdade, mas não tinha ideia do curso que ia fazer. Prestou vestibular na UNIP e foi aprovada para ciências biológicas, entretanto, na hora da matrícula, descobriu que não tinha aberto turma para o horário noturno, que era o que ela precisava para poder continuar trabalhando.

A faculdade, então, permitiu que ela escolhesse outra graduação com disponibilidade de turmas a noite. Foi aí que ela se encontrou com a engenharia civil e mesmo com várias pessoas dizendo que ela seria incapaz de se formar, Aline seguiu em frente e tornou-se engenheira civil.

Desafios das mulheres na engenharia

Aline afirma que há muitas barreiras para as mulheres na engenharia, mas que elas são disfarçadas por conta dos interesses das empresas. Ela também nos fala sobre o projeto voltado para mulheres na engenharia que é fundadora:

"Vou te falar no contexto de uma mulher que representa outras mulheres, não mais só a Aline, mas como fundadora do primeiro ecossistema de mulheres da construção civil que tem quase 100 mulheres cadastradas e, nesse um ano de vida do projeto, já passaram quase 1.000 mulheres."

Evento: Edição comemorativa de 1 ano do projeto "A Metamorfose das Mulheres que Constroem". Créditos: acervo da MConsult Engenharia - Fotografo André Rêgo

Em seguida, Aline declara que se as mulheres precisam ainda lutar por igualdade salarial, é porque elas não recebem o mesmo respeito dos homens. Então, ela elenca algumas das descriminações que as mulheres enfrentam dentro da engenharia:

"Se eu tenho que lutar pela extinção da descriminação, pela falta de oportunidade para ocupar cargos de liderança, se eu não consigo romper todas essas questões comportamentais e sociais, então, eu entendo que eu não vivo só com uma ou duas barreiras, eu vivo segregada de um universo que deveria ser integrado"

Ela continua:

"Eu enxergo que nós não temos só barreiras, nós temos mundos diferentes, que não deveriam existir. A pegunta é: quando isso vai acabar?

Porque formas de distinguir esses comportamentos existem, o que eu percebo é que existe muita maquiagem e falas veladas, institucionais, tomadores de decisão que poderiam fazer com que esses dois universos (do homem e da mulher), trabalhassem em prol de uma sociedade unificada"

Não pare agora... Tem mais depois da publicidade ;)

Quais recursos as mulheres têm para se proteger?

Ao ser questionada sobre os recursos que as mulheres têm para combater estes desafios estruturais e possíveis assédios, Aline apresentou um problema, a deficiência de dados relacionados às mulheres na engenharia. Ela declarou:

"Quando nos falamos da mulher que sofre violência dentro do ambiente da engenharia (qualquer engenharia), nós temos que colocar foco que não é só a mulher engenheira que trabalha no ambiente da engenharia. 

Nós temos a colaboradora do café, da limpeza, a técnica de segurança, encarregadas, temos várias mulheres ocupando papéis diferentes dentro desse ambiente. Então, há violências de várias formas, e elas não são quantificadas e nem qualificadas.

O que significa, que as mulheres violentadas não registram isso através de Boletim de Ocorrência. Muitas vezes, as mulheres não sabem diferenciar, não sabem se são violentadas ou não. No ambiente, se tornaram comum as falas machistas e preconceituosas."

Aline explica que, ainda em 2024, quando ela faz eventos voltados para mulheres, é perceptível a dificuldade delas em identificar quais as violências elas lidam diariamente, por conta da falta de conhecimento. Ela disse:

"Elas convivem tanto com aquilo que um ambiente tóxico passa a ser algo comum, o que não deveria existir!"

Ela diz que quando dá exemplos de falas violentas do meio de trabalho, é que muitas mulheres percebem o que já vinha acontecendo há anos. Essa normalização da violência, segundo Aline, é que mascara a verdadeira situação das mulheres na engenharia.

Perdas por ignorar as mulheres

Do ponto de vista da Aline, as habilidades dos homens e das mulheres são complementares umas as outras. Ela dá como exemplo a capacidade feminina de gerir várias atividades distintas ao mesmo tempo, e a habilidade de apresentar soluções para problemas complexos.

Ela diz que as mulheres são muito hábeis para a inovação, e que quando se exclui a mulher de um ambiente você força que sejam repetidos os mesmos comportamentos sociais, o que atrapalha o processo de inovação. A engenheira também elogia a capacidade analítica dos homens e finaliza sua resposta:

"Então, homens e mulheres trabalhando juntos seria o combo perfeito. Mas, isso ainda está longe de acontecer no ambiente da engenharia"

Engenharia e maternidade

Ao falar sobre os desafios enfrentados pelas mulheres dentro da vida profissional na engenharia, é necessário refletir sobre a maternidade. Aline é mãe de um garoto de 4 anos diagnosticado com autismo, ela compartilhou conosco tudo que teve que superar para poder ser mãe e engenheira:

"Eu tive, de forma velada, duas demissões seguidas de grandes organizações, mesmo trabalhando CLT, sendo respaldada legalmente em poder me ausentar, comprovando que eu tinha atestado para levar meu filho para terapia.

Eu tive, em 9 meses, desligamentos em duas empresas. Isso fez com que, em 2022, decidisse que não ia trabalhar para ninguém. Não é uma decisão fácil"

Ela diz que o fato de ser empresária não foi uma escolha, pois, não havia outras opções viáveis para que ela continuasse cuidando bem de seu filho.  

Dicas para as meninas que querem se tornar mulheres engenheiras

 Para as meninas que querem se tornar engenheiras, Aline aconselha que busquem autoconhecimento e que determinem os locais que elas querem ocupar. Ela declarou:

"Quando você se conhece, quando você sabe o seu valor, você sabe das suas capacidades, você sabe os seus valores, sabe o caráter que você tem, o quanto esforçada você é, você vai se depara com desafios, mas você não vai parar. Eles não serão o suficiente para terminar com a sua jornada"

Ela também revela que será necessário ter persistência, foco e autocuidado, inclusive com o próprio corpo. 

 

Por Tiago Vechi

Jornalista