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Hoje em dia estamos acostumados a ver, volta e meia, em jornais e revistas de grande circulação, imagens do espaço sideral fotografadas pelo telescópio Hubble, o mais potente instrumento de observação astronômica inventado até hoje. Pois bem, muitos e muitos modelos de telescópios foram desenvolvidos ao longo da modernidade para que tivéssemos um modelo de observação de tão grande alcance como o que nos é oferecido pelo Hubble. O primeiro dos modelos de telescópio especificamente criados para finalidades astronômicas foi desenvolvido por Galileu Galilei entre os anos de 1609 e 1610. Desde então, uma verdadeira “revolução” científica e cosmológica começou a se desenrolar.
Galileu Galilei (1564-1642) é tido pela maior parte dos historiadores do pensamento científico como o “pai da ciência moderna”. Isso se justifica pelo fato de ter sido ele não apenas um dos pioneiros na prática da “nova ciência”, da virada do século XVI para o século XVII, mas também o primeiro a elaborar teorias que possibilitaram uma compreensão do funcionamento do Universo radicalmente diferente daquelas da Antiguidade e da Idade Média. Galileu foi além dos estudiosos do Renascimento, que, apesar de terem corroborado a tese de que a Terra não era o centro do Universo, não conseguiram fazer observações e descrições precisas dos corpos celestes tal como Galileu fez. Com tais descrições, Galileu percebeu, inicialmente, as imperfeições da Lua (crateras, sobretudo), que era considerada até então um corpo celeste sem defeitos.
Essas e outras constatações só foram possíveis em virtude do uso que Galileu fez do telescópio, que foi denominado por ele como perspicillum. O telescópio que Galileu inventou tomou como modelo uma luneta criada em 1608 pelo inventor holandês Hans Lippershey a partir das lentes dos primeiros óculos – até então considerados utensílios domésticos comuns. Galileu soube dos detalhes da criação de Lippershey e, com utensílios semelhantes (tubos e lentes), construiu um modelo três vezes mais poderoso que o do holandês. Esse primeiro modelo foi sendo aperfeiçoado por Galileu entre os anos de 1609 e 1610, como ressalta o historiador da ciência Alexandre Koyré:
“Enquanto os Lippershey e os Janssen, que haviam descoberto, por um feliz acaso, a combinação de vidros que forma os óculos de longo alcance, se limitavam a fazer os aperfeiçoamentos indispensáveis e de certo modo inevitáveis (tudo ocular móvel) aos seus óculos reforçados, Galileu, logo que teve notícia da luneta de aproximação holandesa, elaborou-lhe a teoria. E foi a partir desta teoria, sem dúvida insuficiente, mas teoria apesar de tudo, que, levando cada vez mais longe a precisão e o poder dos seus vidros, construiu a série de “perspicilles”, que lhe abriram aos olhos a imensidade do céu.” [1]
Os perspicilles (plural de perspicillum) de Galileu revolucionaram a ciência porque possibilitaram potencializar a observação do olho humano. Os primeiros resultados das pesquisas de Galileu com o uso do telescópio foram publicados já em 1610 com o título de “O mensageiro estelar”. Em 1613, ele publicou a “Carta sobre manchas solares”, onde deixou explícitas as primeiras considerações propriamente científicas a favor da teoria heliocêntrica de Copérnico. Além disso, um ponto importante a ser notado é que, com o uso do telescópio por Galileu, a ciência também passou a existir intimamente conectada com a “técnica”, isto é, com a capacidade do ser humano de ampliar os seus sentidos por meio de inventos, de instrumentos e, com eles, descrever e intervir na natureza, como acentua Koyré:
“Ora, por ricochete, a pesquisa deste fim puramente teórico produziu resultados de importância decisiva para o nascimento da técnica moderna, da técnica de precisão. Pois, para fazer aparelhos ópticos é necessário não apenas melhorar a qualidade dos vidros que se empregam, como determinar-lhes – isto é, medir primeiro e calcular depois – os ângulos de refração.” [2]
Sendo assim, a teoria científica passava a ser uma “irmã gêmea” da tecnologia. Essa interconexão entre teoria e técnica vigora até hoje e se torna cada vez mais presente na nossa forma de compreender o mundo físico, como a passagem do tempo (por meio de invenções como o relógio de precisão) ou a noção de espaço e velocidade ao fazer uma viagem de carro, trem ou avião.
Por Me. Cláudio Fernandes