Barão de Mauá (Irineu Evangelista de Sousa)

O Barão de Mauá foi um dos maiores empresários brasileiros do século XIX, pioneiro da industrialização e da modernização do capitalismo no Brasil.

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O Barão de Mauá, como é mais conhecido Irineu Evangelista de Souza (1813-1889), foi um dos empresários brasileiros mais notáveis do século XIX, pioneiro da industrialização e da modernização do capitalismo no Brasil. Criou empresas, bancos, estradas de ferro, estaleiros e foi o primeiro brasileiro a estabelecer uma ligação telegráfica marítima regular entre o Brasil e a Europa. Tornou-se símbolo do empreendedorismo e da inovação no país.

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Leia também: José do Patrocínio — outro importante personagem da história brasileira no século XIX

Tópicos deste artigo

Resumo sobre o Barão de Mauá

  • Irineu Evangelista de Souza, o Barão e Visconde de Mauá, foi um dos maiores empresários brasileiros do século XIX.
  • Ele nasceu em 28 de dezembro de 1813, na cidade de Arroio Grande, no Rio Grande do Sul.
  • Começou sua trajetória como empresário aos 23 anos, quando se tornou sócio de uma importadora e exportadora.
  • Foi casado com Maria Joaquina de Sousa Machado, sua sobrinha, com quem teve 11 filhos.
  • Investiu em indústrias, ferrovias, telégrafo, estaleiros, tornando-se um empresário vinculado às novas tecnologias, à ciência e ao capitalismo moderno.
  • Alguns feitos importantes do Barão de Mauá:
    • construção da primeira ferrovia brasileira;
    • fundação do primeiro grande banco privado nacional;
    • instalação de um cabo telegráfico submarino, ligando o Brasil à Europa;
    • estabelecimento de um estaleiro que produzia navios a vapor.
  • Esses e outros diversos empreendimentos inovadores lhe renderam a fama de empreendedor visionário e moderno.
  • Acumulou uma enorme riqueza entre os anos de 1850 e 1870, mas chegou ao fim de sua vida, em 1889, pobre, vivendo uma vida digna, mas modesta.
  • Honrou todas as suas dívidas e fez questão que isso fosse divulgado, como um ponto de honra, em sua biografia.

Quem foi o Barão de Mauá?

Retrato de Irineu Evangelista de Souza, o Barão e Visconde de Mauá, em preto e branco.[imagem_principal]
Irineu Evangelista de Souza, o Barão e Visconde de Mauá, foi um importante empresário brasileiro.
  • Nascimento do Barão de Mauá

Irineu Evangelista de Souza, o Barão e depois Visconde de Mauá, nasceu em 28 de dezembro de 1813, na cidade de Arroio Grande, no Rio Grande do Sul, que na época pertencia ao município de Jaguarão. Sua origem pobre e distante dos grandes centros do país à época, que estavam no Rio de Janeiro e em São Paulo, contrastam com o destino de grandes conquistas empresariais que ele viria a construir.

  • Infância do Barão de Mauá

A família de Irineu era de pequenos proprietários rurais que enfrentavam grandes dificuldades econômicas. Seu pai, João Evangelista de Ávila, morreu assassinado em uma emboscada ligada a disputas locais de terra, quando Irineu tinha apenas 5 anos de idade e sua mãe, Mariana de Jesus Batista, passou então a enfrentar sérios problemas financeiros. Após 3 anos de penúria, em 1821, sem condições de sustentar os filhos, sua mãe enviou o menino ao Rio de Janeiro, onde passaria a viver sob os cuidados de um tio, Manuel José de Carvalho.

No Rio de Janeiro, Irineu começou a trabalhar como caixeiro (aprendiz de comércio). Alguns anos depois, o jovem Irineu começou a trabalhar na casa do prestigiado comerciante escocês Richard Carruthers. O trabalho era duro e exigia longas jornadas, mas também proporcionou ao jovem acesso a uma formação prática em negócios, contabilidade e idiomas que seriam valiosos posteriormente, em sua trajetória.

Segundo o historiador Jorge Caldeira, para além dos conhecimentos técnicos, a convivência de Irineu com seu chefe escocês desenvolveu nele um gosto pela ordem, pela pontualidade e pelo mérito individual, valores que o acompanharam por toda a vida. Em um país ainda predominantemente agrário e escravista, com escassas oportunidades de estudo para jovens de origem pobre como ele, Irineu aprendeu, na prática do trabalho cotidiano, os fundamentos do capitalismo moderno, baseado no investimento produtivo e na circulação de crédito.

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  • Juventude do Barão de Mauá

Irineu se mostrou um jovem talentoso e dedicado ao seu trabalho. Aos 14 anos, já dominava as operações básicas de compra e venda, contabilidade e correspondência comercial em inglês, algo notável para um jovem brasileiro nessa época. Aos 17 anos, já era considerado um funcionário de confiança do seu patrão, o escocês Richard Carruthers. Aprendeu a falar fluentemente o inglês e, aos vinte anos, se tornou gerente dessa importante casa comercial britânica em que trabalhava.

Aos 23 anos, em 1836, deu um passo importante na sua carreira e se tornou sócio da casa Carruthers & Cia, quando Carruthers decidiu retornar à Inglaterra. Foi aí, então, que começou sua trajetória como empresário. Em 1840, Irineu fez uma viagem à Inglaterra que lhe permitiu observar de perto as fábricas, estaleiros e tecnologias industriais europeias. Voltou ao Brasil então com a convicção de que o Brasil deveria se industrializar.

Em 1846, aos 33 anos de idade, ele deu início à sua trajetória industrial, pela qual ganhou notoriedade e ainda é lembrado, adquirindo os Estaleiros da Ponta da Areia, em Niterói (RJ), marco inicial do que viria a ser o primeiro grande complexo fabril do Brasil.

Barão de Mauá e outros homens em um barco, a caminho do seu complexo fabril, no Rio de Janeiro.
A gravura retrata o Barão de Mauá em visita aos Estaleiros da Ponta da Areia, que ele adquiriu aos 33 anos de idade.
  • Casamento do Barão de Mauá

Irineu se casou com Maria Joaquina de Sousa Machado em 1841, conhecida pelo apelido familiar de “May”. Ela era filha de sua irmã mais velha, Guilhermina de Souza Machado, de quem havia se distanciado na infância e reatado recentemente, naquele tempo, portanto, ele se casou com sua sobrinha, mas só a conheceu pouco antes do casamento. Esse é um ponto de sua biografia que levantou polêmica em sua época e também nos dias de hoje, compreensivelmente. No entanto, apesar das polêmicas, o casamento entre os dois foi estável e durou até a morte de Irineu, tendo acompanhado tanto seus períodos de glória quanto seu declínio e rendeu para o casal 11 filhos.

  • Filhos do Barão de Mauá

O casal Irineu e Maria Joaquina teve uma família numerosa, fato que era comum nas famílias brasileiras do século XIX. Os dois tiveram 11 filhos. Embora pouco se saiba sobre as trajetórias individuais da maioria deles, há indícios de que alguns trabalharam em empresas ligadas ao pai, como nas companhias ferroviárias e no Banco Mauá. No entanto, com a falência e a dissolução de grande parte dos negócios de Irineu ao longo de 1870 e 1880, a família perdeu o capital e o prestígio econômico acumulados nas décadas anteriores.

Entretanto, mesmo diante das adversidades financeiras do período final de sua vida, Mauá manteve a integridade de seu nome e a coesão familiar. Ele se recusou a declarar falência formalmente e dedicou seus últimos anos a honrar suas dívidas e preservar a reputação da família, dando exemplo para os filhos de que a honra valia mais que a fortuna.

Veja também: Era Vitoriana — período em que a Inglaterra se tornou a nação mais poderosa do mundo

Barão de Mauá como empresário

O nome do Barão de Mauá está fortemente vinculado à ideia de empreendedorismo e do surgimento de uma atividade empresarial moderna no Brasil. Em uma época em que o país ainda dependia quase que exclusivamente da agroexportação e do trabalho escravo, Irineu Evangelista de Souza se destacou como alguém que compreendeu e soube aplicar os princípios do capitalismo moderno, baseados na inovação, no investimento produtivo e na circulação do crédito. A trajetória empresarial de Mauá começou em 1836, quando ele se tornou sócio da importadora e exportadora em que trabalhava.

Entretanto, um momento marcante de sua ascensão se deu em 1846, quando ele fundou o Estabelecimento de Fundição e Estaleiros da Ponte da Areia, em Niterói (RJ), considerado o primeiro grande investimento industrial do país. No local, eram produzidas embarcações, peças metálicas e locomotivas, o que torna esse empreendimento pioneiro no processo de mecanização em território brasileiro.

É importante ressaltar o contexto histórico que favoreceu esses investimentos industriais de Mauá e que ele soube bem aproveitar. No ano de 1844, foi decretada a Tarifa Alves Branco, que ampliava fortemente as tarifas de importação no país, o que serviu como uma medida protecionista para a indústria brasileira poder florescer diante da forte concorrência da indústria estrangeira, especialmente a inglesa.

Mauá rapidamente diversificou seus investimentos. Em 1955, ele, que já estava nos ramos comercial e industrial, partiu para o ramo do mercado financeiro, fundando o Banco Mauá, MacGregor & Cia., uma das primeiras instituições financeiras privadas do Brasil, com filiais espalhadas pelo mundo, tendo agências em Londres, Nova York, Buenos Aires, Montevidéu, entre outras localidades.

Bilhete do Banco Mauá & Cia emitido na Argentina na década de 1860.
O Banco Mauá, MacGregor & Cia. teve várias filiais espalhadas pelo mundo.

Novamente, Mauá soube ler o contexto histórico e dele tirar proveito. A Lei Eusébio de Queirós, de 1850, que proibiu o tráfico de escravizados em território brasileiro, liberou uma quantidade imensa de capital que, até então, estava imobilizado nesse tipo de investimento. Esses capitais excedentes no mercado abriram uma oportunidade de se criar uma instituição financeira para que se aplicassem essas poupanças, e foi o que o banco de Mauá fez: canalizou esse capital antes investido em tráfico de escravizados para novas áreas mais modernas da economia, especialmente a indústria e a infraestrutura de transportes ferroviários e aquáticos.

Uma das iniciativas mais marcantes de Mauá foi a construção da Estrada de Ferro Mauá, inaugurada em 1854, e que foi a primeira ferrovia do Brasil, ligando o porto de Mauá (em Magé, RJ) à Raiz da Serra, com cerca de 14 km de extensão. Nessa época, as ferrovias eram ainda uma tecnologia muito recente, passaram a ser usadas ostensivamente na Inglaterra, onde surgiram, apenas na década de 1830, e eram um símbolo de modernidade e avanço tecnológico.

Na fotografia, barca e trem chegando ao píer Barão de Mauá.
Na fotografia, barca e trem chegando ao píer Barão de Mauá, em Magé, no Rio de Janeiro.[1]

Outra inovação trazida por Mauá foi a implantação do sistema de iluminação a gás do Rio de Janeiro, que ainda era feita por meio de lamparinas acendidas uma a uma por funcionários da prefeitura, todos os dias. Outro avanço que lhe é reputado é a criação do serviço telegráfico conectando o Brasil à Europa por meio da passagem de um cabo telegráfico no oceano Atlântico, que ia do Rio de Janeiro a Portugal.

Todas essas inovações mostram que Mauá não era um empresário comum, focado apenas na lucratividade de suas empreitadas, ele era um homem visionário, que acreditava no progresso técnico e na integração do Brasil ao mundo moderno.

→ Porque o Barão de Mauá faliu?

A ousadia e os negócios inovadores de Irineu, no entanto, o colocaram em choque com os interesses das elites agrárias, escravistas e exportadoras que dominavam o poder no Brasil de então. Mauá representava um projeto de país moderno e liberal em um contexto dominado por uma economia arcaica e dependente. Essa contradição explica uma série de decisões políticas nas décadas seguintes que tornaram os negócios de Mauá cada vez mais insustentáveis e, por fim, o levaram à falência.

Apesar de todo o sucesso econômico que obteve entre as décadas de 1840 e 1860, seus negócios passaram a sofrer com problemas severos de financiamento por conta das consequências econômicas graves e duradouras da Guerra do Paraguai (1864-1870), como o aumento do custo do capital (aumento da taxa de juros) e a redução do crescimento econômico.

Além disso, uma série de decisões políticas foram sendo tomadas em favor dos interesses das elites agroexportadoras, como a redução paulatina de mecanismos de proteção da indústria que vinham da tarifa Alves Branco (1844), por pressão desses poderosos agroexportadores, o que se chocava com os negócios de Mauá que demandavam políticas favoráveis à proteção das indústrias nascentes nacionais.

Revezes particulares em suas empresas, como um grande incêndio em 1857, na sua fundição em Niterói, também foram gerando desafios financeiros cada vez maiores ao seu grupo empresarial. No final, Mauá morreu praticamente sem patrimônio, mas honrou todas as suas dívidas.

Barão de Mauá na política

O Barão de Mauá nunca exerceu cargos políticos durante sua vida, mas chegou a ter muita influência e prestígio junto a autoridades políticas durante um certo tempo. Tinha posicionamentos políticos muito fortes que contrastavam em larga medida com os posicionamentos das elites mais tradicionais do país.

Uma prova de seu prestígio e influência foi o fato de ter sido nomeado barão pelo imperador Dom Pedro II em 1854 e depois elevado a visconde em 1874. Lembrando que o Brasil, no período do Império (1822-1889) possuía uma nobreza, mas não uma aristocracia, isto é, ninguém nascia com título de nobreza, mas os recebia por méritos, segundo os critérios do imperador. Esses títulos não davam nenhum privilégio ao seu detentor, eram apenas um sinal de prestígio e reconhecimento do monarca por suas contribuições ao país.

Mesmo não tendo exercido cargos políticos, Mauá foi um dos principais formuladores de ideias sobre o progresso nacional em seu tempo. Publicou manifestos e artigos em jornais, nos quais defendia a transição para o trabalho assalariado (colocando-se em oposição ao trabalho escravo) e o investimento público em infraestrutura e educação como caminhos necessários para um país mais moderno.

Com o tempo, no entanto, a resistência política às suas propostas, bem como seu isolamento nessas demandas, contribuíram para o declínio de sua influência. Mauá tentou implantar o capitalismo moderno em um país que não tinha ainda uma burguesia forte nem mesmo instituições liberais para o favorecer. Seu fracasso econômico foi portanto, em parte, o reflexo das limitações estruturais do Brasil Imperial.

Realizações do Barão de Mauá

As realizações do Barão de Mauá foram tantas e tão variadas que sua vida se confunde com o próprio início da industrialização e da modernização do Brasil. Ele foi um pioneiro em praticamente todos os setores estratégicos da economia no século XIX: indústria, transportes (ferrovias e navegação a vapor), energia (elétrica e a gás), finanças (bancos) e comunicações (telégrafos).

  • Indústria

Uma das primeiras realizações notáveis de Mauá foi a criação, em 1846, do Estabelecimento de Fundição e Estaleiros da Ponte da Areia, em Niterói (RJ). O local produzia navios, caldeiras, locomotivas e maquinários diversos. Foi, na prática, a primeira grande indústria brasileira.

  • Ferrovia

Outra realização importante foi a inauguração, em 1854, da primeira ferrovia do Brasil, a Estrada de Ferro Mauá, que ligava o porto Mauá, em Magé (RJ), à Raiz da Serra. Essa ferrovia representou a entrada do Brasil naquilo que havia de mais moderno em termos de transportes terrestres então e um marco inicial no esforço de integração territorial e econômica do país.

  • Iluminação pública

Mauá foi o responsável por trazer ao Brasil uma tecnologia que estava então se popularizando nas capitais da Europa e da América do Norte: a iluminação pública a gás. Ele introduziu esse sistema na cidade do Rio de Janeiro, substituindo o modelo anterior baseado em lamparinas que eram acesas diariamente, uma a uma, por funcionários da prefeitura.

  • Banco

No campo das finanças, Irineu criou o Banco Mauá, MacGregor & Cia., com filiais em várias capitais da América do Sul e da Europa. Esse foi o primeiro grande banco privado do país, o pioneiro em operações de crédito, câmbio e financiamento internacional.

Filial do Banco Mauá em Montevidéu, no Uruguai. Vista da Ponte Internacional Barão de Mauá.
Filial do Banco Mauá em Montevidéu, no Uruguai.
  • Telégrafo

Outra das grandes realizações de Mauá foi a instalação de um cabo submarino telegráfico no oceano Atlântico que conectou o Brasil à Europa, o que representou uma revolução nas comunicações da época. Uma mensagem que, até então, levaria semanas para chegar na Europa, pois seria entregue por meio de cartas transportadas por navios, agora levava minutos. Os jornais passaram a noticiar em tempo real o que se passava em outras partes do mundo, o que antes acontecia com semanas ou mesmo meses de atraso.

  • Outras realizações do Barão de Mauá

Além das citadas, que foram as mais disruptivas e por isso as mais celebradas, Mauá atuou também na construção de portos, estradas, companhias de navegação, estaleiros que chegaram a produzir navios a vapor (algo então considerado tecnologia de ponta) e até no fornecimento de carvão para a frota da Marinha Imperial.

Importância do Barão de Mauá

A importância do Barão de Mauá ultrapassa suas realizações em vida e ganha um caráter simbólico. Ele simboliza o nascimento do capitalismo moderno no Brasil e o esforço de um homem para transformar uma sociedade que ainda estava presa ao passado, a um modelo agrícola exportador e escravista. Em pleno século XIX, o século em que o Brasil foi o último país a abolir a escravidão no Ocidente (somente em 1888), Mauá trouxe ideias de empreendedorismo, inovação, industrialização, trabalho assalariado e liberdade econômica.

Mauá, já no século XIX, compreendeu e declarou por meio de seus manifestos publicados em jornais, que o progresso capitalista moderno dependia da combinação entre educação em massa dos trabalhadores, tecnologia e trabalho livre assalariado. Ele acreditava que a riqueza verdadeira não vinha da posse de terras, mas da capacidade de criar, de inovar, investir e gerar oportunidades. Essa visão o aproxima do pensamento liberal europeu e norte-americano de então e faz dele uma figura destacada do seu contexto em uma sociedade ainda dominada por valores coloniais.

Mauá foi um símbolo da modernização, um homem que acreditava na ciência, na indústria e nas novas formas de infraestrutura como motores do desenvolvimento nacional. Mauá, nascido pobre e sem estruturas familiares sólidas para o acolher, foi uma espécie de self-made man brasileiro, no meio de uma elite nacional marcada por fortunas ligadas à posse de terras e escravos, que passavam de geração a geração há séculos e formavam uma verdadeira oligarquia que dominava o poder político e econômico no país. Usando outro estrangeirismo, como forma de simbolizar as ideias inglesas que povoavam a mente do nosso personagem, Mauá era um outsider na elite político-econômica brasileira.

Legado do Barão de Mauá

O legado de Mauá está muito vinculado ao que vimos nos dois últimos tópicos. Por um lado, está vinculado ao que ele fez em vida, suas realizações, que foram bastante inovadoras e fizeram o país avançar no processo de modernização capitalista. Por outro lado, seu legado é fortemente enraizado no símbolo que ele se tornou para a posteridade, de um ideal de progresso nacional vinculado aos avanços da ciência, à educação, à tecnologia e à liberdade econômica.

Seu legado está presente nas fábricas, ferrovias, bancos, que ele fundou e que serviram de precursores para os outros que surgiram, depois, no país, mas, sobretudo, está na ideia de o que Brasil pode ser construído com inteligência, inovação, trabalho livre e fé no progresso.

Homenagens a Barão de Mauá

Vista da Ponte Internacional Barão de Mauá.
Ponte Internacional Barão de Mauá, construída no início do século XX.[2]

Por ter se tornado um símbolo de uma era e de um ideal de Brasil, ao longo do tempo, Mauá foi lembrado e celebrado por meio de muitos monumentos, instituições, condecorações e iniciativas cultural que mantêm viva sua memória.

  • Monumentos e obras públicas:
    • Monumento na Praça Mauá: em 1910, no Rio de Janeiro, foi inaugurada uma estátua de bronze em homenagem a Mauá, sobre uma coluna de granito, obra do escultor Rodolfo Bernardelli, situada na Praça Mauá, perto da zona portuária da cidade.
    • Ponte Internacional Barão de Mauá: inaugurada em 1930 sobre o rio Jaguarão, na fronteira entre o Brasil e o Uruguai, essa ponte rodoviária foi batizada em sua homenagem, que nasceu ali nessa região.
    • Museu Barão de Mauá: localizado na cidade de Mauá, em São Paulo, na região metropolitana da cidade de São Paulo, foi instalado um museu com seu nome e que preserva sua memória por meio de um acervo de fotografias, documentos e objetos relacionados à sua história e ao contexto local.
  • Instituições, títulos e condecorações:
    • Ordem Nacional Barão de Mauá: criada em 2018, é uma ordem honorífica que concede condecorações a pessoas que prestaram contribuições relevantes à indústria, ao comércio exterior ou a serviços nacionais.
    • Livro de Heróis da Pátria: em 1015, a Comissão de Cultura da Câmara dos Deputados aprovou o projeto que incluiu o Barão de Mauá nesse livro que homenageia personalidades que ofereceram destacados serviços ao Brasil ao longo de sua história.
    • Instituto Mauá de Tecnologia: instituição de ensino superior privado sem fins lucrativos, de utilidade pública e dedicada ao ensino e à pesquisa científica e tecnológica, fundada em 1961 em São Caetano (SP).
  • Logradouros: existem, no Brasil todo, diversos logradouros que homenageiam Irineu Evangelista de Sousa (o Barão de Mauá) como, por exemplo:
    • Avenida Barão de Mauá – Município de Mauá (SP),
    • Praça Mauá – Rio de Janeiro (RJ), e
    • Praça Barão de Mauá – Ribeirão Preto (SP).

Curiosidades sobre o Barão de Mauá

  • Qual era a fortuna do Barão de Mauá?

No auge de sua trajetória, Mauá chegou a ter uma fortuna comparável ao orçamento do governo do país. O valor de todo o patrimônio de Mauá, entre muitas empresas e bens pessoais, foram estimados em torno de 115 mil contos de réis (a moeda brasileira da época), valor superior ao orçamento do governo imperial (nacional) naquele mesmo período (início da década de 1860), que era em torno de 97 mil contos de réis.

  • Incêndio criminoso?

O barão sofreu um grande e misterioso, talvez criminoso, incêndio em sua fundição, em 1857. Suspeito de ser obra de sabotagem de seus concorrentes ou inimigos, o incêndio gerou perdas financeiras significativas ao barão. No entanto, nenhum esclarecimento definitivo foi dado ao caso.

  • Banqueiro de sucesso internacional

O Banco Mauá, MacGregor & Cia. tinha projeção internacional (filiais em Buenos Aires, Montevidéu, Londres e Nova York, por exemplo). Esse feito foi algo inédito para um banqueiro brasileiro do século XIX.

  • O “Rothschild da América do Sul”

O barão foi chamado de o “Rothschild da América do Sul” pelo prestigiado jornal New York Times em 1871. Os Rothschild eram uma poderosa família de financistas ingleses. A comparação foi feita em reconhecimento ao seu poder financeiro.

  • O Barão de Mauá era maçom?

O Barão de Mauá pode ou não ter sido membro da maçonaria. Existem fontes maçônicas que o mencionam como membro; ele teria sido iniciado no Rio de York nos anos de 1840. O fato de ele ter trabalhado junto a um comerciante escocês (a maçonaria era muito comum entre comerciantes britânicos) e as afinidades de valores entre Mauá e a maçonaria (liberalismo, racionalismo, ética do trabalho, defesa do trabalho livre, condenação do trabalho escravo, entre outras ideias típicas dos maçons) favorecem essa suposição. Porém, não há evidências documentais arquivísticas conclusivas quanto a esse pertencimento. Portanto, é “justo” supor que ele era maçom, mas não se pode concluir com embasamento histórico “perfeito”.

Saiba mais: Quem foi a Marquesa de Santos e qual era sua relação com o imperador do Brasil?

Exercícios resolvidos sobre o Barão de Mauá

Questão 1. Leia o trecho a seguir:

No Brasil do século XIX, um empresário defendeu o trabalho livre, investiu em ferrovias, bancos, estaleiros, iluminação a gás e telégrafo, tentando conectar o país ao capitalismo moderno. Suas iniciativas, porém, esbarraram na força política dos grandes proprietários, na economia escravista e na falta de instituições capazes de sustentar a industrialização.

Com base no texto e em seus conhecimentos, o principal fator que explica as dificuldades enfrentadas por esse projeto de modernização foi:

a) a existência de uma burguesia industrial madura, que impunha concorrência excessiva.

b) o apoio irrestrito do Estado imperial às indústrias, que gerou superprodução.

c) a predominância do latifúndio escravista e de elites agrárias contrárias à industrialização.

d) a autossuficiência financeira do país, que dispensava crédito internacional.

e) a universalização da educação básica, que elevou o custo do trabalho livre.

Gabarito: C.

O Barão de Mauá atuou num ambiente dominado pelo latifúndio escravista e por elites agrárias que controlavam o Estado e resistiam à industrialização. Faltavam instituições e mercado de trabalho livre para sustentar o capitalismo moderno. As alternativas A, B, D e E contrariam o contexto do Império: não havia burguesia industrial consolidada, nem apoio irrestrito do Estado, tampouco autossuficiência financeira ou escolarização ampla.

Questão 2. A inauguração da Estrada de Ferro Mauá (1854), a criação de um banco com atuação internacional e a implantação de serviços urbanos (iluminação a gás, telégrafo, cabo submarino) foram iniciativas articuladas por um mesmo agente histórico. Tais ações, em conjunto, expressam:

a) a opção pelo isolamento econômico e pela proteção do mercado interno.

b) a manutenção do modelo agroexportador escravista como eixo do progresso.

c) a priorização de gastos suntuários na corte, sem efeitos produtivos.

d) um projeto de integração territorial e inserção do Brasil nas redes do capitalismo global.

e) a defesa do retorno ao pacto colonial e ao monopólio metropolitano.

Gabarito: D.

Ferrovias, bancos e redes de comunicação foram pilares de um projeto que visava integrar o território, acelerar a circulação de mercadorias e conectar o Brasil às finanças e às tecnologias internacionais — marcas da atuação do Barão de Mauá. As opções A, B, C e E negam ou distorcem esse sentido de modernização e abertura econômica.

Créditos das imagens

[1] Wikimedia Commons

[2] Wikimedia Commons

Fontes

CALDEIRA, Jorge. Mauá: Empresário do Império. São Paulo: Companhia das Letras, 1995.

BBC Brasil. Quem foi o Barão de Mauá, o homem mais rico do Brasil no século 19 que acabou na miséria. 2021. Disponível em: https://www.bbc.com/portuguese.

MARTINS, José de Souza. “O Barão de Mauá e o capitalismo nascente no Brasil”. Revista Brasileira de Ciências Sociais, v. 4, n. 10, 1989.

MORAES, Maria Augusta de S. “Modernização e resistência: Mauá e os limites do progresso no Brasil Imperial”. Anais do XXVI Simpósio Nacional de História – ANPUH, 2011.

SCHWARCZ, Lilia M.; STARLING, Heloisa M. Brasil: Uma Biografia. São Paulo: Companhia das Letras, 2015.

Escritor do artigo
Escrito por: Alexandre Fernandes Borges Professor e historiador, Bacharel e Licenciado em História pela Universidade Federal de Goiás, com 20 anos de experiência no ensino de História no Ensino Médio. Servidor público de carreira da Secretaria de Estado da Cultura de Goiás desde 2007, atuou como Chefe do Arquivo Histórico Estadual de Goiás entre 2012 e 2019. Atualmente, integra a Comissão de Avaliação de Bens Intangíveis da Secretaria de Estado da Cultura de Goiás.
Deseja fazer uma citação?
BORGES, Alexandre Fernandes. "Barão de Mauá (Irineu Evangelista de Sousa)"; Brasil Escola. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/historiab/barao-maua.htm. Acesso em 13 de novembro de 2025.
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