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Geralmente quando ouvimos falar sobre múmias, reportamo-nos quase sempre para os casos dos soberanos egípcios ou para os corpos mumificados na América pré-colombiana. Porém, há uma quantidade enorme de múmias que foram descobertas em pântanos do noroeste da Europa e também na região da Grã-Bretanha.
As múmias do pântano, diferentemente dos processos de mumificação egípcios e americanos, foram preservadas em decorrência das condições dos locais em que seus corpos foram deixados. Nos pântanos dessas regiões há a formação de turfa – material de origem vegetal formado a partir da decomposição de musgos e outros materiais –, que é utilizado como combustível para aquecimento ou cozimento de alimentos.
A composição das turfas e a decomposição dos materiais deixam as águas dos pântanos extremamente ácidas, anaeróbicas, auxiliando na conservação dos tecidos e demais partes dos corpos das pessoas que lá foram deixadas, além de enegrecer a pele. Porém, a acidez desmineraliza os ossos. Se por uma parte conserva os corpos, auxiliando o trabalho dos arqueólogos, por outro esse processo impede uma pesquisa mais aprofundada, principalmente pela dificuldade de conseguir realizar testes de DNA nessas múmias. Além disso, o contato posterior à retirada do local encontrado fazia com que os corpos em contato com o ambiente aeróbico passassem a se decompor rapidamente.
A maior parte dos corpos data da chamada Idade de Ferro, ocorrida entre o século 3 a.C. e o século I d.C. As condições em que foram mortas apresentam uma série de dúvidas sobre os reais motivos que levaram essas pessoas a falecer, como no caso do chamado Homem de Tollund, encontrado em um pântano dinamarquês na década de 1930. Os sinais em seu corpo indicam que a morte foi decorrente de enforcamento. O Homem de Tollund é uma das mais conservadas múmias europeias, com um corpo encontrado quase intacto. Mas em virtude da decomposição provocada pelo contato com o ambiente aeróbico, os pesquisadores passaram a se interessar em preservar apenas a cabeça e os braços.
Várias teorias são levantadas sobre os motivos das mortes. As mais aceitas referem-se a rituais pagãos realizados pelos povos germânicos em homenagem a seus deuses. Mas a pesquisa em manuscritos do período, que foram redigidos principalmente pelos romanos que escreviam a partir de relatos de mercadores, aponta que os motivos das mortes eram para punir essas pessoas que tinham hábitos considerados inaceitáveis. No entanto, possivelmente essas interpretações romanas tinham mais por objetivo questionar e moralizar os próprios romanos do que retratar com fidelidade a situação dessas mortes.
Além do Homem de Tollund, foram encontrados também o Homem de Oldcroghan, Grauballe, de Barremose, de Raevemosen, bem como as mulheres de Elling, de Haraldskær e de Yde. Milhares de corpos foram registrados nessas regiões europeias, mostrando que a prática dos sacrifícios até certo ponto era dada como comum entre os povos germânicos do período. Esses corpos são fonte de estudo e de conhecimento sobre esse momento da história europeia.
Por Tales Pinto
Graduado em História