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Ao longo de sua história, a relação do homem com os aromas foi se tornando cada vez mais sofisticada. Na medida em que as primeiras civilizações se desenvolviam, as práticas de manipulação dos recursos naturais também se aperfeiçoavam, de modo a se ajustarem aos sentidos da percepção. A prática da composição de perfumes está para o olfato assim como a arte da culinária está para o paladar, ou a arte da música, para os ouvidos. A história do perfume, tal como a história da culinária ou da música, pode dar testemunho de todo um quadro cultural e civilizacional.
Os primeiros usos de perfumes estavam associados a ritos religiosos, que acrescentavam o uso de vegetais cujas propriedades naturais continham essências e fragrâncias especiais. O uso no cotidiano, para fins de apreciação não ritualística do aroma, remete aos egípcios. Vários escritos egípcios documentam o uso de perfumes pelos membros mais destacados da sociedade. Além disso, os perfumes também eram usados no processo de embalsamamento das múmias, que demandava uma grande quantidade de óleos aromáticos.
Mas foi entre os antigos gregos que a perfumaria recebeu um tratamento sistemático, tanto na prática quanto na teoria. Teofastro é considerado um dos primeiros (senão o primeiro) autores a escrever sobre a arte da perfumaria. Esse autor publicou um tratado sobre o perfume em 323 a.C., e seu interesse pelas fragrâncias proveio de sua grande destreza no estudo da botânica (conhecimento dos vegetais).
A propósito, a arte da perfumaria sempre exigiu um grande conhecimento de Botânica e de variadas técnicas de extração de odores. Essas técnicas foram desenvolvidas por vários povos, além dos gregos, sendo muito praticadas entre indianos, árabes, romanos e persas, por exemplo. O interesse pela perfumaria foi potencializado na Europa a partir do processo de interação com outros locais e culturas, inicialmente com Ásia e, depois, com o continente americano, de onde provieram muitos espécimes vegetais e especiarias que foram incorporados aos perfumes.
No século XVII, com o amplo crescimento da população europeia e com o consequente aumento dos centros urbanos, o uso dos perfumes tornou-se notório e intensivo. Isso exigiu uma maior acuidade nos processos de fabricação, fato que culminou no aparecimento das casas especializadas na produção de perfumes. No século XVIII, muitas dessas casas começaram a ficar famosas por conta do desenvolvimento de técnicas ainda mais sofisticadas, que conseguiam notas de fragrâncias mais duradouras que as de costume.
A obra do romancista alemão Patrick Süskind, O Perfume (Das Parfum, no original, em alemão), publicada em 1985, exemplifica esse contexto do aparecimento das casas de perfumaria na Europa do século XVIII, sobretudo na França. No trecho a seguir é possível observar os conhecimentos necessários a um bom perfumista:
“Não só precisava saber destilar, também se precisava ao mesmo tempo ser um produtor de pomadas e um manipulador de drogas, um alquimista e artesão, comerciante, humanista e hortelão. Era preciso saber distinguir entre sebo de rins de carneiro e sebo de bezerro, e entre uma violeta Vitória e uma violeta de Parma. Era preciso dominar o latim. Era preciso saber quando o heliotrópio deve ser colhido e quando o gerânio floresce e saber que a flor do jasmim pedre o seu perfume com o sol nascente.” [1]
Percebe-se, com o texto, o tamanho da complexidade envolvida na criação de perfumes. Ainda hoje o processo é complexo, a despeito da aplicação de toda a tecnologia industrial.
Para finalizar, resta assinalar que o termo perfume provém do latim “per fumum”, cujo significado é “por meio da fumaça”. Essa analogia com a fumaça explicita o caráter ritualístico (vide o exemplo do incenso) do uso dos aromas que mencionamos acima.
NOTAS
[1] SÜSKIND, Patrick. O Perfume. [trad. Flávio R. Kothe] São Paulo: Record, 2010. p. 57.
Por Me. Cláudio Fernandes