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As mulheres e as purgas legais na França

As purgas legais, ou as Epuration légale, foram uma forma de punição às mulheres acusadas de colaboração com os nazistas.

Mulheres acusadas de colaboração horizontal com soldados nazistas sendo escrachadas publicamente em Paris, França, em 1944
Mulheres acusadas de colaboração horizontal com soldados nazistas sendo escrachadas publicamente em Paris, França, em 1944
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Após o fim da ocupação nazista na França, milhares de mulheres foram vítimas de escrachos públicos em decorrência de relações estabelecidas com soldados alemães durante a II Guerra Mundial. Esses acontecimentos, ocorridos entre 1943 e 1946, ficaram conhecidos como Épuration légale, purgas legais, ou ainda, através da denominação das vítimas, de les femmes tondues, as mulheres tosquiadas, em razão da principal punição dada às mulheres ter sido a raspagem de suas cabeças.

O crime que essas mulheres teriam supostamente cometido era o de terem mantido relações sexuais com soldados alemães durante o período de ocupação nazista na França. Elas eram acusadas de “colaboração horizontal” com um inimigo de guerra, o que as levou a serem alvo de linchamentos morais públicos.

A prática da purga legal realizada contra as mulheres consistia na raspagem de seus cabelos, um dos símbolos da sedução feminina, e no desfile público pelas ruas das cidades, vilas ou mesmo pequenas aldeias nas áreas rurais após a expulsão das tropas nazistas desses locais. Muitas das mulheres eram também despidas e marcadas com a suástica nazista através de tintura ou mesmo com ferro quente. Além de toda a humilhação, elas foram condenadas a penas de seis meses a um ano de prisão em decorrência da suposta colaboração com o inimigo.

Possivelmente cerca de 20.000 mulheres foram alvos das purgas legais na França. As acusações geralmente eram feitas por vizinhos ou mesmo por reais colaboradores dos alemães que pretendiam desviar a atenção de suas ações de apoio ao inimigo de guerra. Muitas das vítimas eram prostitutas, que no trabalho de venda do corpo não distinguiam a nacionalidade, tendo clientes tanto franceses quanto alemães.

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Outras vítimas eram jovens mães que tiveram seus maridos como prisioneiros de guerra em campos alemães e que, durante a guerra, não tinham meios de conseguirem apoio material para sua sobrevivência. Um dos meios para conseguirem alimentos para si e seus filhos era através de relações sexuais com soldados alemães.

Na Noruega, cerca de cinco mil mulheres que tiveram filhos de pais alemães foram condenadas a um ano e meio de trabalho forçado. As crianças foram direcionadas para sanatórios, sendo utilizadas ainda como cobaias em testes de medicamentos.

Segundo o historiador francês Fabrice Virgili, as purgas legais contra as mulheres foram uma violência patriótica e viril, a afirmação de uma punição masculina, fortemente sexual. Mas tal prática não ocorreu apenas no final da II Guerra Mundial. Os fascistas partidários de Franco na Espanha tiveram expediente semelhante contra as mulheres republicanas. Tais práticas demonstram que os horrores das guerras e das ações humanas não se limitam apenas às mortes nos campos de batalha.

* Crédito da Imagem: Arquivos Federais Alemães


Por Tales Pinto
Mestre em História

 

Escritor do artigo
Escrito por: Tales dos Santos Pinto Escritor oficial Brasil Escola

Gostaria de fazer a referência deste texto em um trabalho escolar ou acadêmico? Veja:

PINTO, Tales dos Santos. "As mulheres e as purgas legais na França"; Brasil Escola. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/historia/as-mulheres-as-purgas-legais-na-franca.htm. Acesso em 28 de março de 2024.

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