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Revolta do Vintém de 1880

A Rua do Ouvidor foi um dos palcos dos conflitos que marcaram a Revolta do Vintém. Gravura de Louis-Auguste Moreaux e Abraham-Louis Buvelot, 1845
A Rua do Ouvidor foi um dos palcos dos conflitos que marcaram a Revolta do Vintém. Gravura de Louis-Auguste Moreaux e Abraham-Louis Buvelot, 1845
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Em 1 de janeiro de 1880, a capital do Império brasileiro, o Rio de Janeiro, viu eclodir uma revolta contra a cobrança de um imposto sobre o preço das passagens do transporte nos bondes. Conhecido como Revolta do Vintém, esse episódio representou a primeira reação popular que se tem notícia no Brasil contra as tarifas cobradas no sistema de transporte coletivo.

O nome Revolta do Vintém é derivado do imposto de vinte réis, um vintém, que seria cobrado sobre o valor das passagens dos bondes puxados por burros no Rio de Janeiro. A lei que estipulava a cobrança foi promulgada em dezembro de 1879, e já em 28 de dezembro do mesmo ano foi convocada uma manifestação contra a lei, pelo médico e jornalista republicano Lopes Trovão.

A concentração da população, estimada em cinco mil pessoas, deu-se no campo de São Cristóvão, em frente ao Palácio Imperial, onde pretendiam entregar uma petição ao Imperador D. Pedro II contra a cobrança da taxa. Porém, o palácio foi cercado pelas forças policiais, impedindo o contato da população com o monarca brasileiro, sendo que os guardas estavam munidos de grandes cassetetes, conhecidos como “bengalas de Petrópolis”. Apenas durante a dispersão da multidão que o Imperador se dispôs a se reunir com uma comissão que representasse os manifestantes. Entretanto, Lopes Trovão não aceitou a oferta de D. Pedro II, passando a afirmar a necessidade de o Imperador se reunir diretamente com todo o povo, além de passar a utilizar as páginas de seu jornal, A Gazeta, para conclamar a população a não aceitar a cobrança. O objetivo de Lopes trovão era também tirar proveito político da insatisfação, pois apostava no desgaste do poder imperial.

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Em 01 de janeiro de 1880, entrou em vigor a cobrança do vintém sobre as passagens. A ordem era que as forças policiais deveriam fazer cumprir a cobrança. Durante a manhã não houve incidentes com os usuários dos bondes. Das empresas que operavam os bondes na cidade, apenas a Botanical Garden não estava cobrando a taxa. Por volta do meio-dia, sob o estímulo de Lopes Trovão, uma multidão reuniu-se no Largo do Paço, sendo conclamada a resistir pacificamente à cobrança sobre a passagem. Os manifestantes começaram a se movimentar pelo centro da cidade, em direção ao largo de São Francisco, ponto final de inúmeras linhas de bondes.

Ao chegar nesse local, e apesar dos pedidos feitos para se manterem pacíficos, os manifestantes passaram a entrar em confronto com a polícia, antes dos reforços do exército chegarem. A população em fúria contra a cobrança passou a atacar e destruir os bondes, agredir cocheiros e condutores, além de esfaquear os animais que puxavam os veículos. Com a repressão policial, os manifestantes dispersaram-se pelas ruas da região, arrancando os trilhos e os calçamentos no caminho, bem como destruindo os bondes que encontravam.

Alguns desses bondes eram tombados nas estreitas ruas, servindo, junto às pedras arrancadas do chão, como barricada contra os policiais. A resistência dos manifestantes dava-se através do arremesso de pedras, garrafas e, em alguns casos, de tiros de revólveres. Os soldados atacavam, por sua vez, com armas de fogo. No dia 1º de janeiro, durante a noite, os conflitos tiveram fim, voltando a ocorrer com menor intensidade nos três dias seguintes.

Em virtude da impopularidade da cobrança, as empresas deixaram de cobrar a taxa sobre as passagens. A lei que a regulamentava foi revogada em março do mesmo ano. Ministros do governo caíram junto à lei.

Interessante notar o debate que foi realizado pela imprensa da época. Como em outros momentos da história do país, os atos de destruição foram atribuídos às camadas mais exploradas da população, por serem consideradas menos civilizadas. Havia também o fato de a população estar sujeita à péssima qualidade do transporte nos bondes. Estima-se que cerca de 20 milhões de passageiros eram conduzidos, em 1879, em bondes sujos e que se atrasavam constantemente. A violência da revolta seria uma reação à situação vivida cotidianamente.

A Revolta do Vintém mostraria ainda que o governo de D. Pedro II dava mostras de decadência e falta de apoio popular. Pouco menos de 10 anos depois, os republicanos conseguiriam por fim ao poder imperial no Brasil.


Por Tales Pinto
Graduado em História

Escritor do artigo
Escrito por: Tales dos Santos Pinto Escritor oficial Brasil Escola

Gostaria de fazer a referência deste texto em um trabalho escolar ou acadêmico? Veja:

PINTO, Tales dos Santos. "Revolta do Vintém de 1880"; Brasil Escola. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/guerras/revolta-vintem-1880.htm. Acesso em 28 de março de 2024.

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