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Carl Von Clausewitz (1790 – 1831) foi um militar prussiano especialista em estratégias de batalhas e autor do mais famoso tratado sobre o tema da guerra no Ocidente: “Da Guerra”, ou “Sobre a Guerra” (do alemão Vom Kriege), publicado em 1832. Clausewitz ficou conhecido por uma definição de guerra que foi largamente difundida, mas pouco compreendida. Trata-se da frase: “A guerra é a continuação da política por outros meios”.
Para entender melhor essa definição de Clausewitz, é necessário compreender o contexto no qual ele a desenvolveu (levando-se em consideração o fato de que ele era um militar experiente e, além disso, um estrategista) e as outras definições que estão distribuídas ao longo do primeiro capítulo da obra referida, como esta: “A guerra é pois um ato de violência destinado a forçar o adversário a submeter-se à nossa vontade”.
Um dos acontecimentos mais impressionantes da história das guerras modernas foi a Batalha de Valmy, ocorrida em 1792, na qual, pela primeira vez, o exército revolucionário francês conseguiu vencer de forma extraordinária. Esse fato impressionou grandes personalidades da época, como o escritor alemão Johann Goethe.
O próprio advento de um exército revolucionário constituído por cidadãos, e não por mercenários e aristocratas guerreiros, era demasiadamente impressionante. Esse modelo de exército foi a máquina de guerra do império de Napoleão Bonaparte nas duas décadas seguintes. Foi nesse contexto que se sitou Clausewitz, que passou a integrar o exército prussiano no momento em que este lutava contra a expansão de Napoleão. A violência total e as proporções estratégicas que as guerras napoleônicas exigiam produziram uma verdadeira obsessão em Clausewitz. A integração entre política e guerra, tal como expressou em sua famosa definição, cuja diferença única para ele estava apenas nos meios usados, veio da compreensão que ele teve da transformação do conceito de guerra a partir da formação do exército nacional francês.
Toda a extensão que as guerras posteriores tomaram, como a Guerra Franco-Prussiana, da década de 1870, e a Primeira Guerra Mundial, iniciada em 1914, as chamadas guerras nacionalistas, cuja abrangência e potencial de destruição eram enormes, de certa forma foi intuída por Clausewitz em sua obra. Sua compreensão da essência violenta da guerra, da falácia da honra aristocrática que permeava o conceito de guerra até então, é fundamental para entender a definição que ele próprio deu. Abaixo segue, nas palavras do próprio estrategista prussiano, um parágrafo onde foi lapidada sua definição de guerra:
“A guerra, então, é apenas um verdadeiro camaleão, que modifica um pouco a sua natureza em cada caso concreto, mas é também, como fenômeno de conjunto e relativamente às tendências que nela predominam, uma surpreendente trindade em que se encontra, antes de mais nada, a violência original de seu elemento, o ódio e a animosidade, que é preciso considerar como um cego impulso natural, depois, o jogo das probabilidades e do acaso, que fazem dela uma livre atividade da alma, e, finalmente, a sua natureza subordinada de instrumento da política por via da qual ela pertence à razão pura.” (CLAUSEWITZ, Carl Von. Da Guerra. São Paulo: Editora WMF Martins Fontes, 2010, p.30).
Essa trindade, “violência, ódio e animosidade”, apontada pelo autor, que se estende da guerra pura a outros meios, como a política, e vice-versa, é o que é de mais complexo e mais realista em termos de compreensão do que seja guerra entre os autores ocidentais e figura entre os grandes tratados de guerra da história, tal como os estratagemas chineses e a “Arte da Guerra”, de Sun Tzu.
*Créditos da imagem: Shutterstock e Galyamin Sergej
Por Me. Cláudio Fernandes