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A Europa do século XVII encontrava-se em uma nova configuração onde várias nações tinham o interesse em ampliar seus poderes no continente por meio da conquista de novos mercados e territórios. Contudo, o despertar da concorrência entre as várias monarquias centralizadas, firmadas entre a Idade Média e a Idade Moderna, provocou vários conflitos e guerras. Foi nesse contexto que observamos a ocorrência da Guerra dos Trinta Anos, desenvolvida entre 1618 e 1648.
Para dar uma breve noção dos motivos que desenvolveram essa guerra devemos citar a situação do Sacro-império Germânico após o desenvolvimento das reformas protestantes. Naquela região, marcada como berço da Reforma, haviam diferentes reinos dirigidos por príncipes de orientação católica e protestante. Essa diversidade muitas vezes implicava em uma grande tensão política onde os reis de uma determinada região não aceitavam a prática de uma religião contrária à sua fé particular.
Um exemplo dessa situação aconteceu quando o imperador Rodolfo II passou a combater o protestantismo por meio da destruição de igrejas e a promoção de leis que reforçavam o poderio católico na região. Em pouco tempo, os príncipes protestantes reagiram à imposição criando a Liga Evangélica, que combatia os desmandos promovidos pela intolerância religiosa real. Do outro lado, os monarcas católicos germânicos criaram a Liga Sagrada, apoiada por outras monarquias ligadas à Igreja Romana.
A intransigência dos reis católicos na Boemia foi sentida com maior força, pois essa região do Sacro-Império era de maioria católica. Em maio de 1618, os protestantes promoveram um levante na cidade de Praga, que acabou despertando o interesse de outras nações anticatólicas em impedir a ampliação do poder dos Habsburgos, dinastia germânica interessada em combater o protestantismo no Sacro-Império e ampliar seu domínio político-territorial.
Inicialmente, as tropas que compunham a liga Sagrada conseguiram se sobrepor aos exércitos protestantes e, com isso, a dinastia Habsburgo desfrutou de um grande território controlado por uma monarquia centralizada e apoiada pela Igreja Romana. Dessa forma, o surgimento desse poderoso e agressivo poder acabou despertando a preocupação de outras nações européias que defendiam o protestantismo ou temiam a consolidação de uma forte concorrente no cenário mercantilista.
A Dinamarca foi a primeira nação que se manifestou contra o grande reinado católico que se formava no Sacro-Império. Paralelamente, os holandeses também apoiaram a reação protestante ao dispor de armas e exércitos que lutaram ao lado dos príncipes protestantes germânicos. Claro que por de trás dessas disputas havia o interesse dinamarquês em recuperar ducados que sofriam a intervenção dos monarcas católicos do Sacro-Império Germânico. Entre 1625 e 1627, novas lutas reafirmaram a superioridade dos exércitos da Liga Sagrada.
Dessa maneira, a supremacia dos Habsburgo foi instituída com a dominação sob os territórios e bens dos protestantes que, com a assinatura da Paz de Augsburgo, em 1555, haviam tomado posses católicas. O evento enfraqueceu o poderio econômico do Estado dinamarquês e despertou a preocupação da Coroa Francesa, que negociou a entrada das tropas suecas na luta contra os Habsburgos com a promessa de ceder territórios que garantiriam sua hegemonia na região báltica.
Nessa nova empreitada, os exércitos suecos liderados sob a rígida disciplina do rei sueco Gustavo Adolfo conseguiu expressivas vitórias que contavam com o apoio dos príncipes alemães protestantes. Com isso, os católicos tenderam a negociar o fim dos conflitos para que o equilíbrio político no Sacro-Império pudesse preservar em condições básicas o poderio dos católicos. Dessa maneira, os protestantes conseguiram renegociar algumas perdas impostas pelo Édito de Restituição.
A partir de então, os franceses resolveram intervir diretamente no conflito declarando guerra contra os Habsburgos e todas as monarquias que fossem aliadas dos católico-germânicos. O poderoso exército francês conseguiu aniquilar todas as forças inimigas que, mesmo com as sucessivas derrotas, não estavam dispostas a se render. A essa altura a guerra perdeu toda a sua motivação religiosa ao ver a França, nação tradicionalmente católica, lutando contra outras nações que professavam a mesma fé.
O tratado de Westfália (1648), negociado nos anos finais da guerra, pretendia acabar com o conflito que mobilizou quase toda a Europa. A França, extremamente beneficiada com o acordo, obrigou os Habsburgos a levarem seu projeto expansionista em direção ao Império Turco-Otomano e obteve domínio sob as regiões do Rossilhão, Alsácia e Lorena. Além disso, nações como a Suíça e a Holanda (Países Baixos) conseguiram consolidar a independência de seus estados.
Por Rainer Sousa
Graduado em História