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A regência é a relação entre os verbos ou dos nomes com seus complementos. Se pudéssemos analisá-la humanamente, ela não seria considerada uma relação saudável pela psicologia, uma vez que não representa uma cooperação, e sim uma dependência, uma subordinação. Há sempre um termo que comanda e um que é comandado, e um não “existe” sem o outro.
No caso da regência verbal, analisa-se a relação do verbo (termo regente) com o seu complemento (termo regido). Entre os termos pode ou não haver preposição, quem define isso é a predicação verbal. Por isso, é fundamental que antes de estudar regência verbal, a predicação dos verbos seja revisada.
Além da predicação verbal, é importante também analisar a significação do verbo, já que é possível que um verbo em contextos diferentes receba significações diferentes e, em decorrência disso, apresente predicação distinta. É o caso do verbo assistir, que depende do significado para definir a predicação.
Alguns verbos possuem dupla regência, outros só admitem uma e ainda há aqueles que, para a gramática normativa, possuem uma regência, e para a gramática usada nas ruas, possuem outra. E quando isso acontece, o que fazer? Que caminho seguir? Utilizaremos como exemplo para discutirmos esse assunto o verbo pisar. Acompanhe os exemplos a seguir:
Não pise na grama.
Menino, não pise no tapete.
Que situação complicada! Estava pisando em ovos.
Por favor, senhorita, é proibido pisar a grama.
Pessoas educadas não pisam o tapete com os pés sujos!
Não pise aqui, está molhado!
Em todos os exemplos, o verbo pisar aparece, mas em todos ele é usado com a mesma predicação? Não. Nos três primeiros exemplos e também no último, foi usado como intransitivo, enquanto nos demais foi usado com transitivo direto. Como diferenciá-los? Vejamos a seguir:
Analise o seguinte: em todos os exemplos em que o verbo foi considerado como intransitivo, ao seu lado havia o adjunto adverbial de lugar: na grama, no tapete, em ovos e aqui. Nos outros exemplos, o verbo pisar foi utilizado como transitivo direto e para complementá-lo foram usados os objetos diretos: tapete e grama.
É possível que você esteja se perguntando: Que formas estão corretas? Qual a real predicação do verbo pisar? Para respondê-las, é preciso voltar a uma questão extremamente polêmica: o que diz a gramática normativa.
A gramática normativa é um manual de regras da língua, onde o conceito de certo e errado são inerentes. Então, é considerado errado o uso do verbo pisar com preposição, porque ele é considerado como verbo transitivo direto. Portanto, as únicas formas corretas para a gramática normativa são: “Por favor, senhorita, é proibido pisar a grama” e “Pessoas educadas não pisam o tapete”.
Entretanto, há a realidades das ruas. Alguns podem dizer que não se pode considerar nada além da gramática normativa porque as regras são imutáveis. Além disso, a fala é dinâmica, modificando-se a todo o momento, mas a língua não. Será? É claro que não podemos entender que a velocidade de mudança entre a língua falada e a escrita seja a mesma. No entanto, não se pode afirmar que as mudanças não ocorram nesta esfera, um célebre exemplo é a palavra você. Etimologicamente, derivou-se de vossa mercê, passou para vossemecê, vosmecê, vancê, até chegar à forma como a conhecemos, o que significa que, embora de forma lenta, as mudanças na língua podem ocorrer.
Como é possível perceber, há um impasse entre a norma e o uso, quem sairá vencedor, só o tempo definirá. Para o momento, a definição é a seguinte, todas as vezes em que o contexto pedir a aplicação ou utilização das regras, use o verbo pisar como transitivo direto, portanto, sem preposição. No entanto, se o que está sendo discutido é o uso, ou seja, a realidade linguística atual, então considere o uso do verbo com preposição.
Por Mayra Pavan
Graduada em Letras