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A ortografia tem sido um dos principais alvos de desvios em relação à norma-padrão da língua portuguesa, uma vez que escrever corretamente implica ter bom conhecimento sobre as relações entre os sons e as letras. Um bom exemplo de erro ortográfico envolve a palavra que denomina a ação de eliminar pragas em um determinado espaço. Você sabe qual é a forma correta: dedetizar ou detetizar?
Antes de tirarmos essa dúvida, façamos um breve estudo para melhor compreendermos o porquê desses desvios.
Na escrita alfabética, existem casos em que há um certo tipo de correspondência entre os sons e as letras, isto é, quando um mesmo som é reproduzido por mais de uma letra, o que não significa, entretanto, que a escrita deva transcrever a oralidade. Alguns desvios muito comuns que acontecem em razão dessa correspondência são os que envolvem as letras: s, ss, c, ç, z, sc, sç, e xc (cabessa/cabeça, cassar/caçar, cresser/crescer, ecedente/excedente, discução/discussão, etc.). Há essa confusão porque várias letras são representantes de um mesmo fonema.
Ainda nessa perspectiva da relação entre sons e letras, temos outro fator que contribui para que a troca de fonemas ocorra e faça com que o falante fique em dúvida na hora da escrita: a semelhança de vocalização (processo de formação dos sons: vibração, ou não, das cordas vocais). Esse é o fator que explica a dúvida sobre o uso dos termos dedetizar e detetizar, por exemplo, haja vista a semelhança entre os fonemas /t/ e /d/. Note que aqui temos uma semelhança em um dos pontos de formação dos fonemas, não havendo simetria total entre eles.
Nem sempre a troca de fonemas resulta em erro, pois pode haver a formação de uma nova palavra, constituindo algo que conhecemos como par mínimo. Esse fenômeno linguístico consiste em trocar um fonema por outro, o que proporciona a formação de outra palavra que já integre o léxico de nossa língua materna.
Exemplos:
Pares míninos /p/ e /b/
pata e bata, pingo e bingo, pia e Bia, pompom e bombom, panda e banda, bote e pote, pule e bule, sapão e sabão, etc.
Pares míninos /k/ e /g/
gola e cola, gorro e corro, cordão e gordão, calo e galo, coleira e goleiro etc.
Pares mínimos /t/ e /d/
tia e dia, tato e dado, morte e morde, rota e roda, gato e gado, corta e corda, quatro e quadro etc.
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Qual é, afinal, a forma correta: Dedetizar ou Detetizar?
Os pares mínimos apresentam alterações na grafia da palavra, mas isso não representa um problema ortográfico, visto que a troca formará uma nova palavra, cuja existência no vocabulário de nossa língua já é um fato. Isso, entretanto, não acontece com dedetizar e detetizar. Nesse caso, a semelhança de vocalização nos induz ao erro, uma vez que o nome correto para indicar a ação de combate de pragas é: Dedetizar (detetizar não consta oficialmente em nossa língua).
Agora que já conhecemos algumas raízes que fundamentam alguns desvios ortográficos e já sanamos nossa dúvida em relação à palavra dedetizar, tome nota de uma curiosidade em relação a esse nome. A palavra dedetização surgiu quando a substância Dicloro-difenil-tricloretano (popularmente chamado de DDT) começou a ser utilizada contra insetos durante a Segunda Guerra Mundial. Por ser um pesticida muito tóxico, o DDT foi proibido, mas o nome dedetização ainda é a forma mais comum para denominarmos a ação de combate a pragas e insetos.
Em razão de outras práticas de combate terem surgido e da proibição do uso da substância DDT, hoje temos outros nomes que fazem referência à prática de eliminação de insetos e outros animas, como desinsetização. Portanto, as formas adequadas, tanto na oralidade quanto na grafia, são: dedetização ou desinsetização.
Por Mariana Pacheco
Graduada em Letras