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O El Niño, fenômeno de aquecimento das águas do Oceano Pacífico, tem como uma de suas principais consequências a diminuição da atividade pesqueira em virtude da redução dos nutrientes responsáveis por atrair peixes e demais animais marinhos. No caso do Brasil, várias transformações são verificadas no regime de chuvas, concentrando ou dispersando a sua formação. Neste artigo, a ênfase está em caracterizar tais aspectos: a influência do fenômeno El Niño para a atividade pesqueira e para o território brasileiro.
De que maneira exatamente o El Niño afeta a pesca?
Existe uma faixa no oceano conhecida como termoclina, localizada entre 50m e 200m de profundidade, onde ocorre uma queda brusca das temperaturas. Abaixo dessa linha há uma maior concentração de nutrientes, essencial para a atração dos cardumes. Em áreas tropicais e equatoriais, a termoclina é mais evidente, o que dificulta o fenômeno da ressurgência, quando as águas frias e repletas de nutrientes ultrapassam a termoclina e alcançam áreas mais próximas da superfície oceânica.
Nas regiões de alta pressão subtropical, os ventos fortes deslocam a água superficial aquecida, o que ajuda as águas mais profundas a carregarem os nutrientes para as áreas superficiais, ou seja, os ventos fortes contribuem para que ocorra a ressurgência. O El Niño aquece as águas e reduz a velocidade dos ventos, dificultando a ressurgência, o que obriga as mais diferentes espécies marinhas a migrarem em direção às regiões mais frias ou mergulharem em águas mais profundas, o que resulta em um declínio da atividade pesqueira e deslocamento de espécies de mamíferos, aves, entre outras.
Quais são os impactos do El Niño para o Brasil?
No Brasil ocorrem diversas situações em virtude da dimensão do território brasileiro. Em síntese, nos anos de El Niño há um aumento da concentração de chuvas na região Sul e um aumento da seca na Amazônia oriental e no Nordeste graças ao enfraquecimento dos ventos alísios subtropicais que normalmente ajudam a distribuir a umidade. No sul, região subtropical mais próxima da formação dos alísios, a umidade permanece. No Norte e Nordeste, falta umidade e, consequentemente, as chuvas diminuem.
Outro componente que altera o ciclo das chuvas na Amazônia oriental e no Nordeste está relacionado à circulação atmosférica. Com o maior aquecimento no Pacífico Leste, há a formação de um centro de baixa pressão. A ascendência do ar aquecido e úmido provoca chuvas no litoral do Peru e do Equador. Após alcançar maiores altitudes, esse ar vai se resfriando e ficando mais seco, formando uma zona de alta pressão e subsidência. A descida desse ar frio seco ocorre exatamente na porção oriental da Amazônia, dificultando a formação de nuvens e das chuvas para essa região e para o Nordeste.
No Sul e Sudeste, os meses de inverno possuem temperaturas mais amenas quando o El Niño se desenvolve. Nesse caso, o El Niño oferece possibilidades de colheitas mais rentáveis, pois o aumento das chuvas e os invernos menos intensos contribuem para a agropecuária. Na Amazônia, os rios perdem seu volume de água, o que prejudica as comunidades ribeirinhas e a fauna local. O clima mais seco também aumenta as possibilidades de incêndios florestais, impondo ainda mais riscos para o ecossistema amazônico. No Nordeste, a redução das chuvas acarreta em prejuízos para diversas áreas, mas com certeza o Sertão Nordestino representa a localidade mais afetada pela estação seca mais pronunciada.
Júlio César Lázaro da Silva
Colaborador Brasil Escola
Graduado em Geografia pela Universidade Estadual Paulista - UNESP
Mestre em Geografia Humana pela Universidade Estadual Paulista - UNESP