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A globalização não necessariamente implica em melhoria das condições de vida da sociedade, sendo que os países pobres estão muito longe de conquistar os benefícios da globalização. A dependência dos países subdesenvolvidos em relação aos países desenvolvidos aumentou e seus graves problemas sociais não foram resolvidos. A velocidade de recepção e emissão de capitais transgride as fronteiras nacionais e agride a própria soberania de uma nação, impossibilitando a reação imediata a crises ocasionadas pela fuga de capitais, como a ocorrida no Brasil no ano de 1997 devido ao colapso econômico do sudeste asiático ou ainda na crise econômica mundial iniciada no ano de 2008.
Esses questionamentos tornam-se ainda mais desafiadores quando concebemos o Estado como regulador econômico. A capacidade de (não) gerir a informação que decorre dessas novas demandas da sociedade informacional redefine o papel do Estado, que aparece menos como regulador e mais como um mediador das questões presentes no cenário internacional. Na verdade, as formas de regulação não são mais as mesmas, já que o Estado é obrigado a se transformar, fato comprovado pela atual configuração da União Europeia, onde novas instituições supranacionais foram criadas a fim de gerir uma economia integrada.
Com relação ao capital produtivo, as empresas transnacionais possuem, em última hipótese, suporte institucional de seus países sede e se mobilizam de maneira a condicionar os países periféricos às suas prioridades. Em contrapartida, observamos que a modernização da produção, em diversas situações, ratifica a globalização das perdas. O aumento bruto da produção nos países periféricos não determina desenvolvimento local, apenas minimiza a problemática do desemprego, deslocando parte da população de países periféricos para serviços pouco qualificados. Mesmo os Estados Unidos, líderes da economia mundial, estão vulneráveis ao efeito do desemprego em escala global, ocasionado pelas constantes transferências de empresas transnacionais que procuram flexibilizar sua produção e direcionam etapas do processo produtivo para outras localidades.
Dessa maneira, são encontradas diferentes adaptações dos lugares, que podem gerar ações no sentido de uma melhor adequação às transformações, assim como podem ocasionar movimentos de repulsa e ódio à nova ordem vigente. Essas reações compreendem desde o espetáculo da diversidade cultural herdada de séculos de tradição e representado pelas mais belas e variadas manifestações artísticas às ações extremas de grupos e etnias que retomam tradições atávicas em defesa de um ideal neoconservador. É num contexto de incertezas políticas e econômicas que são originados alguns tipos de movimentos separatistas e xenofóbicos, assim como o que o ocidente convencionou a classificar como ameaça terrorista.
O fanatismo religioso, peça chave para a rede terrorista Al Qaeda realizar os ataques terroristas de 11 de setembro de 2001, oferece um modelo de sociedade onde os valores morais são apresentados como saída para a manutenção da identidade cultural de uma nação e um instrumento de defesa para os desafios que a globalização impõe. Não aceitar a globalização e estar preso às tradições não necessariamente precisa estar relacionado com autoritarismo e violência. É com base em valores culturais que a sociedade, em diferentes localidades, poderia alcançar uma nova representação da globalização, mais humana e vinculada aos interesses de suas populações.
Júlio César Lázaro da Silva
Colaborador Brasil Escola
Graduado em Geografia pela Universidade Estadual Paulista - UNESP
Mestre em Geografia Humana pela Universidade Estadual Paulista - UNESP