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História
A mais antiga data da história da França é a da fundação, por volta do ano 600 a.C., de Massilia (Marselha), colônia grega no sul do atual território francês, conhecida na época como Gália, que abrangia a região que hoje corresponde à França, Bélgica, norte da Itália e oeste da Alemanha. A região era ocupada principalmente pelos gauleses, povo de origem celta procedente do norte, embora ainda houvesse ligúrios e iberos no território.
Os combates entre gauleses e romanos eram freqüentes mas, até o século III a.C., os primeiros conseguiram diversas vitórias graças à ajuda de outros povos, como os cartagineses. Com a queda de Cartago, no século II a.C., os romanos conquistaram o sul da atual França, transformado em província romana em 121 a.C. Entre 57 e 52 a.C., Júlio César estendeu os domínios de Roma até o Atlântico e atingiu as fronteiras do Reno.
A conquista e anexação da Gália foi facilitada pela desunião das tribos gaulesas. Vercingetórix, único chefe militar a opor resistência aos romanos, foi derrotado e preso em Roma. Depois disso, o imperador Augusto dividiu a Gália em várias províncias, dando grande autonomia a suas cidades.
A civilização galo-romana se desenvolveu paulatinamente durante os três séculos de paz que se seguiram (séculos I a III da era cristã). A vida urbana expandiu-se e a economia diversificou-se com o incremento do comércio e das manufaturas. O traço mais importante da romanização gaulesa foi à adoção do latim como língua. Não obstante, as tribos gaulesas conservaram sua identidade nas comunidades locais e, nos anos 21 e 69, revoltaram-se contra a dominação romana.
A autoridade romana começou a declinar e muitas de suas atribuições foram sendo assumidas pela igreja, cujos bispos e prelados se originavam das principais famílias gaulesas. O cristianismo penetrara na Gália desde o século I, mas sua difusão acelerada data do Edito de Milão (ano 313). As invasões bárbaras encontraram a igreja organizada na Gália e não exerceram a ação devastadora que caracterizaram as invasões de outros pontos do Império Romano.
No século V existiam na Gália três reinos germânicos: o dos francos, que atravessaram o Reno em 447 e se fixaram definitivamente no norte; o dos burgúndios, na bacia do Saône e vales do Loire e do Ródano; e o dos visigodos, cujo rei, Eurico, em 476, separou-se de Roma e apoderou-se da Gália até o Loire, da Provença e de toda a Espanha.
Idade Média. O mais importante dos reinos germânicos foi o dos francos, que prevaleceram desde o final do século V até meados do século VIII.
O rei Clóvis -- chefe dos francos sálios e iniciador da dinastia merovíngia, cujo nome vem do príncipe franco Meroveu -- empreendeu a conquista definitiva de toda a Gália. Sua conversão ao catolicismo -- religião da população galo-romana -- em 496 ajudou-o a derrotar definitivamente os visigodos e parcialmente os burgúndios. Ocupou os territórios gauleses ao norte dos Pireneus, anexou a Aquitânia e estabeleceu a sede do reino merovíngio em Lutécia, antiga capital romana e futura Paris. Mesmo sem fundar um estado, no sentido moderno, Clóvis lançou as bases do futuro reino da França.
Depois de sua morte, o reino foi dividido entre seus quatro filhos, de acordo com o costume franco e a unidade só foi restabelecida por curtos períodos.
A desintegração do reino merovíngio favoreceu o desinteresse dos monarcas que se sucederam e a ascensão política dos mordomos, ou prefeitos do palácio, entre os quais se destacou Carlos Martel, que assumiu o poder no ano 737. Seu filho Pepino o Breve foi aclamado rei pela assembléia dos nobres, em 751, o que deu início à dinastia dos carolíngios.
As conquistas de Pepino o Breve, consolidadas ao longo de 14 anos de guerras ininterruptas, fizeram do trono carolíngio o mais poderoso da Europa. Seu filho Carlos Magno (a quem a dinastia deve seu nome), foi coroado imperador em Roma pelo papa na noite de Natal do ano 800, após expulsar os muçulmanos e derrotar os saxões, ávaros e lombardos. Com a proclamação do império, Carlos Magno criou a primeira grande unidade política surgida no Ocidente após a queda do Império Romano.
O filho de Carlos Magno, Luís I o Piedoso, substituiu o pai e desmembrou o império, ao dividi-lo entre os sucessores: Lotário I (reino franco ocidental), Pepino (Aquitânia) e Luís II (reino da Baviera). A divisão do poder fortaleceu as dinastias locais, que aos poucos foram ressurgindo, e os feudos, que foram transformados em propriedades hereditárias e se tornaram cada vez mais poderosos. O auge das dinastias merovíngia e carolíngia marcou o fim da antiguidade e o início da Idade Média.
Tópicos deste artigo
Primórdios da nação francesa
No ano 888, o trono do reino ocidental foi ocupado pelo conde de Eudes, primeiro monarca a interromper a linha sucessória carolíngia. A partir de então, a coroa francesa esteve alternadamente nas mãos dos descendentes de Eudes e de Carlos Magno até que, em 987, depois da morte do último rei carolíngio, teve início a dinastia capetíngia, dos descendentes diretos de Eudes, que reinaram até 1328.
Os Capetos da linha direta, como foram denominados os 15 reis da França que durante 341 anos se sucederam no trono de forma ininterrupta (os filhos se seguiram aos pais diretamente), conseguiram reforçar a autoridade real e unificar todo o reino, o que os consagrou como criadores da nação francesa. A dinastia teve início com Hugo Capeto, que reinou de 987 a 996 e assegurou a sucessão dinástica.
Alguns monarcas se destacaram na dinastia dos Capetos. Luís VI (1108-1137) intensificou o processo de urbanização e, em seu reinado, surgiram às rivalidades entre o trono francês e o inglês. Filipe II Augusto (1180-1223) obteve grandes vitórias sobre os reis ingleses Ricardo Coração de Leão e João Sem Terra, ampliou os domínios da França, consolidou o poder real e instalou a capital definitivamente em Paris.
O maior monarca da França medieval foi Luís IX, que participou da sétima cruzada, reorganizou a administração e impôs a justiça real, normalizou a circulação da moeda e fez da Universidade de Paris o maior centro de estudos jurídicos e teológicos da época.
O último soberano importante foi Filipe IV o Belo, que pela primeira vez convocou os Estados Gerais, criou o ministério público e aumentou os domínios da coroa.
Os três filhos de Filipe o Belo reinaram sucessivamente. O último deles, Carlos IV o Belo, morreu sem deixar herdeiro varão. O trono foi entregue em 1328 a Filipe VI, filho de Carlos de Valois, irmão de Filipe IV, o que deu início à dinastia dos Valois, ou Capetos indiretos, na terceira transição dinástica da história da França.
O descendente de Filipe IV por via feminina era seu sobrinho Eduardo III da Inglaterra, que aspirava ao trono francês e não aceitou a eleição de Filipe VI. Os atritos desembocaram, em 1337, na guerra dos cem anos, após dois séculos de tranqüilidade e progresso. Em 1453, ao terminar esse período em que ações violentas e esporádicas interrompiam longos períodos de trégua, os Valois se confirmaram no poder. Os ingleses perderam todas as possessões na França, exceto Calais. No fim do século XV, as fronteiras da França se aproximavam das atuais.
Na afirmação da autoridade do soberano francês, no reinado de Carlos VII (1422-1461), destaca-se a atuação de Joana d'Arc, que teve papel decisivo à frente do exército francês nas batalhas de Orléans e Patay (maio e junho de 1429), derrotando os ingleses.
Absolutismo
A autoridade real saiu reforçada da guerra dos cem anos e, à medida que a monarquia subtraía poder da nobreza, a burguesia, que apoiava os soberanos, conquistava maior importância política. Durante o reinado de Carlos VIII (1483-1498), cujos sonhos de glória levaram-no a tentar o restabelecimento do império, tiveram início as guerras da Itália, nas quais o monarca foi derrotado.
Na primeira metade do século XVI, a decadência moral e intelectual do clero favoreceu a difusão do protestantismo e a eclosão das guerras religiosas, que tiveram entre outras conseqüências o envio de Villegaignon ao Rio de Janeiro, durante o reinado de Henrique II (1547-1559), para fundar uma colônia onde houvesse liberdade de culto.
A última das oito guerras religiosas na França terminou com a vitória do protestante Henrique de Navarra, primeiro dos Bourbons, que se converteu ao catolicismo e subiu ao trono com o nome de Henrique IV (1589-1610). Esse monarca promulgou o Edito de Nantes (1598), que garantia aos huguenotes, ou protestantes franceses, a liberdade de culto. As ambições de Henrique IV eram de poder absoluto. Deixou de convocar os Estados Gerais, fixou limites para os poderes dos governadores de província e dos chefes militares e pôs sob sua orientação todas as instituições políticas do reino.
Henrique IV foi sucedido por seu filho Luís XIII que, em 1624, nomeou conselheiro a Armand-Jean du Plessis, cardeal e duque de Richelieu, que deu impulso ao absolutismo monárquico, de acordo com a teoria da origem divina do poder. O rei e seu ministro realizaram profundas reformas. Reduziram os privilégios da nobreza e conseguiram esboçar um estado moderno, centralizado, que exigia a colaboração e a submissão de todos os súditos. Exerceram controle sobre a vida intelectual, artística e religiosa do país e estabeleceram as bases do mercantilismo que, aperfeiçoado no reinado de Luís XIV por seu ministro Jean-Baptiste Colbert, transformaria a França no país mais rico da Europa.
Durante a minoridade de Luís XIV, que tinha cinco anos ao herdar o trono francês, o poder foi confiado à regente Ana d'Áustria, que nomeou como primeiro-ministro Giulio Raimondo Mazzarino, cardeal Mazarin, continuador da política de Richelieu. No entanto, a guerra dos trinta anos, iniciada em 1618, exigia gastos vultosos e a política fiscal passou a gerar muito descontentamento.
A nobreza e a alta burguesia se revoltaram no movimento denominado Fronda, cuja pretensão era conter o aumento do poder da monarquia. O fim do conflito, em 1653, foi o triunfo do absolutismo.
A França saiu fortalecida como potência européia da guerra contra a Espanha, entre 1648 e 1659, que terminou com a assinatura da paz dos Pireneus. Dois anos depois, assumiu o poder Luís XIV, o Rei Sol. A autonomia dos conselhos reais, mantida por Mazarin, foi revogada pelo rei, o mais absolutista de todos os soberanos franceses, que sintetizou numa frase a filosofia política do despotismo baseada na teoria do direito divino dos reis: "O estado sou eu."
Imbuído das idéias mercantilistas, Jean-Baptiste Colbert, ministro das Finanças de Luís XIV, promoveu o comércio, a navegação e a política colonial francesa, que se estendeu do Canadá ao Mississippi e incluiu a Guiana e a costa africana.
Durante os 22 anos de sua administração, manteve um programa de estabilidade financeira. O programa de Colbert, que assegurou anos de prosperidade à França, consistia no combate à ociosidade remunerada da nobreza e às guerras desnecessárias, mas teve de conformar-se às extravagâncias da corte suntuosa estabelecida por Luís XIV em Versalhes. Colbert disciplinou o artesanato e criou as manufaturas reais de móveis e tapeçarias (gobelins), espelhos e produtos têxteis.
O reinado de Luís XIV foi marcado por grandes progressos econômicos que, ao final, foram anulados pela revogação do Edito de Nantes e sucessivas guerras. Luís XIV morreu em 1715 e foi sucedido por seu bisneto, Luís XV, durante cujo reinado a burguesia se afirmou e a França perdeu suas colônias na Índia e no Canadá, em conseqüência da derrota para os ingleses na guerra dos sete anos.
A monarquia começava a se enfraquecer e a teoria do direito divino passou a ser contestada. A crise chegou ao ponto máximo no reinado de Luís XVI (1774-1792), quando a situação das finanças se deteriorou e se acentuaram as tensões sociais, o que preparou o povo para acolher os ensinamentos da Encyclopédie, de Jean Le Rond d'Alembert e Denis Diderot, que pregava a soberania da lei e da vontade popular sobre a vontade real.
Durante o século XVIII, os pensadores franceses se puseram à frente do movimento cultural conhecido como Iluminismo. Herdeiros do racionalismo do século XVII e animados pelo progresso das ciências naturais, os filósofos franceses prepararam o caminho das transformações sociais ao divulgar os princípios da razão, da crítica e da liberdade. Estava pronta a base filosófica da revolução francesa. No pensamento político e social do Iluminismo se destacaram o barão de Montesquieu, Voltaire e Jean-Jacques Rousseau.
Revolução francesa
A sociedade francesa do final do século XVIII dividia-se em três segmentos. Dois deles, o clero e a nobreza, exerciam grande influência na vida política e econômica da sociedade, enquanto o terceiro estado, composto pela burguesia, os artesãos e os camponeses, era representado apenas no sistema político.
Em 17 de junho de 1789, reuniram-se em Versalhes os Estados Gerais, que se constituíram em assembléia nacional, da qual, por ordem real, foi expulso o terceiro estado. Teve início, então, o processo revolucionário materializado com a formação da Assembléia Nacional Constituinte, em 9 de julho, e com a tomada da prisão do estado, a Bastilha, no dia 14 do mesmo mês.
Os choques entre representantes do povo e o rei, cada vez mais violentos, culminaram com a deposição de Luís XVI em 1792, sua execução no ano seguinte e a proclamação da república.
Começou, então, a época do Terror, caracterizada por um poder legislativo destituído de iniciativa e um executivo forte, com poder de ordenar execuções sumárias, em que se destaca Maximilien de Robespierre, líder do partido jacobino, que depusera o rei. A Grã-Bretanha aproveitou-se da situação de terror para formar uma coalizão contra a França.