PUBLICIDADE
Novas eleições deram o poder outra vez, em 1979, ao partido liderado por Adolfo Suárez, a União do Centro Democrático. Dificuldades políticas, no entanto, levaram Suárez a renunciar, em janeiro de 1981. No dia em que o Parlamento deveria dar posse ao novo presidente do governo, Leopoldo Calvo-Sotelo, também membro da UCD, ministros e deputados foram seqüestrados, no plenário das Cortes, por um grupo de guardas-civis. A atitude firmemente constitucional do monarca fez fracassar o golpe de estado.
Nas eleições disputadas um ano mais tarde, o Partido Socialista Operário Espanhol (PSOE) obteve maioria absoluta, mas a atuação moderada do primeiro-ministro Felipe González decepcionou seus partidários mais radicais. Ainda assim o partido conseguiu maioria absoluta nas eleições de 1986 e 1989. Nas eleições de 1993, voltou a triunfar.
Apesar do crescimento contínuo do desemprego - que no final da década de 1980 afetava mais de vinte por cento da população ativa - o governo do PSOE conseguiu manter uma situação estável nos anos seguintes, graças, em parte, a um crescimento moderado, mas sustentado da economia. A partir de 1986 a Espanha tornou-se membro efetivo da Comunidade Econômica Européia.
Tópicos deste artigo
Instituições políticas
O sistema político espanhol é regido pela constituição aprovada no referendo de 6 de dezembro de 1978, que reconheceu o direito à autonomia das nacionalidades e regiões do país. A forma política do estado é a monarquia parlamentar, e a soberania nacional reside no povo. São reconhecidas as liberdades religiosa, sindical e de partidos políticos, e se afirma à submissão dos cidadãos e dos poderes públicos à lei. A maioridade ocorre aos 18 anos. O poder legislativo é constituído pelas Cortes Gerais, compostas pelo Congresso dos Deputados e pelo Senado, cujos membros são eleitos por sufrágio universal a cada quatro anos, a menos que haja dissolução prévia das câmaras.
O chefe de estado é o monarca constitucional, cujo sucessor tem o título de príncipe de Astúrias.
Cabe ao rei propor um candidato à presidência do governo, o qual terá de ser aceito pela Câmara dos Deputados. O Conselho de Estado é o mais alto órgão consultivo do governo. O Tribunal Supremo constitui a última instância judiciária, mas o Tribunal Constitucional tem jurisdição sobre casos que envolvam os direitos constitucionais.
A Espanha é membro da Organização das Nações Unidas e de suas agências especializadas, do Conselho da Europa, da Comunidade Econômica Européia e da maior parte das organizações de cooperação técnica e econômica do continente, bem como da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN). Mantém um tratado de amizade e cooperação com os Estados Unidos e está estreitamente vinculada à maior parte dos países latino-americanos e as suas organizações regionais.
Organização territorial
Territorialmente, o país divide-se em municípios, províncias e comunidades autônomas. Estas últimas, organizadas segundo a constituição de 1978, constituem a forma pela qual se articulam no sistema político as diversas regiões e nacionalidades, anteriormente submetidas ao poder central. As comunidades autônomas possuem seus próprios parlamentos e governos, e em algumas delas o idioma autóctone é co-oficial, com o castelhano. O governo central se reserva numerosos poderes, mas o conjunto constitui um sistema muito próximo a um estado federativo.
Continua em vigor a divisão do território espanhol em províncias, mas desde a criação das comunidades autônomas esta estrutura administrativa perdeu grande parte de seu conteúdo. A divisão em províncias, feita em 1833, levara em conta os antigos reinos peninsulares; por essa razão, as novas comunidades autônomas se constituíram pela aglutinação de territórios provinciais, sem necessidade de segregar partes para recompor nacionalidades históricas.
Sociedade
Os diferentes indicadores socioeconômicos mostram a Espanha, desde meados da década de 1980, como um país desenvolvido. No entanto, a tardia expansão industrial, mesmo tendo permitido a completa superação do estágio de subdesenvolvimento, deixou a Espanha a uma considerável distância dos países do centro e norte da Europa. A antiga desigualdade social, mais visível nas regiões espanholas do sul que nas do norte, reduziu-se sensivelmente na década de 1960, quando a economia nacional experimentou forte desenvolvimento.
As profundas diferenças existentes entre o meio urbano e o rural, e entre as regiões industrializadas e as mais atrasadas, perderam força por efeito de um crescimento econômico que beneficiou todas as camadas da população. No final do século XX, o país era socialmente estável, de tipo europeu ocidental. A estabilidade política parecia mais ameaçada, pelas tendências desagregadoras surgidas em algumas nacionalidades, particularmente no País Basco, onde uma minoria procurava obter a independência nacional.
Em um contexto de liberdade sindical, existiam duas centrais sindicais hegemônicas: as Comissões Operárias, ligadas a diversos partidos comunistas, e a União Geral dos Trabalhadores, vinculada ao Partido Socialista Operário Espanhol. Comparada com a de outros países europeus, a filiação sindical, tal como a filiação a partidos políticos, era baixa.
A rede sanitária estatal é a mais importante do país, e embora não tenha ainda a eficiência da dos países europeus mais ricos, é relativamente complexa e desenvolvida. O país conta ainda com numerosos hospitais e institutos médicos beneficentes e gratuitos, pertencentes à Igreja Católica, à Cruz Vermelha e a outras instituições privadas.
No que diz respeito ao ensino elementar, praticamente toda a população infantil é assistida, mas nos níveis de segundo grau e universitário há ainda uma demanda reprimida. O país conta também com universidades e colégios privados.
O catolicismo é amplamente majoritário entre a população, em conseqüência dos históricos vínculos entre a igreja e o estado e à perseguição de outras confissões religiosas. Embora a sociedade espanhola tenha passado por um intenso processo de laicização na segunda metade do século XX, a Igreja Católica continua a exercer notável influência sobre a opinião pública e a receber um tratamento especial por parte do estado, sem prejuízo da liberdade religiosa, assegurada pela constituição de 1978. Grupos minoritários professam o islamismo, diversos credos protestantes e o judaísmo.
Cultura
A Espanha foi, durante séculos, o ponto de encontro de duas civilizações, a árabe e a européia. Tal fato determinou numerosas peculiaridades da cultura espanhola, que, sem deixar de ser ocidental, está marcada por séculos de convivência com o mundo muçulmano.
Nos séculos XVI e XVII não ocorreu na Espanha o intenso processo de secularização que afetou os países do norte do continente, e isso causou uma alteração no caminho seguido pela cultura espanhola, a que faltaram, entre outros, os componentes burgueses que caracterizaram o restante da Europa. Não obstante, na época da dinastia Habsburgo, e mais concretamente no século XVI e na primeira metade do século XVII, o país passou por um brilhante período artístico e literário, o chamado Século de Ouro.
Grandes artistas situaram a cultura espanhola na vanguarda do mundo ocidental: escritores e dramaturgos como Miguel de Cervantes, Mateo Alemán, Luis de Góngora, Francisco de Quevedo, Lope de Vega e Pedro Calderón de la Barca; arquitetos como Juan de Herrera e José de Churriguerra; e pintores como El Greco, Zurbarán, Velásquez e Murillo. No aspecto científico, contudo, o país permaneceu na retaguarda do mundo moderno. Os impulsos inovadores dos séculos XVIII e XIX não bastaram para "europeizar" a Espanha. Entre os europeus do norte ocorreu no século XIX um movimento romântico que tendeu a ver no sul dos Pireneus apenas o exótico, e não a realidade de uma cultura fundamentalmente européia, embora atrasada.
Depois do florescimento das gerações de 98 e 27 e da decadência cultural do pós-guerra, em fins do século XX a Espanha se abriu plenamente às correntes intelectuais européias e mundiais, sem que isso significasse uma renúncia às peculiares formas hispânicas de entender a vida.
Uma notável característica espanhola é a grande diversidade de conteúdos de sua cultura popular, variáveis segundo a região ou a nacionalidade.
Assim, regiões inteiras desconhecem as touradas, enquanto a música flamenca - considerada fora do país como a arte espanhola por excelência - só é cultivada em algumas poucas. Já a florescente produção literária em catalão, galego e idioma basco é muito pouco conhecida no exterior.
Século XX. A partir dos últimos anos do século XIX ocorreu um extraordinário despertar da criatividade espanhola nos campos literário, artístico, científico e filosófico. Entre as grandes figuras da cultura espanhola do início do século XX figuram os escritores Pérez Galdós, Leopoldo Alas (Clarín), Blasco Ibáñez, Miguel de Unamuno, Antonio Machado, Pío Baroja e Ramón del Valle Inclán; o dramaturgo Jacinto Benavente; o cientista Santiago Ramón y Cajal; o historiador Marcelino Menéndez Pelayo; o filósofo Romón Menéndez Pidal; o arquiteto Antonio Gaudí; os pintores Isidro Nonell, Santiago Rusiñol, Darío de Regoyos, Ignacio Zuloaga e Joaquín Sorolla; e os músicos Manuel de Falla, Isaac Albéniz e Enrique Granados.
A chamada Geração de 1910 caracterizou-se por uma forte conexão com as correntes culturais européias. Entre muitos outros, merecem destaque os ensaístas Eugenio d'Ors, Gregorio Marañón e José Ortega y Gasset; os historiadores Américo Castro e Claudio Sánchez Albornoz; os escritores Gabriel Miró e Ramón Gómez de la Serna; e o poeta Juan Ramón Jiménez. A Geração de 1927 levou a lírica espanhola a sua máxima altura, com Federico García Lorca, Rafael Alberti, Luis Cernuda, Vicente Aleixandre e Dámaso Alonso, entre outros.
Na arquitetura, a Espanha conheceu um brilhante período criativo nos anos anteriores à guerra civil. O engenheiro Eduardo Torroja foi um precursor na criação de grandes estruturas em concreto armado, e os arquitetos José Luis Sert e Secundino Zuazo incorporaram as concepções racionalistas às suas realizações.
Por sua vez, a história da pintura universal do século XX foi profundamente marcada pelos espanhóis Pablo Picasso, Juan Gris, Joan Miró, Antoni Tàpies e Salvador Dali.
A guerra civil produziu um corte brusco na produção intelectual. Alguns dos grandes criadores, como García Lorca, morreram durante seu transcurso, e grande número de outros teve de exilar-se ao final. Literatos como Ramón J. Sender, Max Aub, Juan Ramón Jiménez, Jorge Guillén e Fernando Arrabal trabalharam no exílio. No panorama cultural interno surgiram Camilo José Cela e Carmen Laforet.
Na década de 1980, a cultura espanhola se normalizou e se diversificou. O cinema, malgrado o reduzido suporte industrial, apresentou obras de grande valor, graças a diretores como Luis Buñuel, Luis García Berlanga, Juan Antonio Bardem, Carlos Saura ou Manuel Gutiérrez Aragón. A criação literária, bastante influenciada pela hispano-americana, em um universo cultural já muito unificado, adquiriu um dinamismo intenso, semelhante ao da indústria editorial.