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Élisée Reclus (1830-1905) foi um geógrafo e anarquista francês. Sua obra caracterizou-se, principalmente, por se diferenciar profundamente da maioria dos pensadores da Geografia de sua época. Apesar de realizar um trabalho de caráter positivista e de se opor ao marxismo, utilizou-se de algumas de suas categorias, como a luta de classes.
Reclus foi exilado da França por ter militado na Comuna de Paris (1871) e, por isso, realizou grandes viagens ao redor do mundo, passando pela Irlanda, Estados Unidos, Colômbia, Suíça e chegando, inclusive, a escrever uma obra sobre o Brasil, intitulada “Estados Unidos do Brasil”.
Em seus trabalhos, baseava-se no método descritivo, procurando não fazer nenhum tipo de oposição das características físicas e naturais com as humanas e sociais, o que diferia o seu pensamento de praticamente todos os geógrafos de sua época. Foi aluno do geógrafo alemão Carl Ritter, assim como do notório geógrafo Vidal de La Blache, produzindo tanto quanto ele. No entanto, La Blache ganhou mais notoriedade por apresentar uma teoria que favorecia as aspirações do Estado francês em sua época, ao contrário de Reclus que defendia uma ideologia que pregava o fim do Estado moderno.
É importante destacar, no entanto, que o anarquismo de Élisée não se reverberou tão profundamente em seus trabalhos geográficos. Tal fato deveu-se, primeiramente, à própria natureza do anarquismo, que condenava o caráter ideológico das ciências e, em segundo lugar, pelas constantes censuras que sofria por parte dos editores no que se referia à qualidade e direcionamento de suas críticas.
Mesmo assim, a sua enciclopédia La terre foi uma das obras mais difundidas no ensino acadêmico em razão de sua volumosa abrangência, sendo adotada por inúmeros professores universitários até a década de 1900, quando foi perdendo importância em virtude do lançamento da obra Tratado de Geografia Física, de Emanuel de Martonne.
Mesmo com todas as dificuldades de inserir seus ideais libertários no contexto do pensamento geográfico de sua época, Reclus publicou importantes considerações sobre questões sociais, como a luta de classes, a concentração de renda, a luta pela terra e a expansão colonial, sendo um ferrenho crítico dessa prática, o único entre os geógrafos.
Com o passar dos anos, suas obras foram perdendo cada vez mais a importância no contexto geográfico, sendo lida basicamente por intelectuais de esquerda e anarquistas. No entanto, no final do século XX e início do século XXI, com a hegemonia da chamada “Geografia Crítica”, seu pensamento foi resgatado e vem revelando cada vez mais contribuições no que se refere às possiblidades e rumos da Geografia, o que demonstra a atualidade de seus trabalhos.
Por Rodolfo Alves Pena
Graduado em Geografia