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O forte pendor religioso, característico da idade madura de Justino, tem raízes ainda em sua juventude. Ele, que foi pagão, criado em um ambiente cultural grego, naturalmente buscou na filosofia a satisfação de seus anseios espirituais. Esteve entre várias escolas filosóficas, dentre as quais se encontram a estoica, a pitagórica, a peripatética e a platônica. Esta última satisfez, temporária e parcialmente, seus anseios, por lhe fornecer a compreensão da existência das coisas imateriais, incorpóreas, sendo a filosofia a ciência da verdade, ou seja, aquilo que nos conduz a Deus, invariável e causa dos outros seres.
Até aqui, Justino parecia estar satisfeito; porém, quando se deparou com a questão sobre o que é Deus, uma vez mais percebeu a insuficiência do conhecimento filosófico em conhecer o intangível. Restou-lhe, então, converter-se ao cristianismo, em que a fé conduz a uma verdade absoluta, já que ela está, em parte, em cada indivíduo.
Dessa forma, Justino reformulou o conceito de filosofia, não mais vista como exercício especulativo do espírito, e sim como exercício da verdade parcial existente em cada alma que nos aproximaria de Deus e que necessita da verdade Revelada, isto é, do auxílio da fé. Esta, delimitando a razão, nos encaminharia à salvação e à graça. Para Justino, portanto, a verdadeira filosofia é o cristianismo.
Cristo representa a verdade, é a verdade total. Aqueles que, antes dele, fizeram um bom uso do lógos, participaram parcialmente da verdade; os que o fizeram depois, participam totalmente. Assim, há uma comunidade cristã, mesmo nos tempos antigos, pois aqueles filósofos compartilhavam do destino de Cristo, morrendo pela verdade. Como apologeta, e tendo essas considerações sobre os filósofos antigos, Justino implantou a filosofia no seio do cristianismo, o que permitia compreender a temporalidade e finitude do homem, caracterizando a noção de História.
Entretanto, a síntese entre a conversão de Justino pelo cristianismo e sua ligação com a filosofia grega (especialmente a platônica) acarretou inovações no debate filosófico-teológico da época. Por exemplo, a filosofia platônico-pitagórica acreditava na reencarnação sucessiva das almas que expiavam seus pecados num ciclo evolutivo. Essa ideia, no entanto, era inadmissível para o cristianismo da época, já que a ressurreição de Cristo e sua promessa de vida eterna davam a entender que cada indivíduo só tem uma alma que será julgada no juízo final, enquanto a reencarnação cíclica não permitiria a ideia de julgamento. Porém, tinham em comum que é através da alma que se busca e se chega a Deus.
Portanto, apesar das divergências de pensamento, Justino manteve-se um convicto cristão, pronto a defender a ideia do Deus morto que voltará para julgar os homens. Atesta-nos isso a sua morte como apologeta da boa-nova.
Por João Francisco P. Cabral
Colaborador Brasil Escola
Graduado em Filosofia pela Universidade Federal de Uberlândia - UFU
Mestrando em Filosofia pela Universidade Estadual de Campinas - UNICAMP