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Skate na Década de 70

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Ano 2000. Não temos carros voadores, nem colônias em Marte, nem a Terra está cheia de robôs como predisseram muitos. Mas uma coisa é certa: nunca o skate bombou tanto quanto nessa virada de século.

De brincadeira virou esporte, estilo e razão de vida para muitos, com é o meu caso, que entrando na casa dos 45*, ainda só consigo pensar em Skate.

Com vários brasileiros ocupando as posições de cima do ranking mundial, que inclusive conta com uma etapa realizada no Brasil, o Skate ocupa hoje um lugar de destaque no cenário (jovem, esportivo, cultural) brasileiro, com uma indústria própria que inclui vídeos, revistas e programas de TV especializados, com direito até a transmissão ao vivo de alguns dos principais eventos nacionais e internacionais!!!Mas nem sempre foi assim...

O Skate chegou ao Brasil na década de 60, com uma galera que começava a surfar por aqui, influenciada pelos anúncios na revista Surfer. Na época, o nome era “Surfinho” e era feito de patins pregados numa madeira qualquer, sendo as rodas de borracha ou de ferro!

Me lembro que em 1968 minha paixão eram 2 pranchas: a de surf, uma São Conrado de 9 pés e 8 polegadas, e a de Skate, um Nash Sidewalk Surfboards de 24 polegadas, com rodas de massa (clay wheels) e madeira laminada. Um Skate de verdade que consegui com um dos gringos que freqüentavam a Fortaleza São João, na Urca.

O pessoal do Consulado Americano usava o campo de futebol de lá para jogar baseball, e havia uma turminha que tinha alguns skates. Os moleques ficavam pra lá e pra cá nos quadras e os Skates deles me fascinavam.

Depois de uma conversa com um dos garotos, que queria mais era grana para comprar doce, aproveitei e mandei bala...acabei convencendo-o a me vender o seu Skate. Ainda me lembro do preço, 13 cruzeiros... e um cinto que o moleque gostou e insistiu em ter!

Na América, o Skate caiu no esquecimento, o mesmo aconteceu por aqui.

Até que, em 1974, o engenheiro químico, Frank Nashworthy, acidentalmente descobriu o Uretano, material de que são feitas as rodas de

Skate, e que viria revolucionar todo o esporte.

As novas rodas eram silenciosas e mais aderentes, fazendo assim com que os Skates fossem mais velozes e seguros.

Com o Uretano, surgiu o primeiro Boom do skate.

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O símbolo da época era Greg Weaver, o Cadillac Kid, e as ladeiras da Maria Angélica e Cedro, no Rio de Janeiro, já eram debulhadas pelos irmãos Marcelinho e Luizito Neiva, Marcelo Bruxa, Alexandre Gordo, Maninho entre outros. Enquanto que no Sumaré, em São Paulo, alguns skatistas, ávidos pelas emoções causadas pela velocidade, como Maçarico, Tchap Tchura e Kao Tai, começavam a despontar.

E pintaram as primeiras manobras, 360s, Wheelies, Handstands e coisas do gênero.

No Clube Federal do Rio de Janeiro, aconteceu o primeiro campeonato de skate do Brasil, vencido por Flavio Badenes, na Senior, e Mario Raposo, na Junior.

Os Skates eram quase todos importados, das marcas mais variadas: Bahne, Super Surfer, Cadillac, Hang Ten...

Os brasileiros eram o Torlay, feito pela fábrica paulista de patins , o Bandeirante, da fábrica de brinquedos de mesmo nome, e o RK, que era a cópia do americano Bennett Pro, o primeiro eixo feito especialmente para skate.

As rodas possuíam ainda o sistema de bilhas soltas, que repousavam em porcas cônicas, travadas por uma contra-porca e os eixos eram ainda os usados em patins. Até que em 1974, Dado Cartolano surgiu com uma novidade: o Vórtex, um Skate que tinha os eixos copiados do

Tracker Trucks, que era mais largo e assim possibilitava mais curvas, e as rodas Vórtex, cópias das gringas Road Rider, que substituiram de vez as bilhas soltas pelos rolamentos com porcas auto travantes.

Os campeonatos começaram a acontecer aqui e ali, a modalidade era o Freestyle com Piruetas, High Jump, Barrel Jump (saltos em altura e distância) e um Footwork ainda rudimentar. O cenário competitivo era dominado, no Rio, pela equipe Surfcraft que contava com, Maninho, Quinzinho, Alexandre Calmon, Luizito e Marcelo Neiva, e também pela equipe Waimea, que tinha Flavio Badenes, Mario Raposo e Paulo Soares, além de skatistas que andavam sem patrocínio e que arrepiavam, como era o caso de Luis de Jesus, o “Come Rato”. Já em São Paulo, a primeira Equipe de Skate a despontar foi a Costa Norte, uma firma de Surf, que além de pranchas, fabricava também materiais de Skate (rodas, eixos, tábuas), e que contava com Tchap Tchura e Kao Tai como membros. Mais tarde, vieram outras, como a Gledson e a DM, esta última chegou até a associar-se com a Pepsi na era “Wavepark".

Com o desenvolvimento do Skate, o próximo passo foi o aperfeiçoamento do terreno, já que desde o início, o Skate era praticado nas ruas, calçadas, estacionamentos, quadras esportivas, etc.. Havia uma necessidade de se criar áreas específicas para a prática deste novo esporte.

E foi assim que foram surgindo os Skateparks que rapidamente tornaram-se uma febre em todo o mundo.

(OBS.: Skatepark é masculino. É utilizado erroneamente A SKATEPARK, no gênero feminino, numa tradução livre para A PISTA DE SKATE. O correto é fazer a analogia com PARQUE DE DIVERSÕES, que é masculino. Logo, SKATEPARK também fica no masculino, pois significa O PARQUE DE SKATE)

No Brasil, a primeira pista de Skate a ser contruída foi a de Nova Iguaçu, no Rio de Janeiro, em 1976.

Foi tamém a primeira pista de Skate da América Latina, com dois Bowls de aproximadamente 20o de inclinação!

E ainda está aí, com mais de 24 anos prestados ao Skate...

Me lembro muito bem quando vi pela primeira vez a tal pista! Eu simplesmente pirei! Prá mim, era se como tivesse encontrado aquele pico de

Surf alucinante, com as ondas perfeitas quebrando pros dois lados, lisinhas e sem vento, uma fonte de diversão ilimitada e infindável.

Queria aquilo para mim... pensei comigo mesmo.

Depois desse dia, decidi que o Skate seria definitivamente parte da minha vida.

Esta pista mudou o enfoque do Estilo Livre para o "Bowlriding". Muito devido tambéma à influência da revista americana Skateboarde, que mostrava os skatistas em pistas e piscinas de fundo de quintal.

As manobras eram Berts, Batidas, Um e meio (um 360 e meio na transição) e linhas velozes a “la Surf”.

Em Julho de 1977, aconteceu em Nova Iguaçu, RJ, o primeiro campeonato de pista do Brasil, totalmente diferente dos eventos até então, que eram só de Freestyle ou Slalom.

As regras aplicadas foram a base para os regulamentos das competições atuais. Quem ganhou foi Maninho e em segundo ficou o local Quinzinho. Os dois, que mostraram as linhas desenvolvidas em muitas horas de treino, nessa que era a primeira de uma série de muitas pistas que o Brasil iria ter.

Uma delas surgiu em São Paulo. Era um gigantesco Snake Run feito de asfalto com bordas arredondadas, que desembocava num bowl de 50o

. Esse foi um presente que os paulistas receberam do Condomínio Alphaville, local que hoje possui algumas pistas de boa qualidade no seu complexo.

Aqui, Sampa entrou na era do Bowl Riding, com todos os skatistas paulistas querendo dropar na mais nova e arrojada pista do Brasil. O Skate, com as pistas, ganhava um ar de Surf no concreto, com as manobras bem similares a aquele, mas que viriam evoluir muito no futuro, tomando uma direção própria.

Na véspera do Natal de 1977, mais um capítulo da história do Skate nacional estava sendo escrito.

No Clube de Regatas do Flamengo acontecia a 1a demo de Skate do Brasil, onde foi mostrada a base do Freestyle, assim como o Skate em rampa, com a ação rolando num Quarter Pipe de madeira, com coping de PVC que chegava aos 90o !

Em SP, no ano seguinte, a Equipe DM saiu na primeira Tour de Skate que se tem notícia na nossa terrinha, contando com nomes como Sideney Ishi, Anésio, Wandy, Alois, Gini, Gean, Bola 7, Cláudio, Grilo e Jun Hashimoto.

O primeiro grande campeonato, que contou com um público de cerca de 2 mil e 500 pessoas, ocorreu no início de 78. O Torneio Luau de Skate, realizado no Circulo Militar de São Paulo, foi o primeiro evento a ter Slalom e Estilo Livre, além de contar com rampas na área de competição. As equipes de destaque de São Paulo foram a DM, Gledson e a Costa Norte, que contava com Kao Tai que venceu a modalidade Freestyle/Senior. Na Junior, Marcelo Neiva da Surfcraft, com uma rotina ensaiada ao som de Fleetwood Mac, mostrava porque era imbatível nessa modalidade.

No Slalom, quem venceu na Junior foi Nelson Kaena, enquanto que Ralph, da Wavepark, venceu na Senior.Em Minas Gerais, além do Freestyle e Slalom, aconteceram também campeonatos com a modalidade Speed, graças à geografia local, ou seja, muitas ladeiras! Nessa época, o ênfase para no Bowlriding estava se intensificando e, no Rio de Janeiro, surgia a pista de Jacarepaguá, que já contava com algumas transições mais radicais.

Muitos skatistas, de diversas partes do Brasil, sedentos por emoções verticais, construiram inúmeras rampas.

As manobras eram One Wheelers, Edgers, Snaps e Tail Blocks, e a linha de frente dos desbravadores do vertical estava no Rio de Janeiro, com Ernesto Tello, Mark Lewis, Marcelo Neiva, Eric Wilner e eu, que desde cedo me tornei “pistoleiro”.

Mas uma grande mudança viria a ocorrer no Skate Nacional. O foco desta mudança estava na Avenida Santo Amaro, em SP. Lá foi construída a Wavepark, por Charles Putz, um adolescente americano que morava no Brasil e estava amarradão em Skate. A pista era um sonho! Tinha bar, Pro Shop e dois Snakes que desembocavam em Bowls, sendo um deles Vertical. Tudo com um acabamento perfeito! Parecia saída das páginas da revista Skateboarder...

Da “Wave” surgiram os primeiros grandes Skatistas do vertical.Jun Hashimoto e Formiga, que juntamente com Ralf, Jofa, Kao Tai e Bruno Brown detonovam o local.

Com a proliferação das pistas e dos equipamentos, acontecia o 2o boom do Skate.

As manobras eram Lip Slides, Rock'n Roll, Carvings e Aéreals com os Skatistas desafiando a lei da gravidade!

“Onde vamos parar!”, pensava eu então...Mal sabia que estava por me tornar parte de algo novo, grandioso e revolucionário, a Cultura

Skate...Até então, as matérias de Skate eram apenas veiculadas em jornais e revistas não especializados, ou ainda em algumas revistas de surf.

Em 1978, Alberto Pecegueiro, hoje Presidente da Globosat e um dos responsáveis pelo Skate ter migrado para a TV a cabo, lançou a Brasil

Skate, uma revista própria para o esporte que crescia a olhos vistos.

Acontecia o Campeonato Brasileiro em Florianópolis, na pista de Jurerê - uma pirambeira construida ladeira abaixo.

Formiga mostrava em competição, pela primeira vez, ao mundo do Skate, os aéreals e vencia a Junior. Jun, chocando a todos com um Roll Out/Roll In impossível de ser imaginado para a época, vencia na Senior.

As pistas explodem por todo o Brasil, como a Cashbox e Franete, em São Paulo, ambas focadas no Bowlriding.

No Rio de Janeiro, era construida uma das maiores e mais modernas pistas, com um reservatório de 30 por 70m, um Half Pipe de 30 metros de comprimento, desembocando num Bowl de 13 metros, com paredes com transição variando de 1 metro até 3 metros e 20cm de altura!

Na inauguração, os skatistas da ZS mostraram toda a base do Skate vertical, lapidada aos poucos nas rampas construídas pela própria galera fissurada no vert! Surgem nomes novos, como os irmãos Carlinhos e Roberto “Lourinho” que moravam a uma quadra da mais nova pista.

Na linha da evolução natural do esporte, o Skate também foi se modificando.

Os shapes foram ficando mais largos e as rodas cônicas. Tudo para facilitar as manobras verticais.

A DM Pepsi realizou, em São Paulo, uma prova seletiva para escolher alguns skatistas para participarem de um campeonato da NSA (National Skateboarding Association), em Oceanside, Estados Unidos. Uma galera de peso ficaria responsável de representar pela primeira vez o Brasil numa prova internacional de Skate, com nomes como Formiga, Osmar Fossa, Jofa, Bruno Brown e Marcelo Neiva, que fora especialmente convidado devido a sua perícia no Freestyle, ficando entre os top 10. A final, que seria de 10 concorrentes, acabou acontecendo com apenas 6, fazendo com que Marcelo ficasse de fora.

A cena no Sul do país também dava sinais de amplo desenvolvimento com a realização do Campeonato Brasileiro, no Swell Skatepark, em Viamão, Rio Grande do Sul. A pista era uma Snake Run pequena que desembocava num Bowl com azulejos azuis e Coping. O local Chico

Preto fez a mala de Formiga e Jun Hahimoto, dois dos melhores "verticaleiros" do momento. Eu me lembro que nesse campeonato consegui comprar do Edu, que trabalhava na Wavepark, umas rodas Sims Conical amarelas e com elas consegui o 6o lugar.

Ainda no Rio Grande do Sul, outras pistas estavam surgindo como a do Parque da Marinha, em Porto Alegre, com seu gigantesco Snake e o extinto Bowl super vertical, e o Ramon’s Bowl, em Novo Hamburgo, que era uma réplica de uma piscina de fundo de quintal, dessas que que se via na revistas Skateboarder, com Coping, Azulejos, Shalow End e Deep End!

Os cariocas recebiam mais uma pista de presente: o Barramares, uma piscina “Eggbowl” com Shallow End, Deep End Coping e Azulejos que variava de 50 cms até 4 m e 20 de altura. Com ela, o Rio retomava a frente no Skate vertical.

Me lembro de sessions homéricas em clima de puro “Dog Town”, com Ernesto Tello, Mark Lewis, Come Rato, Osmar e Oscar Latuca, que eram os skatistas que dominavam a arte do Bowlriding nesta época.
36 km era a distância da minha casa ao Barramares e 75 km a distância até Campo Grande.

Foi neste dois locais que passei grande parte da minha vida, com um sorriso nos lábios e o carrinho nos pés.

Às vezes me perguntam por que o Skate... e eu repondo que Skate é a minha vida.
Através dele conheci pessoas e lugares, firmei minhas melhores amizades, perdi o medo e a vergonha de tentar, tentar até conseguir. O que, convenhamos, não é uma postura muito bem aceita por este sistema injusto que se chama Sociedade, onde só o acerto é recompesado.

Skate desenvolve a coordenação motora e a criatividade, exercita o corpo e a mente!

Texto escrito para o livro:
"A Onda Dura - 2 décadas de Skate no Brasil", 2000
Cesinha Chaves

Escritor do artigo
Escrito por: Brasil Escola Escritor oficial Brasil Escola

Gostaria de fazer a referência deste texto em um trabalho escolar ou acadêmico? Veja:

ESCOLA, Brasil. "Skate na Década de 70"; Brasil Escola. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/educacao-fisica/skate-70.htm. Acesso em 21 de dezembro de 2024.

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