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As questões relacionadas à preservação do meio ambiente vêm se tornando uma preocupação crescente na sociedade mundial desde pelo menos a década de 1970, com a intensificação dos debates internacionais sobre essas questões. Essa tomada de consciência está ligada à constatação de que o homem depende intimamente de um ambiente saudável que garanta condições adequadas à manutenção da vida em diversos níveis no presente e no futuro.
No começo do século XX, o Serviço Florestal empreendido pela Companhia Paulista de Estradas de Ferro (CPEF) – que foi um dos primeiros projetos de reflorestamento desenvolvidos no Brasil – encarregou o cientista/agrônomo Edmundo Navarro de Andrade a pesquisar qual a espécie vegetal que melhor se adaptaria ao meio ambiente e às exigências da empresa, visando dar provisão às suas necessidades de combustível – para mover as locomotivas – e também de dormentes para o assentamento de trilhos ao longo de suas linhas férreas.
Como o avanço do café estava acabando com as reservas florestais e com a madeira necessária às locomotivas, além das vias permanentes estarem ficando cada vez mais distantes, o reflorestamento tornou-se relevante. Diante disso, o engenheiro agrônomo Edmundo Navarro de Andrade iniciou o cultivo de eucalipto, em 1903, em Jundiaí, seguido de outros projetos, os quais resultaram em Hortos Florestais, como os de Aimorés, em Bauru; Bebedouro, Bela Vista, em Iperó; Boa Sorte, em Restinga; Brasília, em Cabrália; Córrego Rico, em Jaboticabal; Descalvado, Camaquã, em Ipeúna; Guarani, em Pradópolis; Loreto, em Araras; São Carlos, Sumaré, Mogi Mirim, Tatu, em Limeira; e Rio Claro.
As pesquisas de Navarro no Serviço Florestal dessa empresa particular tornaram-se bastante conhecidas já em sua época, em virtude da grande eficiência e valor de seus resultados. De fato, Navarro tornou-se uma personalidade bastante conhecida nacional e internacionalmente. Acumulou diversas homenagens no Brasil e no exterior, graças às suas pesquisas de aclimatação e utilidade de Eucalyptos (gênero vegetal que escolheu como sendo o melhor para a finalidade de seu trabalho), tornou-se membro da Academia Paulista de Letras em 1939, secretário dos Negócios da Agricultura, Indústria e Comércio do Governo de São Paulo em 1930, entre outros cargos importantes. Publicou mais de uma dezena de livros sobre seus estudos – que se fossem traduzidos do Português, fariam dele a maior autoridade em eucaliptos no mundo.
O Brasil possui atualmente cerca de 6 milhões de hectares em área reflorestada com eucaliptos que são destinadas à produção de carvão vegetal para a indústria siderúrgica e de ferroligas, para produção de celulose, papel, painéis de madeira e outros subprodutos, como tecido sintético, cápsulas de remédios, produtos de limpeza, alimentos, perfumes e medicamentos. Em uma proteção racional às florestas nativas, cresce a cada dia o uso da madeira sólida proveniente dessas plantações florestais. Embora muitas vezes criticadas pela opinião pública como uma ameaça às florestas naturais, as florestas plantadas de Eucalyptus e Pinus cumprem, na verdade, um papel de compensação, fornecendo a matéria-prima que de outra forma seria obtida das florestas naturais. Além disso, os eucaliptos são árvores de crescimento rápido, de alta rotatividade natural e comercial, pois possuem diversas aplicações e utilidades, assim como já havia notado Navarro de Andrade anteriormente.
Em um país que fez e ainda faz pouco caso com as suas florestas naturais, o trabalho de uma empresa particular para sanar suas necessidades foi de um exemplo sem igual no Brasil e merece sua atenção e pesquisas históricas.
Por Amilson Barbosa
Colunista Brasil Escola