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Se existe um fenômeno que parece estar com seus dias contados este é o isolamento social, seja de um grupo em relação aos outros à sua volta, seja o isolamento individual de uma pessoa em relação à comunidade, sociedade ou cultura na qual está inserida. Mas por que desapareceria? A resposta para tal questão perpassa pelo desenvolvimento dos meios de comunicação e informação, como a internet, os quais, ao final do século XX e início do século XXI, têm promovido um maior contato entre todos os pontos e povos do planeta. Somos considerados antípodas dos japoneses (pois estaríamos do lado oposto do globo terrestre em relação ao Japão), mas, mesmo assim, as notícias de tsunami e maremotos chegaram ao Brasil (e resto do mundo) em poucos minutos após os acontecimentos. Isto apenas foi possível graças às novas tecnologias e mídias que acabaram por ‘diminuir distâncias’.
Mas o que dizer, então, mais especificamente, dos relacionamentos pessoais nesse mundo virtual? Com o advento da internet, as formas de comunicação e interação sofreram uma importante revolução. As antigas cartas de papel e as ligações telefônicas, apesar de ainda existirem, perderam espaço para o mundo das salas de bate-papo, mensagens de texto instantâneas, e-mails, além de várias redes sociais. Facebook e Orkut são bons exemplos desses novos tipos de relacionamentos mediados pelo computador, pela internet, pela tecnologia. De fato, a possibilidade da conexão com um grande número de pessoas, somada à velocidade com que comunicação e informação chegam a cada pessoa, são todos atrativos dessas novas tecnologias. A cada dia cresce o número de pessoas conectadas e os usuários desses espaços, os quais dedicam parte considerável de seu tempo à interação virtual, na busca por amizades, relações amorosas, empregos, entre outras finalidades.
Quais as consequências para a vida humana? Essas relações são de verdade? São efetivas e afetivas de fato? São confiáveis? Essas são perguntas que aqui não se tem a pretensão de responder, mas apenas de fazer um convite à reflexão. A psicóloga e socióloga Sherry Turkle defende em seu trabalho que por conta dessa virtualização das relações os indivíduos estariam perdendo a capacidade de lidar com as complexidades das relações humanas. Mais especificamente, ela propõe que a despeito de pensarmos que estamos juntos e da sensação de companhia, estamos na verdade sozinhos. Logo, esse tipo de relacionamento virtual possui fragilidades do ponto de vista da vida e do sentido das relações humanas de fato.
Considerando que as pessoas podem construir personalidades e identidades que nem sempre são condizentes com a realidade, as relações mediadas pela internet podem ser um engodo, o que sugere que as proximidades virtuais não são, necessariamente, efetivas como as reais. Em um momento em que se valoriza o individualismo como sentido da vida, e prefere-se a comunicação escrita intermediada pelo computador em detrimento à conversa direta – olho no olho – corre-se o risco de se construir relações fragilizadas pela falta da presença humana.
Não se pode negar o papel que as redes sociais e demais formas de comunicação por meio das tecnologias possuem na conformação da sociedade. Elas são importantes não apenas para a comunicação, mas para a troca de informações e conhecimento (basta pensarmos na quantidade de dados e conhecimentos que estudantes e pesquisadores de todo mundo podem acessar), além de serem fundamentais no que diz respeito ao mundo da economia, do trabalho, da prestação de serviços, entre outros (até mesmo intervenções médicas são feitas pela rede em tempo real).
O que se deve considerar é que por trás do discurso da vida moderna e das benesses da tecnologia (ou pelo menos por trás desse encanto que a tecnologia exerce) se escondem efeitos colaterais que, na verdade, podem representar retrocessos no sentido da valorização daquilo que nos torna humanos quando se trata de relação pessoal. Os relacionamentos humanos requerem um tipo de atenção que, conforme aponta Sherry Turkle, não pode prescindir da atenção humana ou da presença real.
Assim, retomando a questão do isolamento presente no início desse breve texto, se por um lado esse fenômeno parece estar em extinção (isolamento no sentido de desconhecimento ou alienação dos acontecimentos ao redor de um grupo ou indivíduo), do ponto de vista da vida individual dos sujeitos e das relações sociais, ele se faz muito presente. O isolamento estaria implícito, camuflado pela sensação do compartilhamento, da companhia, ambas criadas pelo mundo virtual. Logo, podemos sofrer de uma solidão ou de um vazio existencial mesmo que repletos de amigos nas redes virtuais. Como apontam os especialistas, uma possível solução não estaria em se desconectar, mas sim em não substituir a vida real por uma virtual.
Paulo Silvino Ribeiro
Colaborador Brasil Escola
Bacharel em Ciências Sociais pela UNICAMP - Universidade Estadual de Campinas
Mestre em Sociologia pela UNESP - Universidade Estadual Paulista "Júlio de Mesquita Filho"
Doutorando em Sociologia pela UNICAMP - Universidade Estadual de Campinas