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A sociologia compreende que toda sociedade é formada por indivíduos que possuem uma gama enorme de “ferramentas” (linguagens, normas, valores etc) que são utilizadas em seus esforços diários em seus diferentes meios e contextos sociais. Essas ferramentas servem para que o indivíduo consiga se guiar e navegar pelo mar de informações e significados diferentes com os quais entra em contato a todo momento.
É interessante pensar que realizamos constantemente um complicado malabarismo com as possíveis interpretações de nossas experiências e ainda levamos em conta a forma como o outro, aquele com o qual interagimos, receberá as diferentes mensagens que enviamos por via de nossas inúmeras formas de comunicação.
Não apenas isso! Ainda sabemos como nos portar, quais palavras utilizar em um momento ou em outro, qual camisa posso usar no trabalho e qual uso em casa, se devo parar na faixa de pedestre ou se ainda posso jogar lixo no chão. Sabemos, como dizemos por aí, que “ninguém nasce sabendo”, então de onde tiramos todas essas habilidades?
Educação e Sociedade
Todo o aparato que possuímos não está diretamente atrelado à nossa constituição biológica. Muito embora essa exerça influência, não nascemos sabendo uma língua ou o que a luz vermelha de um sinal de trânsito significa. Essas são habilidades adquiridas através dos muitos processos de educação pelos quais passamos no decorrer de nossas vidas. O processo educacional é uma das várias maneiras de uma sociedade manter sua estrutura e seu fundamento. O indivíduo que a integra deve entendê-la e, para isso, deve possuir os meios para tanto.
A educação que integra o centro do processo de nossa formação social é determinada pelas regras, normas morais, éticas, costumes e língua, comuns aos demais integrantes que anteriormente receberam esse mesmo conjunto de aparatos para que pudessem se guiar por sua realidade.
Dois importantes autores da sociologia, Pierre Bourdieu e Jean Claude Passeron, dedicaram-se a estudar as instituições e as diferentes formas da educação em sociedade. Esses autores observam que a educação é uma instituição de reprodução social, ou seja, a educação serve para passar adiante as formas normalizadas de uma construção social. Para simplificar, a educação é o órgão do sistema de uma sociedade responsável por manter a constante reinstauração da ordem estabelecida.
Devemos nos lembrar que ao falarmos de instituições educadoras não estamos nos referindo apenas à escola, é importante entendermos que o processo educacional não começa e não ocorre apenas na escola. Como lembram Bourdieu e Passeron, a primeira instituição educadora é a nossa família e é dela que herdamos parte de nossas “ferramentas sociais”. Apenas mais tardiamente, salvo as óbvias exceções, é que seremos introduzidos ao mundo da escola.
A educação e o indivíduo
ão é correto presumir que nascemos sabendo de tudo, mas também não é correto presumir que o processo de formação do indivíduo na educação é algo completamente passivo. Nossa individualidade toma parte de nossa formação, uma vez que não nos tornamos pessoas com a mesma forma de pensar, não tomamos sempre as mesmas decisões e não temos exatamente as mesmas concepções de certo e de errado. A situação econômica, as tradições herdadas e as diferenças de oportunidades diferenciam nossa forma de enxergar e interpretar eventos, de tal forma que mesmo dividindo o mesmo espaço social nos tornamos essencialmente diferentes. Grande parte de nossa formação como indivíduos está sujeita a nossas experiências de vida e as interpretações que tiramos delas.
É exatamente por isso que a educação escolar deve ser flexível e inclusiva diante das diferenças que todos nós temos. A convivência harmônica dos indivíduos diferentes deve ser sempre o objetivo último de nosso processo educacional.
Por Lucas Oliveira
Graduado em Sociologia