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O Tambor da mata ou terecô é uma religião afro-brasileira costumeiramente associada à região de Codó, cidade na região do cerrado maranhense, localizada a 300 km da capital São Luís. Não se restringindo apenas a esse primeiro estado, o terecô também se mostra integrado à prática de outras religiões como o Tambor de Mina e a Umbanda. Além disso, sua prática também originou o babassuê (ou Barba Soeira), religião descrita por Mario de Andrade, no ano de 1937.
As primeiras manifestações do terecô teriam sido realizadas antes da abolição, quando os escravos das fazendas de algodão de Codó o praticavam secretamente, no interior das matas. Com o fim da escravidão, os rituais teriam se deslocado para alguns povoados negros e, na cidade de Codó, às margens da Lagoa do Pajeleiro. Logo depois, foram construídos os primeiros salões onde os descendentes de escravo e outros trabalhadores deram continuidade à religião.
Muito ainda se discute sobre a origem etimológica da palavra terecô, que determina o nome desta religião. A imprecisão do significado foi, durante muito tempo, a justificativa para que se acreditasse que o termo tivesse origem onomatopaica. Ou seja, “terecô” seria um termo que faz referência ao barulho dos tambores utilizados no culto. Contudo, hoje também se trabalha que sua origem esteja ligada ao termo “teeleko”, que significa “celebrar ou louvar pelos tambores”.
Uma das mais reconhecidas práticas do terecô está relacionada aos poderes de cura e doença que os pais e mães de santo possuem no interior de seus terreiros. Na cidade de Codó, assim como em outras regiões do Maranhão, espalhou-se a fama de terecozeiros que poderiam lançar ou curar determinados feitiços. Segundo a crença, esses poderes estariam associados aos conhecimentos ocultos de indígenas, velhos africanos e outras religiões praticantes de feitiçaria.
No terecô observamos o culto de determinados voduns africanos e a existência de transes que são exclusivamente provocados pelos “voduns da mata”. No panteão de suas divindades, os praticantes do terecô organizam os seus deuses por uma hierarquia de famílias. A mais importante família de deuses está ligada à polêmica entidade Légua Boji Boá da Trindade, conhecida como “príncipe guerreiro”, “preto velho angolano” ou filho de Dom Pedro Angassu e Rainha Rosa.
Em sua vertente mais tradicional, o terecô inicia seu ritual com uma “louvaria”, na qual se canta em língua africana, dizendo o nome das entidades mais importantes e repetindo o termo “novariê”. Em geral, o acompanhamento musical do terecô é realizado com um grande tambor de membrana única chamado de “tambor da mata”. Em algumas situações, maracás, abata (outra espécie de tambor) e atabaque também compõem o universo sonoro do evento religioso.
A presença masculina em um terreiro de terecô é bem mais expressiva se comparada a outras manifestações religiosas afro-brasileiras. Os homens utilizam uma indumentária bastante elaborada, que faz lembrar a alva dos sacerdotes católicos. Além disso, os terecozeiros vestem boinas, quepes, chapéus de feltro e de vaqueiro durante as reuniões. Além dos voduns, o terecô também se dedica à adoração de algumas figuras da antiga nobreza europeia.
Por Rainer Sousa
Graduado em História