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Tique ou Toc?

A confusão entre tique e TOC pode se dar pelo caráter repetitivo dos comportamentos, mas as diferenças entre os dois transtornos são bastante significativas.

O ato de lavar as mãos repetidas vezes pode ser considerado uma compulsão – característica dos portadores de TOC
O ato de lavar as mãos repetidas vezes pode ser considerado uma compulsão – característica dos portadores de TOC
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Muitas pessoas tendem a confundir dois transtornos bastante diferentes: o Tique Nervoso e o Transtorno Obsessivo Compulsivo (TOC). Isso se dá pela semelhança da repetitividade dos comportamentos em ambos os casos, mas vale a pena conhecê-los melhor, para identificar, com mais segurança, de que tipo de problema estamos falando.

O que é Tique?

Segundo o DSM IV, que é um Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, um tique pode ser compreendido por sua característica predominante de ser um movimento involuntário. Nesse sentido podemos compreender o tique enquanto um movimento do corpo sobre o qual não temos controle, por exemplo: um olho piscando, um movimento muscular, uma vocalização recorrente etc. Assim, podem ser divididos entre tiques motores e vocais.

Todo tipo de tique é diretamente associável a condições de stress e ansiedade. Mudanças bruscas na rotina, por exemplo, de uma criança podem ser geradoras de uma resposta como um tique. Da mesma forma que aparecem, os tiques tendem a desaparecer espontaneamente após um certo período (12 meses em média). Uma característica bastante curiosa dos Tiques é que durante atividades que exigem concentração ou durante o sono, esses movimentos diminuem significativamente. É importante ressaltar então a ineficácia de métodos como atentar para os tiques ou repreendê-lo, uma vez que, sendo um movimento involuntário, a ausência de controle sobre esse comportamento que está sendo reprimido pode apenas aumentar a ansiedade e o estresse. Alguns autores defendem, por exemplo, que a melhor forma de lidar com os tiques é ignorar sua ocorrência, buscando antes compreender os motivos que levaram ao desenvolvimento de uma resposta como essa.

Apesar de grande parte dos tiques desaparecer espontaneamente, existem alguns casos em que o tique se torna crônico. Quando o quadro se agrava e persiste por mais de um ano, pode-se dizer que configura o que conhecemos como Síndrome de Gilles de la Tourette, um transtorno associado a inúmeras situações estressantes e que se configura como uma dificuldade séria de relacionamento, atenção e concentração que, diferentemente do tique, exige intervenção e tratamento especializado.

O que é TOC?

O TOC é considerado um transtorno de ansiedade, cujo diagnóstico está basicamente focado para rituais e obsessões. Segundo o DSM IV, o diagnóstico de TOC implica necessariamente na presença de obsessões e compulsões. Para serem considerados obsessões, os pensamentos precisam atender a quatro critérios:

- Os pensamentos devem ser persistentes, intrusivos, impróprios e recorrentes que causam ansiedade e desconforto.

- Diferenciarem-se de uma simples preocupação exagerada com problemas reais da vida.

- Pensamentos que a pessoa tenta constantemente ignorar ou neutralizar com outros pensamentos ou ações.

- São pensamentos impulsivos e obsessivos que a pessoa reconhece como produtos de sua mente e não como algo externo.

Já as compulsões são compreendidas como sendo de dois tipos: comportamentos repetitivos de resposta ou de prevenção. Os primeiros são aqueles que a pessoa realiza como resposta à obsessão, obedecendo às regras que criou para si. Já os segundos compreendem comportamentos que têm a função de prevenir o desconforto ou algum evento que possa causar esse desconforto gerado pela ansiedade. As compulsões podem ser ações diversas: lavar repetidas vezes as mãos, verificar, contar, repetir palavras etc.

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Existem ainda características importantes quanto ao curso do desenvolvimento das obsessões e compulsões. Para que se diagnostique o TOC é necessário que, em algum momento, a pessoa tome consciência do exagero de suas ações. É necessário também que esses comportamentos estejam, de alguma forma, comprometendo significativamente a vida da pessoa, interferindo, por exemplo, em sua convivência social, a realização de seu trabalho ou estudos. Por último, não se pode deixar de lembrar que para ser considerado TOC, os comportamentos não podem ser resultado, por exemplo, do uso de drogas ou de outras substâncias. 

Apesar de parecer bastante complexo, o diagnóstico de TOC não é tão difícil, uma vez que fica evidente o quanto as obsessões e compulsões atrapalham a vida da pessoa. Muitas pessoas têm vergonha de falar sobre comportamentos compulsivos ou desconhecem o alcance das consequências negativas de tais repetições. O tratamento envolve acompanhamento psicológico e, em casos mais específicos, farmacológico, em sua maioria voltado para o controle da ansiedade.

Por que as pessoas confundem tanto Tique e Toc?

Como discutimos, em ambos os casos a presença de repetições pode ser o caráter que leva a confundir os dois transtornos. É importante ressaltar, portanto, a diferença na origem e nos desdobramentos nos casos de tiques e do TOC. No primeiro, a origem pode ser uma situação de stress qualquer, da qual a pessoa não tem consciência, gerando comportamentos motores ou vocais involuntários e sem função. Já no caso do TOC, a pessoa apresenta consciência do exagero de seus comportamentos, mas estes tem função de diminuir a ansiedade, tirando o foco do pensamento das obsessões.

Como saber mais?

Uma estratégia interessante é comparar os personagens de dois filmes, um com TOC e outro com tique. O filme Melhor Impossível (As Good as It Gets - 1997) conta a história de Melvin Udall (Jack Nicholson), um escritor com Transtorno Obsessivo Compulsivo. Já o filme O Líder da Classe (Front of The Class – 2008) conta a história de Brad Cohen (Jimmy Wolk), que tem Síndrome de Tourette.


Juliana Spinelli Ferrari
Colaboradora Brasil Escola
Graduada em psicologia pela UNESP - Universidade Estadual Paulista
Curso de psicoterapia breve pela FUNDEB - Fundação para o Desenvolvimento de Bauru
Mestranda em Psicologia Escolar e do Desenvolvimento Humano pela USP - Universidade de São Paulo

Escritor do artigo
Escrito por: Juliana Spinelli Ferrari Escritor oficial Brasil Escola

Gostaria de fazer a referência deste texto em um trabalho escolar ou acadêmico? Veja:

FERRARI, Juliana Spinelli. "Tique ou Toc?"; Brasil Escola. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/psicologia/tique-ou-toc.htm. Acesso em 21 de dezembro de 2024.

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