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Quem foi Jung?
Carl Gustav Jung nasceu na Suíça em 1875. Criado numa atmosfera religiosa que não compreendia e que custava a sustentar, Jung interessou-se pelo mundo dos sonhos, da fantasia, da religião e dos mitos. Alguns estudos dizem que a proximidade com o divino é algo que Jung atribuiu a uma espécie de herança materna, enquanto que a fé no sentido do ritual cego e inquestionado teria sido algo herdado de seu pai.
Além das questões religiosas, Jung aproximou-se de conhecimentos em ciências naturais, com um interesse desperto pela possibilidade de compreensão da realidade através desses estudos. Para Jung, a contrariedade entre ciência e religião era a base de suas insatisfações. Em meio a esses questionamentos acerca do mundo, Jung decidiu-se pelos estudos em psiquiatria, como forma de compreender o biológico e o espiritual cientificamente. Entre os autores que estudou, podemos destacar as influências filosóficas de Kant, Platão , Goethe e Schopenhauer.
Em seus estudos em psiquiatria e na prática clínica, Jung tentou humanizar o serviço de atendimento aos pacientes, buscando investigar, para além dos sintomas, as questões existenciais que cada sujeito lhe trazia, tornando cada sessão clínica um encontro único, repleto de significados. Dessa forma, evitava rotulações aos pacientes e padronizações em termos de cuidados e tratamentos, ressaltando os aspectos individuais de cada caso. Nessa época, Jung já utilizava uma técnica rudimentar de associação de palavras, que dava grande valor aos relatos de seus pacientes.
A relação com Sigmund Freud
Mais tarde, Jung mudou-se para Paris e começou a realizar testes de seu experimento associativo visando sua utilização para diagnósticos. Nesse momento de sua carreira, Jung conheceu Sigmund Freud e sua obra e os dois passaram a trocar trabalhos e cartas, casos clínicos, teorias etc. A primeira conversa dos dois estudiosos teria durado treze horas ininterruptas, que foi o início de uma relação de trocas que duraria quase sete anos.
O rompimento das relações se deu por motivos teóricos: Freud não aceitava o interesse de Jung pelo espiritual como campo de estudo em si e Jung discordava das teorias do trauma sexual propostas por Freud. Nos anos do rompimento, Freud teve seus livros queimados pelos Nazistas, enquanto que as teorias de Jung se disseminavam e ele era visto como um dos mais significativos expoentes da psiquiatria alemã. Foi justamente a angústia da separação entre Jung e Freud que rendeu material para que Jung pudesse continuar seus estudos, agora muito mais voltados para os estudos da relação indivíduo e imaginação, afastando-se das teorizações sexuais de Freud.
A psicologia analítica de Jung
A partir de seus estudos, Jung desenvolveu o que mais tarde ficaria conhecido como “Psicologia Analítica” que investiga sonhos, desenhos e outros materiais como vias de expressão do inconsciente. Jung, diferentemente de Freud, assumiu a existência do que ele denomina inconsciente coletivo que, diferentemente do individual, seria composto por uma tendência à sensibilização de elementos como imagens e símbolos, a partir de um apelo universal. Esses símbolos de importância coletiva seriam os conhecidos arquétipos junguianos. A proposta de intervenções clínicas de Jung consistia justamente em explorar o diálogo entre os conteúdos inconscientes e os arquétipos, e seria justamente a distância entre esses elementos a origem do adoecimento psíquico.
No Brasil, a teoria junguiana teve bastante ressonância. Entre seus estudiosos mais conhecidos, está a Dra. Nise da Silveira que escreveu um livro chamado “Jung: Vida e Obra”. Nise é fundadora do Museu de Imagens do Inconsciente, que foi resultado de seu incansável incentivo às produções artísticas dos internos do hospital psiquiátrico, analisadas pela abordagem junguiana.
Como saber mais?
A fonte mais expressiva de informações sobre Carl Gustav Jung é sua autobiografia, intitulada “Memórias, Sonhos e Reflexões”, lançada em 1961.
No ano de 2012, David Cronenberg dirigiu o filme “A Dangerous Method” (Um Método Perigoso) que conta a história do encontro entre Freud e Jung, além de abordar as vicissitudes da união e separação das teorias.
Juliana Spinelli Ferrari
Colaboradora Brasil Escola