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O que é um amigo imaginário?
O amigo imaginário é o que se pode chamar de uma construção simbólica, presente em grande parte das vivências infantis, entre os três e sete anos de idade. Alguns autores indicam que é o que se pode chamar de experiência de um nível saudável de esquizofrenia, importante para a construção da personalidade das crianças. Existem autores que defendem que o amigo imaginário não é apenas uma fantasia da criança. É o que se pode chamar de um delírio. Pode-se entender, a partir de leituras como essa, que os amigos imaginários representem os conteúdos recalcados da vida infantil. Motivo este que normalmente representa um poder maior sobre a própria vida que a criança. Assim, o amigo imaginário representaria o retorno desses conteúdos projetados para fora no outro imaginado.
Quando aparecem os amigos imaginários?
Quando a criança começa a aumentar seu vocabulário, completando frases, adquirindo capacidades como a de contar e comer sozinha, o que ocorre por volta dos três anos, é comum que elas passem por processos como o de construção de um Amigo Imaginário durante a fase lúdica.
Algumas pessoas acreditam que os amigos imaginários sejam privilégio de crianças pequenas e que sua presença nas relações de crianças maiores indicaria algum tipo de desvio, mas isso não é verdade. Pesquisadores como Marjorie Taylor defendem a ideia de normalidade no comportamento de ter um amigo imaginário. Alguns casos investigados mostram pessoas que conservam o Amigo Imaginário até a idade adulta. Pesquisas da Universidade de Stanford mostram que entre 20 e 30% das crianças apresentam, pelo menos temporariamente, uma companhia invisível.
A criança realmente vê o amigo imaginário?
Não. É importante ressaltar que as crianças, em sua maioria, têm consciência de que os amigos imaginários não são reais e só existem na sua imaginação. Por mais que sejam capazes de fazer descrições extremamente detalhadas sobre seus amigos, as crianças não os estão vendo. A distinção entre a relação estabelecida com o amigo imaginário ou com um personagem fruto de um delírio patológico não é difícil. Isso porque, no caso do amigo imaginário, a criança está sempre no controle, ou seja, nunca é dominada pela personagem que criou. Além disso, o tempo de duração da relação é bastante distinto em ambos os casos.
Por que os amigos imaginários aparecem?
Os amigos imaginários podem ter diferentes funções na vida de uma criança. A maioria dos casos acontece quando a criança, de alguma forma, sente-se sozinha. Estudos da Universidade de Oregon afirmam que 70% das crianças que tinham amigos imaginários eram os filhos mais velhos ou filhos únicos. Outras dimensões importantes são as mudanças drásticas na rotina das crianças: quando entram na escola, quando deixam de ser filhos únicos, quando um dos pais se ausenta por longos períodos, quando a criança perde um ente afetivamente relevante, quando muda de casa etc. Nesses momentos, o amigo imaginário aparece com a função de aliviar o penoso processo de transição. Quando as situações se restabelecem, a tendência é que os amigos imaginários desapareçam. O amigo imaginário pode aparecer ainda em momentos em que a criança tem dificuldades em aceitar as regras que lhe são impostas. Assim, esse companheiro realiza as atividades que lhe são impedidas. Podem também funcionar como conselheiros, apontando erros e acertos, fornecendo os reforços que a criança precisa para continuar, por exemplo, uma atividade escolar.
Como saber mais?
A revista Super Interessante de novembro de 2010 trouxe uma sessão especial bastante interessante sobre Amigos Imaginários, que está disponível on-line no site da revista. Além disso, a já citada pesquisadora Marjorie Taylor tem em seu site Imaginary Companious inúmeros dados importantes sobre os conceitos e ocorrências da criação de amigos imaginários na vida das crianças.
O desenho animado “A Mansão Foster Para Amigos Imaginários” retrata o cotidiano de companheiros que foram desprezados por seus amigos reais. Pode ser uma ferramenta interessante de análise dos conteúdos dos personagens que as crianças deixam pra trás ao longo de seu desenvolvimento.
Juliana Spinelli Ferrari
Colaboradora Brasil Escola