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O desenvolvimento da indústria do entretenimento, consolidado ao longo de todo o século XX, causou uma transformação bastante interessante no que se refere à circulação dos bens culturais. Séculos atrás, os ícones, obras artísticas, livros e músicas tinham um grau de consumo e reconhecimento bastante restrito às comunidades que estavam próximas e compartilhavam dos valores de tais manifestações. Com a criação do rádio, da televisão e, por último, da internet o alcance da arte se transformou enormemente.
Um indivíduo qualquer ou artista pode reproduzir uma mesma obra centenas de vezes e utilizar de recursos cada vez mais avançados com o intuito de divulgar ou reler uma determinada obra de arte. Tal movimento ganhou mais força quando, na década de 1960, a chamada pop art reivindicava a reinvenção das fontes de trabalho do artista e a ampliação de seus referenciais temáticos. A partir de então, a cultura perdeu uma relação de obrigatoriedade com o local de nascimento das pessoas.
Essa popularização da arte pode gerar fenômenos que tendem a massificação, onde populações do mundo inteiro começam a incorporar padrões oriundos de outras culturas. Em contrapartida, podemos ver que esse maior acesso também pôde abrir portas para que outros tipos de manifestação cultural, outrora desconhecidos, começassem a conquistar novos públicos nunca antes imaginados. Esse seria o caso da popularização de diferentes manifestações da cultura japonesa, que hoje integra um movimento conhecido como “Japop”.
Tradicionalmente, o Japão era compreendido como um país marcado por uma cultura pouco conhecida devido à iniciativa própria de seus integrantes de preservar suas características. Ao mesmo tempo, as condições geográficas da nação japonesa fizeram com que, por mais de mil e quinhentos anos, os japoneses constituíssem valores culturais bastante singulares. Somente com a Restauração Meiji, o governo japonês incentivou o contato com a cultura, economia e política dos povos do Ocidente. Esse contanto inicial se promoveu durante o século XIX, quando a economia japonesa passou a se inserir na corrida industrial e capitalista.
Depois de se instituir enquanto uma nação influenciada pelos valores da civilização ocidental, esse contato com os japoneses sofreu um período de interrupção durante a Segunda Guerra Mundial, quando as autoridades japonesas se voltaram contra os países aliados. Logo após o conflito esse contato se restabeleceu. No entanto, a imagem consolidada do Japão ainda estava vinculada aos valores mais tradicionalistas de sua cultura, onde a rigidez ética educacional, a filosofia dos samurais, katanas, gravuras ukiyo-e, gueixas e o Bushido eram representantes máximos.
Na segunda metade do século XX, esse sinônimo que vinculava o Japão a um “admirável” arcaísmo cultural começou a perder sua força com a entrada dos japoneses no mass-media. A partir da década de sessenta, animações, revistas em quadrinhos e seriados japoneses começaram a ganhar público nos lares Ocidentais. Os heróis japoneses como National Kid, Jaspion e Changeman criaram uma legião de fãs espalhados pelo mundo inteiro.
Além dos seriados, a cultura japonesa também ganhou espaço com a febre dos jogos de vídeo-game, onde diversos personagens simbolizavam algum traço da cultura nipônica. No cinema, alguns filmes de ação retratavam a destreza com a qual os lutadores japoneses conseguiam se sobressair em uma luta. O J-Rock (rock japonês) é uma nova ramificação musical que conta com diversos fãs. Até mesmo, a moda ganha traços orientais com o uso de tecidos de seda com estampas apresentando temática oriental.
Passada a onda dos heróis de seriados, uma dos mais instigantes fenômenos referentes à popularização dos valores da cultura japonesas está vinculado aos desenhos animados japoneses, também conhecidos como mangás. Transformando-se em uma febre entre crianças e adolescentes, os mangás mobilizam fãs que promovem feiras e concursos de cosplay, onde se caracterizam como alguns dos personagens de seus desenhos animados preferidos.
A popularização da cultura japonesa pode ser vista como um dos mais interessantes fenômenos de intercâmbio e desterritorialização do mundo contemporâneo. Contrariando o tão profetizado fenômeno de imposição da cultura ocidental, os japoneses divertem um público globalizado e cada vez mais fiel.
Por Rainer Sousa
Graduado em História