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Mudanças, permanências e escolhas. Essas são três palavras fáceis de serem escutadas quando nos deparamos com situações históricas em que o status quo pode ser potencialmente transformado mediante a ação de seus sujeitos históricos. A possibilidade de mudança sempre nos impele a refletir se, por acaso, uma determinada nação ou sociedade necessita de intervir sobre as suas práticas, instituições e hábitos cotidianos.
Em certa medida, a visão sobre as revoluções muito nos revela sobre a posição política daquele que incide seu olhar sobre o passado. Muitas vezes, a transformação revolucionária é examinada sob os ditames de uma coesão ideológica capaz de promover ações contundentes dos grupos majoritários de uma sociedade. Entretanto, seria possível compreender o (in) sucesso revolucionário pela simples constatação de certos comportamentos dos agentes históricos envolvidos neste processo?
No caso da Revolução Francesa costuma-se atribuir o fracasso da República Jacobina ao radicalismo de seus agentes políticos e à ausência de um projeto político amadurecido. O “reino da justiça e da virtude”, conforme assinalou o historiador Eric Hobsbawn, dos jacobinos não conseguiu equilibrar forças para que pudesse recuperar a economia francesa enquanto tentava-se vencer nos confortos militares travados contra os exércitos monarquistas da Europa.
A situação de caos vivida naquele momento permitiu que a burguesia reorganizasse o processo revolucionário, promovendo a ascensão de Napoleão Bonaparte. Os interesses da burguesia foram garantidos por um herói nacional que, mesmo na condição de imperador, conseguiu abater as forças monarquistas, atender os anseios burgueses e cessar com a crise econômica que afligia as classes populares. Afinal de contas, tais conquistas garantiram a revolução ou impediram a tomada do poder pelos populares?
Posteriormente, com o surgimento do socialismo científico – principalmente com a contribuição de teóricos como Karl Marx e Friedrich Engels – a proposta revolucionária ganhou novos ares com um projeto claro e bem definido. O socialismo ganhou espaço promovendo uma proposta de mobilização das classes trabalhadoras munidas de um projeto político favorável à progressiva extinção das classes sociais, da propriedade privada e do Estado.
A partir de então, as tendências políticas sofreram um grande processo de bipolarização ideológica. Os trabalhadores, cônscios de sua situação, seriam favoráveis à revolução e o surgimento de uma sociedade comunista. Em contrapartida, a burguesia e os grandes proprietários, pautados em seu comportamento individualista, representavam o conservadorismo e a aversão a qualquer tipo de ação transformadora.
Com a agitação política trazida pela Revolução Russa, essa compreensão antagônica parecia ser materializada com a formação do Exército Vermelho e a atuação transformadora dos sovietes. No entanto, essa outra experiência revolucionária foi historicamente contida pelo inchaço de um Estado totalitário em que a igualdade foi substituída pelas exigências de um governo onipresente.
A burocracia soviética e a burguesia francesa tornaram-se grandes exemplos da ação contra-revolucionária. Com isso, muitos chegam à imediata conclusão de que um governo proletário não poderia extrapolar uma experiência efêmera incapaz de subverter a ordem daqueles que a instituíram. Seria essa uma conclusão óbvia ou um sinal de que as ideologias políticas sofreram um franco esvaziamento incapaz de promover idéias capazes de motivar a ação das maiorias?
Enquanto buscamos a resposta para essa questão, as promessas revolucionárias parecem ocupar o obscuro espaço das melancólicas utopias. O materialismo histórico-dialético teria esvaecido com a consolidação das salvaguardas do sistema capitalista. Se tal afirmativa se mostrar verdadeira, teríamos alcançado – conforme profetizado por Francis Fukuyama – o “fim da História”.
Por Rainer Sousa
Graduado em História