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A dialética hegeliana afirmava que os fenômenos continham em si um movimento intrínseco, causador de um devir perpétuo e que assinalava sua própria negação, conservação e síntese. Essa forma de expressar a contradição – o conflito como a própria substância da realidade – foi a solução dada por Hegel ao idealismo predominante em sua época e que tornou o ser das coisas intangível, por isso imutável, restando apenas a aparência enquanto movimento. Assim, a dialética apontaria as contradições da vida social que desembocariam na negação de uma determinada ordem. Já com o materialismo de Feuerbach, captava-se a realidade a partir das sensações e essas determinavam a consciência das ações dos homens.
Ao ser influenciado por ambas as correntes, Marx tratou ao mesmo tempo de refutá-las e sintetizá-las, mesmo que a partir de uma inversão. Segundo a abordagem da vida social, Marx concebeu que os homens têm como base de suas relações o modo como produzem seus meios de existência. Tal método foi denominado materialismo histórico-dialético. Ele não tem como meta estabelecer leis gerais do movimento, mas elucidar fatos concretos de como esse movimento se deu na História.
Essa perspectiva concebe a efemeridade de todos os fenômenos, atestando, inclusive, e principalmente, que os processos de produção são transitórios (e não imutáveis) e que destes dependem as concepções que regem as relações sociais, bem como determinam as consciências individuais.
A produção de meios materiais permitiu e permite que os homens continuem a existir, satisfazendo suas necessidades. Essa produção, enquanto fato histórico, é o que determina, segundo Marx, a interação dos homens com a natureza, bem como com os outros indivíduos, reproduzindo os processos de produção e transmitindo-os para assegurar a manutenção da existência social. É a partir do processo de produção que os homens estabelecem relações sociais e criam as condições para regular os interesses coletivos. O trabalho é o fundamento do materialismo histórico que determina os fatores econômicos, sociais, políticos, etc.
No entanto, o processo produtivo se desenvolveu em estágios determinados, não sendo fruto da vontade individual. O estado de desenvolvimento social é intrinsecamente realizado a partir de suas relações de produção e de suas forças produtivas. Estas dizem respeito à interação do homem na natureza e dos meios de que dispõe para suprir suas necessidades; aquelas são o resultado expresso da interação dos homens – quando em conjunto agem na transformação da natureza, assim como também na transformação social.
Logo, é a partir do modo como os homens organizam sua produção material de existência que eles se organizam, criam leis e costumes, estabelecendo relações em torno da noção de trabalho que é o modo como o homem intervém na natureza para satisfazer suas necessidades. Esse método visa compreender os fatos concretos, vislumbrando a possibilidade de uma reconstrução histórica do homem, que pretende ser a tomada de consciência de suas contradições, com a intenção de superá-las. E o sistema econômico ou modo de produção vigente, o capitalismo, é o desafio a ser superado em razão da imensidade de contradições evidentes no interior do sistema.
Por João Francisco P. Cabral
Colaborador Brasil Escola
Graduado em Filosofia pela Universidade Federal de Uberlândia - UFU
Mestrando em Filosofia pela Universidade Estadual de Campinas - UNICAMP