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Charles Bonnet foi um filósofo e naturalista suíço, nascido em Genebra. Dentre seus feitos estão pesquisas relacionadas à partenogênese em pulgões, e o desenvolvimento das lagartas em borboletas, permitindo a publicação do tratado de insetologia, em 1745; refutação da teoria da epigênese; escritos sobre psicologia; o uso pioneiro da palavra “evolução”, dentre outros.
Foi, no entanto, analisando o caso do seu avô, que ele, possivelmente, passou a ser mais bem reconhecido. Consideravelmente idoso, seu avô, portador de catarata, apresentava visões de pessoas, animais e construções bastante nítidas e que mudavam de forma, tamanho e lugar. Em virtude das contribuições que este filósofo forneceu, tal quadro clínico recebeu o nome de síndrome de Charles Bonnet.
Esta síndrome consiste na visualização repentina de imagens silenciosas, nítidas, complexas e coloridas, que desaparecem abruptamente. Elas podem durar poucos minutos ou até algumas horas, e são perceptíveis mesmo quando se está com os olhos fechados. Na maioria dos casos elas são prazerosas, ou pelo menos nulas.
A pessoa afetada, via de regra, apresenta comprometimento visual, como catarata, glaucoma, degeneração macular relacionada à idade, retinopatia diabética e arterite temporal; e é capaz de reconhecer a irrealidade de tais visões. Além disso, ela não apresenta distúrbios cognitivos, ou alterações sistêmicas significativas.
Tais sintomas são semelhantes ao que ocorre quando uma pessoa amputada “sente” aquela região do corpo que não está mais ali. Em ambos os casos, essas percepções estão relacionadas à perda de informações sensoriais, fazendo com que o cérebro preencha esta lacuna com sensações lembradas, ou imaginadas.
Apesar de ocorrer em vários grupos etários, essa síndrome se manifesta predominantemente em idosos, com maior incidência entre aqueles que estão entre os 70 e 93 anos de idade. Muitas vezes o quadro é negligenciado: ou porque as pessoas próximas acreditam que se trata de demência senil, ou porque o próprio indivíduo afetado tem este receio, e esconde das outras pessoas o que tem passado. Outro fator que dificulta a identificação desse quadro é o próprio desconhecimento de alguns médicos, fazendo com que o quadro seja erroneamente diagnosticado, ou negligenciado.
Considerando o envelhecimento da população, e a maior expectativa de vida que este grupo tem conquistado, é importante que tais profissionais estejam atentos. Alguns especialistas afirmam que a melhor forma de descobrir portadores em potencial é perguntando sobre a existência ou não de ilusões visuais, àqueles pacientes que têm a acuidade visual reduzida.
Quanto ao tratamento, foca-se na deficiência ocular que o paciente apresenta; mas pode, também, ser requerido um acompanhamento psicológico e tratamento de entidades associadas, como depressão. Em alguns casos, fármacos também podem ser receitados.
Infelizmente, em alguns casos, o quadro só desaparece quando o paciente perde, por completo, a capacidade de enxergar. De qualquer forma, piscar, aumentar a iluminação do local onde se está, ou fazer outras mudanças no ambiente; costumam acelerar o desaparecimento das visões.
Saber que o que está ocorrendo não se trata de algum problema psiquiátrico, ou algo mais grave, reduz significantemente a angústia que muitas dessas pessoas sentem. Assim, quanto mais cedo for diagnosticada a síndrome de Charles Bonnet, melhores serão as chances de o paciente seguir a sua vida de forma mais saudável.
Por Mariana Araguaia
Bióloga, especialista em Educação Ambiental
Equipe Brasil Escola