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Visto em sua análise mais superficial, podemos enxergar o trabalho como uma atividade natural e necessária à sobrevivência do homem na Terra. Afinal, sem a produção de riquezas ou a intervenção no meio em que vive, o homem estaria fatalmente fadado a sua própria extinção. Contudo, o homem, ser de ordem cultural, não deixou de valorar essa atividade ao longo do tempo. Entre diversas populações, os tipos de trabalho são marcados por um significado que extrapola os limites da necessidade.
Na Idade Média, por exemplo, o trabalho braçal exercido pelos servos era um elemento que reforçava a sua condição de subserviência em relação aos nobres e clérigos. Deste modo, o trabalho com a terra passou a ser historicamente associado às camadas menos privilegiadas da população. No Portugal do século XVI, os agricultores eram vistos como pessoas de menor importância. Até mesmos os pescadores, que ganham espaço com o processo de expansão marítima, eram mais bem visto do que os camponeses.
Foi nesse processo de degradação do trabalho agrícola que a expressão “vá plantar batatas” foi concebida e utilizada para quando desejamos que alguém nos deixe em paz. Se atuar como agricultor já era visto como uma atividade degradante, usar a terra para plantar batatas era algo mais degradante ainda. Afinal de contas, para o gosto alimentar da época, a batata era um tipo de alimento essencialmente consumido pelas pessoas mais pobres de toda sociedade.
Chegada a Revolução Industrial, a desvalorização dos camponeses continuava a existir em comparação aos operários das fábricas. Em algumas ocasiões, no entanto, ao sofrer com as oscilações da economia ou a própria situação de competitividade, algumas indústrias eram obrigadas a fechar as portas e dispensar seus trabalhadores. Em alguns casos, sem a oportunidade encontrar outro trabalho fabril, alguns operários se viam obrigados a literalmente plantar batatas para sobreviver.
Por Rainer Sousa
Mestre em História
Equipe Brasil Escola