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Jurar de pés juntos

O jurar de pés juntos advém de um antigo hábito da Santa Inquisição.
O jurar de pés juntos advém de um antigo hábito da Santa Inquisição.
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Em diversas situações do nosso dia a dia, somos forçados a utilizar de uma mentira ou omitir a verdade por questões de interesse próprio. Apesar de fazer parte do nosso cotidiano, sabemos que uma mentira pode ser crucial para que tenhamos a nossa credibilidade ameaçada junto a um terceiro. Muitas vezes, aqueles que não são muito dignos de crédito, acabam se valendo de súplicas diversas para serem levados a sério. Não raro, atestam o valor de suas palavras “jurando de pés juntos”.

Para nós, a origem dessa palavra nos parece incógnita. Afinal, qual a relação existente entre o fato de dizer a verdade e ficar com os pés juntos? Seria isso algum tipo de superstição antiga? Ou esse termo faria referência a uma posição que pode ser entendida como sinal de respeito e verdade? Nem uma coisa, nem outra! Para saber de onde vem esse tipo de juramento, devemos nos reportar aos tempos medievais, mais especificamente no período da Inquisição.

Durante a Baixa Idade Média, observamos que o desenvolvimento das heresias se constituía como uma séria ameaça à hegemonia dos dogmas pregados pela Igreja Católica. Afinal de contas, o aparecimento de outras compreensões de fé poderia abrir caminho para a fundação de novas religiões ou de outros movimentos que abalariam a imagem da Igreja como detentora do saber religioso. Foi daí que, no século XIII, foi criado o Tribunal do Santo Ofício, fundado para punir os crimes contra a fé católica.

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Quando acusada de um crime religioso, a pessoa investigada passava pela prisão e tinha a sua casa toda revistada. Nesse tempo de reclusão, os membros da Igreja abriam espaço para que o investigado realizasse a confissão de seus mais graves pecados. Caso isso não acontecesse, os clérigos utilizavam de métodos de tortura que deveriam forçar o pobre cristão a admitir suas falhas. Foi daí que surgiu a expressão “jurar de pés juntos”.

Entre as várias torturas empregadas, os suspeitos tinham, muitas vezes, os pés e as mãos amarrados ou terrivelmente pregados em postes de madeira. Em muitas situações, o inconfesso era colocado de ponta cabeça, o que só aumentava o seu desconforto. Logo, não suportando as dores daquele tipo de agressão, acabavam confessando qualquer tipo de crime religioso. Eles literalmente acabavam “jurando de pés juntos” a prática dos delitos que os levaram àquele tormento.

Com o passar do tempo, a tortura inquisitória acabou se transformando em expressão popular na Península Ibérica, coincidentemente, uma das regiões mais atingidas pela Inquisição Católica. Em terras portuguesas, além do uso aqui exposto, os portugueses também empregam o seu antônimo dizendo “negar de pés juntos”. Já entre os vizinhos espanhóis presenciamos a variação “crer com os pés juntos”, que significa acreditar incondicionalmente em algo.

Por Rainer Sousa
Mestre em História
Equipe Brasil Escola

Curiosidades - Brasil Escola

Escritor do artigo
Escrito por: Rainer Gonçalves Sousa Escritor oficial Brasil Escola

Gostaria de fazer a referência deste texto em um trabalho escolar ou acadêmico? Veja:

SOUSA, Rainer Gonçalves. "Jurar de pés juntos"; Brasil Escola. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/curiosidades/jurar-pes-juntos.htm. Acesso em 21 de dezembro de 2024.

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