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Até a 1ª metade do século XX, a região Centro-Oeste foi uma região marcada por atividades agropecuárias, desarticulada do restante do país e com crescimento demográfico inexpressivo. O grande marco para a transformação da região foi a construção de Brasília, na década de 1960. A transferência da capital para a porção central do Brasil representou, fundamentalmente, a idealização de algumas preocupações estratégicas, como a integração nacional, a defesa da soberania nacional e o estabelecimento de fronteiras.
A preocupação com a integração territorial diz respeito à construção de uma capital numa localização determinante, capaz de possibilitar a ampliação das malhas ferroviária, hidroviária e rodoviária, com destaque para esta última, de acordo com o paradigma desenvolvimentista da época pautado na estruturação rodoviária e produção de automóveis. Quanto ao delineamento das fronteiras, cabe ressaltar que a construção dos modais tinha como destino principal a região norte, buscando a integração do território, como, por exemplo, a construção da rodovia Belém-Brasília, Brasília-Rio Branco, Cuiabá-Porto Velho, Cuiabá-Santarém, idealizadas e construídas entre as décadas de 1960 e 1970.
Muitos agricultores e pecuaristas da região Sul do Brasil migraram para o Centro-Oeste em busca de terras baratas, pois em suas áreas de origem o crescimento urbano e a falta de terras agrícolas impediam o aumento da área cultivada. O relevo do Brasil Central se adequou perfeitamente às culturas que exigem grande mecanização, com destaque para a cultura de soja. Nos dias atuais, o Centro-Oeste representa a maior área produtora do país, sendo que o Brasil ocupa a 2ª posição mundial nesse cultivo. Além da soja, a pecuária bovina extensiva, o algodão e o milho representam as atividades que mais cresceram na região.
Nesse processo, agricultores do Sul e de São Paulo foram atraídos pelas promessas de rentabilidade e de crédito rural. A abertura econômica realizada no início da década de 1990 contribuiu para o crescimento da produção de soja, favorecendo a importação de máquinas e insumos, e atraindo multinacionais que atuam no setor. A cadeia produtiva da soja se completou com a produção de defensivos, sementes selecionadas e maquinário. Segundo o IBGE, o Centro-Oeste foi a 2ª região que apresentou maior crescimento no país na última década, valores muito relacionados ao agronegócio.
A soja no Centro-Oeste é motivo de controvérsia entre pesquisadores, políticos, fazendeiros e ambientalistas. A homogeneização dos ecossistemas tem sido duramente criticada, pois a produção de soja avança pelo Cerrado e já alcançou o ecossistema amazônico. O debate sobre as variedades transgênicas, espécies modificadas geneticamente em laboratório, ainda carecem de maior riqueza de detalhamentos e maior exposição para a sociedade.
A região Centro-Oeste representa uma área de crescimento populacional recente e em expansão, que ainda permite um planejamento adequado quanto a seu processo de urbanização e exploração de seus recursos naturais. Infelizmente, a região já está atravessando os mesmos problemas que outras regiões experimentaram algumas décadas antes, como especulação imobiliária, precarização das condições de vida da população rural e concentração fundiária.
Júlio César Lázaro da Silva
Colaborador Brasil Escola
Graduado em Geografia pela Universidade Estadual Paulista - UNESP
Mestre em Geografia Humana pela Universidade Estadual Paulista - UNESP