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Quando criada, a internet prometia conhecimento ilimitado acerca de tudo o que pudesse acontecer no mundo todo. Para a China, a chance de conhecer um mundo “não chinês” foi banida por uma muralha – desta vez digital – que censura quase todo o conteúdo acessado pelos chineses.
Esta muralha tem nome: Jin Dun (“escudo de ouro”, em chinês). Este sistema custou ao Partido Comunista Chinês (PCC), governo absoluto da China, US$ 29 bilhões que mantêm 640 mil computadores e 30 mil funcionários – duas vezes mais que os membros da CIA, a agência de inteligência dos Estados Unidos.
Google, Youtube e Wikipedia não são para eles assim como são para nós. O conteúdo é restrito e os sites de busca só retornam com resultados permitidos pelos censores. Buscar por “Praça Tiananmen” ou “Tibete” não trará em nenhum resultado o massacre dos estudantes ou os protestos mundo afora. Sites chineses que questionam as ações do PCC também são rapidamente censurados.
O Jin Dun lista palavras e termos que não devem ser acessados e aí quando algum chinês clica no tal termo o site bloqueia na hora. Quem insiste em subverter a lei pode ser penalizado desde a suspensão do serviço de internet até a uma “visitinha” policial.
O problema nas Olimpíadas
Cerca de 300 jornalistas do mundo todo – em Pequim por conta dos Jogos Olímpicos – sofreram com a censura no país. Blogs brasileiros e até sites de jornais não puderam ser acessados no início da cobertura jornalística das Olimpíadas.
Alguns sites, incluindo blogs e pornografia, foram liberados em 16 de julho, mas o fato não foi suficiente para agradar a imprensa, haja vista que a China, para garantir Pequim como sede dos Jogos de 2008, havia prometido grandes mudanças. Entre elas estava “afrouxar” o controle abusivo e melhorar suas leis naquilo que diz respeito aos direitos humanos e consequentemente à liberdade de expressão, além de garantir o acesso livre da imprensa à internet e ao trabalho jornalístico. Esta última foi ainda mais prejudicada, já que de 1º de janeiro de 2007 a 8 de julho de 2008 foram registradas 259 interferências do governo no exercício da imprensa.
Para conter a ira dos repórteres, o Comitê Olímpico Internacional (COI) anunciou em 1º de agosto que fez um acordo com a China para recuar a censura e liberar a internet, o que foi conseguido em parte. Sites como o Human Rights Watch e o Anistia Internacional foram liberados, mas outros como “Free Tibet”, sítios que mostram o massacre da Praça da Paz Celestial, que citam a seita espiritual Falun Gong ou os católicos que se recusam a seguir ordens do PCC continuam bloqueados.
Fora da China virtual
O cerceamento não está só na internet. O PCC havia prometido ao COI que os chineses teriam o direito de protestar durante as Olimpíadas, o que não aconteceu. Os interessados deveriam pedir autorização nas delegacias de Pequim para protestar em um dos três parques destinados às manifestações públicas (Ritan, Zizhuyuan e Shijie), todos bem longe do Complexo Olímpico.
O fato é que pelo menos dois chineses que queriam protestar pela demolição de sua casa (assim como aconteceu com milhares de chineses para a construção do Estádio Ninho do Pássaro) foram presos no momento em que se inscreviam para manifestar.
O governo chinês não dá brechas e mente descaradamente sobre suas atitudes em relação aos tratamentos submetidos à sua população. Para eles, críticas não são aceitáveis.
Que o diga Hu Jia, condenado a três anos e meio de prisão por publicar um manifesto intitulado “A verdadeira China e as Olimpíadas”, no qual denuncia as desapropriações ocorridas em Pequim para a construção do Complexo Olímpico, a perseguição a ativistas dos direitos humanos, as prisões, torturas e penas de morte, além dos abortos forçados e da proibição de praticar qualquer religião. Saiba mais sobre este manifesto clicando aqui.
Os estudiosos sobre este país acreditam que, mesmo em crescente desenvolvimento comercial e futura potência do mundo, o sistema comunista da China não será balançado antes de 2025. Isto, porque os métodos de desencorajar a população perpassam por processos de tortura física e psicológica, além de propaganda (quase nazista) que convence os chineses inconscientemente de como o partido comunista é essencial para a China.
*Créditos da imagem: fstockfoto e Shutterstock.com
Por Marla Rodrigues