O Talibã é uma organização fundamentalista islâmica que surgiu no Afeganistão. Governou o país de 1996 a 2001 e realizou inúmeras violações aos Direitos Humanos.
O Talibã é uma organização fundamentalista sunita que surgiu no Afeganistão, em 1994, durante a Guerra Civil Afegã. Esse grupo se originou no interior dos mujahidin, grupos rebeldes fundamentalistas que foram financiados pelos Estados Unidos na luta contra os soviéticos durante a Guerra do Afeganistão de 1979. O Talibã governou o país de 1996 a 2001, cometendo inúmeras violações aos Direitos Humanos.
O Talibã surgiu em 1994, durante a Guerra Civil Afegã.
Foi formado por estudantes que faziam parte de escolas religiosas afegãs e eram liderados por Mohammad Omar.
O grupo fundamentalista governou o Afeganistão de 1996 a 2001, cometendo várias violações aos Direitos Humanos.
Foi derrubado do poder pelos Estados Unidos por dar abrigo para a Al-Qaeda e a Osama bin Laden.
Retomou o poder do Afeganistão em 2021, com a retirada das tropas norte-americanas do país asiático.
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O que é o Talibã?
O Talibã é uma organização islâmica fundamentalista de orientação sunita que surgiu no Afeganistão, em 1994. Originou-se no interior da população pachto, a etnia majoritária que habita o Afeganistão, país localizado na Ásia Central. Especificamente, a origem do Talibã está relacionada com jovens pachtos que frequentavam escolas religiosas afegãs — as madrasas.
Inclusive, o termo “talibã” na língua pachto significa “estudantes”, uma vez que foram esses estudantes vinculados a escolas religiosas e que possuíam uma visão extremamente conservadora do islamismo que deram origem à organização fundamentalista. O objetivo desse grupo era o de governar o Afeganistão, garantindo paz e segurança ao país, além de impor a Lei Islâmica, conhecida como Sharia.
O surgimento do Talibã está relacionado diretamente com a Guerra do Afeganistão de 1979, também conhecida como Guerra Afegã-Soviética. Essa guerra foi resultado da crise política que o Afeganistão viveu na década de 1970 e pela ascensão do Partido Democrático do Povo do Afeganistão (PDPA) ao poder do país em 1978.
Guerra do Afeganistão de 1979
Em 1973, a monarquia afegã foi derrubada por um golpe que deu início ao período republicano no Afeganistão, sendo o poder do país entregue ao líder do golpe, Mohammad Daoud. Na década de 1970, a sociedade afegã estava dividida entre um grupo secular, que pretendia fazer reformas e uma modernização do país, e grupos tradicionais, ligados ao islamismo e que não desejavam reformas modernizantes.
Mohammad Daoud procurou sustentar-se no poder por meio de alianças diplomáticas com a Arábia Saudita e o Irã, o que não agradava aos socialistas, grupo que estava se fortalecendo no Afeganistão e que desejava realizar as reformas seculares e modernizantes no país. Esses socialistas se reuniam no PDPA e contavam com grande apoio dos soviéticos.
O fortalecimento do PDPA fez com que esse grupo organizasse um golpe, com apoio dos militares e dos soviéticos. Esse golpe aconteceu em 1978 e ficou conhecido como Revolução Saur. Os socialistas no poder do país formaram a República Democrática do Afeganistão e deram início a um extenso programa de reformas modernizantes.
O historiador Filipe Figueiredo enumerou algumas das reformas promovidas pelos socialistas no Afeganistão|1|:
fim das leis religiosas;
obrigatoriedade de fazer a barba;
abolição do véu muçulmano;
limitação sobre o funcionamento de mesquitas;
expurgo contra as autoridades ligadas às tribos tradicionais do Afeganistão.
Na prática, o governo do PDPA procurou secularizar a sociedade afegã, combatendo o islamismo e a organização tribal do país, além de promover profundas reformas na agricultura e nos costumes da sociedade, como na questão dos direitos das mulheres, uma vez que o PDPA anunciou a igualdade entre os gêneros no país. Para conduzir essas mudanças, uma postura mais autoritária foi assumida e opositores passaram a ser perseguidos.
O novo governo e as reformas conduzidas desagradavam a grupos tradicionais e conservadores ligados às tribos do país e que eram muçulmanos. Isso levou à formação de milícias armadas, que ficaram conhecidas como “mujahidin”, algo como “guerreiro santo”, aquele que luta em defesa da fé islâmica. Nesse cenário, o governo afegão passou a controlar as grandes cidades do país, enquanto os mujahidin tinham grande controle no interior e em zonas rurais do Afeganistão.
O PDPA passou a lidar com uma série de revoltas no Afeganistão e, então, decidiu pedir ajuda para a União Soviética, a fim de controlar a situação. O governo soviético, na época controlado por Leonid Brejnev, decidiu intervir na situação afegã, pois temia perder um importante aliado na Ásia Central. Assim, em dezembro de 1979, tropas soviéticas invadiram o país.
Iniciou-se aí uma luta que se estendeu por 10 anos e que colocou o governo afegão e o governo soviético na luta contra os rebeldes afegãos, os mujahidin. Acontece que essa guerra não era apenas um pequeno conflito regionalizado que envolvia União Soviética e Afeganistão. A Guerra Fria deu uma outra cara a esse embate.
O contexto da Guerra Fria fez com que os Estados Unidos identificassem nos acontecimentos do Afeganistão uma oportunidade única de enfraquecer a União Soviética e sangrar a economia desse país. O governo de Jimmy Carter passou a intervir secretamente nesse cenário e mobilizou a CIA (inteligência norte-americana) para que os rebeldes afegãos pudessem receber apoio norte-americano.
O historiador V. G. Kiernan traz relatos que o objetivo do governo norte-americano era o de forçar uma intervenção soviética no Afeganistão e, assim, enfraquecer a União Soviética por meio dos enormes gastos que uma possível guerra traria|2|. Assim, em julho de 1979, os Estados Unidos já eram aliados dos mujahidin.
Com o início da guerra, o apoio norte-americano aos mujahidin aumentou consideravelmente. O governo de Ronald Reagan investiu bilhões de dólares no treinamento e no armamento de tropas rebeldes afegãs, e a inteligência norte-americana reuniu-se com grupos extremamente reacionários para a luta contra os soviéticos.
Durante o conflito, os mujahidin também contaram com o apoio do Paquistão e da Arábia Saudita. A inteligência paquistanesa também atuou intensamente no treinamento dos rebeldes afegãos. O resultado de tamanho apoio aos mujahidin foi que eles forçaram a retirada soviética do território afegão em 1989.
A retirada dos soviéticos não colocou fim à guerra, que prosseguiu entre 1989 e 1992, com o PDPA lutando contra os mujahidin pelo controle do Afeganistão. Os Estados Unidos seguiram apoiando os rebeldes afegãos com o objetivo de derrubar os socialistas do poder afegão. Em 1992, o PDPA caiu e surgiu o Estado Islâmico do Afeganistão.
Guerra Civil Afegã
Acontece que a derrota do PDPA não colocou fim à luta, uma vez que os mujahidin passaram a disputar entre si o poder do Afeganistão. Assim, consolidou-se uma guerra civil, que durou de 1992 a 1996 e que tinha, de um lado, mujahidin moderados e, do outro, mujahidin extremistas. Foi no decorrer desse conflito que o Talibã surgiu. Considera-se que a data de surgimento dessa organização fundamentalista foi o ano de 1994.
O primeiro líder do Talibã foi o mujahidin Mullah Mohammad Omar. Esse líder estava insatisfeito com a não imposição da Lei Islâmica e decidiu tomar o poder do país para impô-la. O Talibã teve grande apoio dos estudantes das escolas religiosas, as madrasas, além de contar com o apoio do Paquistão. Desse modo, rapidamente avançou pelo território afegão.
Entre 1995 e 1996, o Talibã conquistou grande parte do território do Afeganistão, incluindo a capital, Cabul. Ao conquistar o poder do Afeganistão, impôs um regime extremamente autoritário, o qual possui longa lista na violação dos Direitos Humanos. O grupo passou a realizar execuções públicas, amputações e açoitamentos, além de obrigar as mulheres a usarem a burca.
Além disso, passou a perseguir todo o tipo de influência ocidental e, assim, o cinema, música e outras artes foram banidas do país. Também proibiu que mulheres frequentassem a escola e promoveu destruição do patrimônio histórico e cultural do país, como foi o caso da destruição de estátuas de Buda. Também perseguiu minorias étnicas e religiosas, como os xiitas.
Esse primeiro momento em que o Talibã esteve no poder se estendeu de 1996 a 2001. Apenas três nações no mundo reconheciam o governo do Talibã como legítimo: Paquistão, Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos. Nesse período, o Afeganistão ficou conhecido como Emirado Islâmico do Afeganistão.
A única grande resistência que o Talibã possuía no Afeganistão era a milícia conhecida como Aliança do Norte, liderada por Ahmad Shah Massoud e Abdul Rahid Dostum. Esse grupo havia lutado contra o Talibã durante a Guerra Civil Afegã e havia se estabelecido no norte do país, criando um pequeno foco de resistência lá.
Queda do Talibã
Enquanto o Talibã controlava quase todo o território afegão, um importante mujahidin havia se estabelecido lá: Osama bin Laden. O saudita havia lutado contra os soviéticos na Guerra do Afeganistão de 1979 e tinha entrado na jihad (“guerra santa”) com o apoio norte-americano. Ele se tornou fundamentalista e foi um dos fundadores da Al-Qaeda.
A Al-Qaeda foi a organização terrorista responsável por organizar os Atentados de 11 de setembro de 2001, que causaram a morte de quase três mil pessoas nos Estados Unidos. O Talibã tornou-se alvo dos Estados Unidos porque o governo deles no Afeganistão dava abrigo a Osama bin Laden e a Al-Qaeda.
O Talibã recusou-se a atender aos pedidos do governo norte-americano e uma resposta militar internacional foi iniciada contra o Afeganistão ainda em 2001. A invasão do Afeganistão por tropas norte-americanas, canadenses, britânicas, entre outras, aconteceu em outubro. Em dezembro, as tropas norte-americanas já estavam controlando grande parte do país.
Videoaula: O que é a Al-Qaeda?
Ressurgimento do Talibã
Após um período de decadência, o Talibã reagrupou suas forças e tornou-se uma ameaça permanente no Afeganistão, embora não controlasse o país. Com o tempo, a influência do Talibã foi aumentando sobre o interior do país e alcançou regiões no interior do Paquistão. O que impedia o retorno efetivo do Talibã era a presença militar norte-americana em território afegão.
O Talibã passou a controlar algumas regiões no interior do Afeganistão, mas a capital, Cabul, permaneceu sob controle do governo afegão e das tropas norte-americanas. Entretanto, o governo norte-americano deu início, durante o governo de Donald Trump, a um processo de saída do país e essa saída foi efetivada de maneira apressada no governo de Joe Biden.
Esperava-se que o Talibã não conseguisse derrotar o governo afegão rapidamente e que uma luta se estendesse no país. Houve até negociações de paz do governo norte-americano com o Talibã em 2020, mas elas não avançaram. A saída norte-americana coincidiu com o momento de maior força do Talibã desde 2001.
A efetivação da saída das tropas norte-americanas fez com que o Talibã iniciasse uma campanha militar pelo Afeganistão, a qual levou à conquista de quase todo o território do país em cerca de duas semanas. O exército afegão não foi páreo para o Talibã, e a capital, Cabul, caiu em menos de 24 horas. Representantes do governo afegão fugiram do país, e o Talibã retomou o poder do Afeganistão depois de 20 anos. Para saber mais sobre a atual situação, leia: Talibã e a retomada do poder no Afeganistão.
Notas
|1| FRONTEIRAS INVISÍVEIS DO FUTEBOL #84: Afeganistão. Apresentação de Matias Pinto e Filipe Figueiredo. Xadrez Verbal. Podcast, 2019. Para acessar, clique aqui.
|2| KIERNAN, Victor G. Estados Unidos: o novo imperialismo. Rio de Janeiro: Record, 2009, p. 416.
Escrito por: Daniel Neves Silva Formado em História pela Universidade Estadual de Goiás (UEG) e especialista em História e Narrativas Audiovisuais pela Universidade Federal de Goiás (UFG). Atua como professor de História desde 2010.
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SILVA, Daniel Neves.
"O que é o Talibã?"; Brasil Escola.
Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/o-que-e/historia/o-que-e-o-taliba.htm. Acesso em 22 de dezembro
de 2024.