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Talibã e a retomada do poder no Afeganistão

O Talibã é uma organização fundamentalista islâmica que governou o Afeganistão de 1996 a 2001. Esse grupo retomou o poder do país com o fim da ocupação norte-americana.

Membros do Talibã em um quarto cheio de armas.
O Talibã surgiu em 1994 e governou de maneira autoritária o Afeganistão de 1996 a 2001.[1]
Crédito da Imagem: Shutterstock.com
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O Talibã é um grupo fundamentalista sunita que surgiu, em 1994, no decorrer da Guerra Civil Afegã. Tomou parte do país e estabeleceu, em 1996, um governo marcado pelas violações dos Direitos Humanos. Foi derrubado do poder por tropas norte-americanas, em 2001, e o retomou depois da saída dos Estados Unidos, em 2021.

Confira no nosso podcast: Talibã e a retomada do poder no Afeganistão

Tópicos deste artigo

Resumo sobre Talibã e a retomada do poder no Afeganistão

  • O Talibã é uma organização fundamentalista que surgiu no Afeganistão, em 1994, e controlou o país de 1996 a 2001.

  • Foi destituído como um desdobramento dos atentados de 11 de setembro.

  • Os Estados Unidos procuraram reformar o exército afegão e formar governos democráticos estáveis.

  • Donald Trump iniciou a negociação para retiradas das tropas norte-americanas.

  • Joe Bidem concluiu o fim da ocupação do Afeganistão.

  • Uma ofensiva do Talibã levou-o de volta ao poder do Afeganistão, em 2021.

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O que é o Talibã?

Resumidamente, o Talibã é um grupo fundamentalista islâmico sunita que surgiu, em 1994, no Afeganistão durante a Guerra Civil Afegã. Esse grupo foi criado no interior dos mujahidin, rebeldes que se estabeleceram no Afeganistão no final da década de 1970. Esses rebeldes surgiram como uma oposição aos socialistas, que governavam o país desde 1978.

Com apoio norte-americano e paquistanês, os mujahidin lideraram uma resistência armada contra o governo afegão e as tropas soviéticas, quando elas invadiram o país, em 1979. Ao longo de 10 anos, os mujahidin foram treinados e equipados com dinheiro norte-americano e foram responsáveis pela expulsão dos soviéticos.

Em 1992, os mujahidin derrotaram o governo socialista que existiu no Afeganistão e, de 1992 a 1996, lutaram entre si pelo poder do país. Um dos grupos que fizeram parte dessa luta era o Talibã, que defendia a imposição da lei islâmica, conhecida como Sharia. O Talibã é conhecido por suas posições extremamente conservadoras.

O Talibã surgiu entre os mujahidin conservadores e contrários aos valores ocidentais e progressistas. Foi formado por estudantes de escolas religiosas afegãs, conhecidas como madrasas. Seu nome é uma referência aos estudantes dessas madrasas que engrossaram as linhas do grupo. Talibã, em pachto, significa “estudante”.

O Talibã governou grande parte do Afeganistão, entre 1996 e 2001, com um governo extremamente autoritário que executava opositores e punia a população civil com amputações e açoitamentos públicos. O governo do Talibã também proibiu a população de ter acesso à cultura ocidental e impediu mulheres de trabalharem e estudarem, além de obrigá-las a usar a burca.

Leia mais: Guerra do Golfo, conflito que colocou os Estados Unidos em guerra contra o Iraque

Por que o Talibã foi derrubado do poder?

Em 2001, o Talibã controlava grande parte do território do Afeganistão, e, nesse ano, um grupo terrorista que estava instalado no interior das terras controladas pela organização realizou um ataque contra os Estados Unidos — os atentados de 11 de setembro, conduzidos pela Al-Qaeda e que resultaram na morte de quase três mil pessoas.

O governo norte-americano exigiu que o Talibã entregasse o líder da Al-Qaeda, Osama bin Laden, e fechasse todas as bases da organização terrorista. O Talibã negou-se a aceitar as exigências dos Estados Unidos, e, assim, a comunidade internacional apoiou o governo norte-americano em uma invasão do Afeganistão, em outubro de 2001.

Em dezembro do mesmo ano, o Talibã havia sido destituído do poder do Afeganistão, e os Estados Unidos iniciaram os preparativos para a formação de um novo governo no país e para o treinamento e formação de um exército afegão. O grupo fundamentalista, apesar de enfraquecido, seguiu como uma grande ameaça ao país.

Entre 2001 e 2021, membros do Talibã estiveram escondidos em locais do Afeganistão e do Paquistão e mantiveram-se ativos, arregimentando soldados, arrecadando fundos, comprando armas e realizando atentados. Uma série de atentados terroristas que aconteceram no Afeganistão durante esse período foi obra do Talibã.

Em 2013, o fundador do Talibã, Mohammad Omar, morreu após ter contraído uma doença misteriosa. Sua morte só foi do conhecimento internacional em 2015, e, desde 2016, a organização é liderada por Mawlawi Hibatullah Akhundzada.

  • Videoaula sobre Al-Qaeda

Retomada do poder pelo Talibã

Vista do centro de Cabul mostrando multidão e carros; ao fundo, há uma mesquita e colinas.
A chegada das tropas do Talibã a Cabul, em agosto de 2021, levou a cenas de desespero, com milhares de pessoas tentando fugir do Afeganistão.[2]

Quando os Estados Unidos invadiram o Afeganistão, em 2001, alguns objetivos estavam em jogo:

  • A morte de Bin Laden;

  • A extinção da Al-Qaeda e do Talibã;

  • A formação de um governo democrático estável no Afeganistão.

Apenas o primeiro objetivo foi alcançado pelos norte-americanos, e somente em 2011 houve a execução de Osama bin Laden, no Paquistão. A presença norte-americana seguiu sendo o único fator que garantia a existência do governo afegão que surgiu após a queda do Talibã. Entretanto, a intervenção no Afeganistão tornou-se um pesadelo para os Estados Unidos.

Estima-se que o governo norte-americano tenha gastado cerca de 83 bilhões de dólares para treinar e armar o exército afegão. Além disso, os governos afegãos demonstraram ser muito corruptos e instáveis, e a guerra tornou-se impopular entre a população norte-americana. O resultado dessa soma de fatores: os Estados Unidos decidiram sair do Afeganistão.

Barack Obama (2009-2017) prometeu que retiraria as tropas norte-americanas do Afeganistão, mas não conseguiu cumprir sua promessa. Seu sucessor, Donald Trump (2017-2021), também optou pelo caminho do fim das operações e até decidiu negociar termos de paz com o Talibã, entre 2019 e 2020. O acordo negociava a retirada das tropas norte-americanas em troca de garantias de paz por parte do Talibã.

Os acordos fracassaram, e Trump, mesmo assim, anunciou que retiraria as tropas norte-americanas do país, mas também não cumpriu essa promessa. Foi somente com o governo de Joe Biden que as promessas de retirada das tropas foram colocadas em prática. O presidente norte-americano anunciou que elas sairiam do Afeganistão até 11 de setembro de 2021.

A expectativa era de que o governo afegão utilizasse a estrutura deixada pelos norte-americanos para conduzir o país e resistir a uma eventual guerra contra o Talibã. Esperava-se também que o exército afegão fosse capaz de resistir ao Talibã e que Cabul pudesse lutar por seis meses em caso de ataque.

O governo norte-americano apressou a retirada de suas tropas, realizando-a em agosto de 2021. A saída das tropas norte-americanas imediatamente deu início a uma campanha militar do Talibã. Durante 2001 a 2021, o Talibã manteve-se por meio de serviços de segurança, venda de ópio e por meio de doações secretas.

Para complicar a situação, a saída norte-americana aconteceu no momento de maior força do Talibã desde 2001. Estima-se, por exemplo, que, em maio de 2021, o grupo tinha cerca de 85 mil soldados. Antes de agosto, ele já controlava uma parte do Afeganistão, embora as grandes cidades ainda estivessem nas mãos do governo do presidente Ashraf Ghani.

Com a saída das tropas em agosto, o Talibã iniciou sua campanha militar, que conquistou o Afeganistão de maneira fulminante. Em menos de duas semanas, quase todas as grandes cidades do país foram conquistadas, incluindo a capital, Cabul. Representantes do governo afegão, como o presidente Ghani, fugiram, deixando o caminho livre para a tomada do poder pelo grupo.

O governo norte-americano anunciou que enviaria novos soldados ao Afeganistão para conduzir a retirada do corpo diplomático norte-americano que trabalhava no país asiático. Além disso, estima-se que a retirada apressada das tropas norte-americanas fez com que armamentos, como veículos blindados e drones, tenham caído nas mãos dos fundamentalistas.

A chegada do Talibã a Cabul resultou em cenas de desespero, com parte da população da cidade se dirigindo ao aeroporto para fugir do país de maneira desesperada. Essas pessoas temem o governo do Talibã, que, entre 1996 e 2001, ficou marcado por diversas violações dos Direitos Humanos.

Acesse também: Saddam Hussein, ditador iraquiano derrubado pelos EUA em 2003

Futuro do Afeganistão após tomada do poder pelo Talibã

A saída das tropas norte-americanas do Afeganistão e o retorno do Talibã ao poder do país demonstraram o grande fracasso dos 20 anos da ocupação norte-americana. Os Estados Unidos investiram bilhões de dólares no exército afegão, e essa força mostrou-se incapaz de lutar contra o Talibã, sofrendo derrota atrás de derrota.

O governo norte-americano também fracassou em construir uma alternativa democrática no Afeganistão, e os governos que surgiram no país demonstraram-se impopulares, corruptos e fracos. Além disso, o conflito demonstrou ser absurdamente caro, e estima-se que os Estados Unidos tenham gasto mais de dois trilhões de dólares no Afeganistão.

A avanço do Talibã já resultou em execuções em algumas partes do Afeganistão, e estima-se que alguns dos avanços que aconteceram no país nos últimos 20 anos, como a grande presença de mulheres em escolas e no mercado de trabalho, deixem de existir. Outro temor é o acerto de contas que o Talibã pode promover no país por ter sido derrubado do poder 20 anos atrás.

Os Estados Unidos e outras nações ocidentais demonstraram não ter interesse em reconhecer a legitimidade do governo do Talibã no Afeganistão. Entretanto, observadores internacionais apontam a possibilidade de que a China faça esse reconhecimento, uma vez que a estabilidade do Afeganistão seria interessante para os interesses chineses na região no longo prazo. Outro ponto que demonstra que talvez a China possa reconhecer o governo do Talibã é o fato de que o maior aliado do grupo — o Paquistão — é seu maior parceiro econômico atualmente.

Créditos das imagens

[1] Dmitriyk21 e Shutterstock

[2] Jono Photography e Shutterstock

Escritor do artigo
Escrito por: Daniel Neves Silva Formado em História pela Universidade Estadual de Goiás (UEG) e especialista em História e Narrativas Audiovisuais pela Universidade Federal de Goiás (UFG). Atua como professor de História desde 2010.

Gostaria de fazer a referência deste texto em um trabalho escolar ou acadêmico? Veja:

SILVA, Daniel Neves. "Talibã e a retomada do poder no Afeganistão"; Brasil Escola. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/historiag/taliba-e-a-retomada-do-poder-no-afeganistao.htm. Acesso em 21 de novembro de 2024.

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