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O Yom Kipur é conhecido no Brasil como Dia do Perdão ou Dia da Expiação. Nesse dia, judeus de todo o mundo deixam de se alimentar, de banhar, de trabalhar, de usar equipamentos eletrônicos e se dedicam à reflexão, a pedir perdão pelos pecados cometidos contra Deus ou outras pessoas.
A origem do dia é atribuída ao perdão de Deus dado aos hebreus após estes terem cultuado um bezerro de ouro. Durante o Yom Kipur, diversos rituais e orações são realizados nas sinagogas de todo o mundo. Nesse dia muitos não praticantes do judaísmo participam das cerimônias do Yom Kipur, por se tratar de uma tradição que reúne toda a família e comunidade, assim como o Natal no Brasil.
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Tópicos deste artigo
- 1 - Resumo sobre Yom Kipur
- 2 - O que é o Yom Kipur?
- 3 - O que significa o Yom Kipur?
- 4 - Quando é celebrado o Yom Kipur?
- 5 - Origem do Yom Kipur
- 6 - O que os judeus fazem no Yom Kipur?
- 7 - Jejum no Yom Kipur
- 8 - Orações de Yom Kipur
- 9 - Curiosidades sobre o Yom Kipur
Resumo sobre Yom Kipur
- O Yom Kipur ocorre nove dias após o Rosh Rashaná, o Ano-Novo do judaísmo.
- Durante o Yom Kipur, os judeus praticam um jejum total, e não podem ingerir qualquer bebida ou comida.
- O dia é dedicado à oração, à reflexão e ao arrependimento dos erros cometidos no ano anterior.
- Durante o dia, as sinagogas realizam cinco orações, cada uma delas com um significado diferente.
- Em Israel as ruas ficam quase desertas durante o Yom Kipur, com apenas profissionais que trabalham em setores emergenciais em atividade.
- Tradicionalmente trajes brancos são utilizados pelos judeus durante o Yom Kipur.
O que é o Yom Kipur?
O Yom Kipur é considerado o dia mais sagrado do judaísmo para a maior parte dos judeus. A celebração é conhecida por nós brasileiros como Dia da Expiação ou como Dia do Perdão.
O que significa o Yom Kipur?
O Yom Kipur é um dia de arrependimento dos erros cometidos no passado, sobretudo no ano anterior, em relação a Deus e aos seres humanos. O perdão só ocorre se a pessoa, de fato, arrepender-se dos erros que cometeu, desculpar-se com a pessoa ofendida e reparar os danos causados a ela.
Também é um dia de penitência, em que os praticantes do judaísmo não se lavam, praticam o jejum, não trabalham, não dirigem veículos automotivos, não se maquiam, entre outras penitências.
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Quando é celebrado o Yom Kipur?
O Yom Kipur ocorre no 10º dia do mês de Tishrei, o primeiro mês do calendário judaico, e seu término marca um período de 10 dias, conhecidos como Dias de Temor ou como Dias de Arrependimento. Durante esses 10 dias, os judeus acreditam que seus arrependimentos, caridades, penitências, ações e orações podem modificar os planos de Deus.
Os Dias de Temor se iniciam no Rosh Rashaná, considerado o Ano-Novo judaico, que ocorre entre meados de setembro e outubro no Calendário Gregoriano. No Rosh Rashaná, Deus escreve o nome de todas as pessoas em três livros: o livro dos justos, o dos injustos e o daqueles que se encontram em um meio-termo. Seu veredito só ocorre no Yom Kipur, podendo Deus modificar o registro no livro nos 10 Dias de Temor.
Ainda durante os Dias de Temor, é realizado o Tashlich, um ritual no qual a pessoa joga em um curso d´água, como um rio, lago, fonte ou mar, migalhas de pão. As migalhas representam os pecados do fiel. O nome Tashlich significa algo como “jogar fora”.
Como os judeus utilizam um calendário lunissolar, os anos podem ter entre 353 e 385 dias, dessa forma, o Rosh Rashaná e, consequentemente, o Yom Kipur, ocorrem em dias diferentes todos os anos. Além disso, o dia no calendário judeu se estende do anoitecer de um dia até o anoitecer do dia seguinte. Em 2023, o Rosh Rashaná se iniciou em 15 de setembro; em 2024, em 2 de outubro; e, em 2025, em 22 de setembro.
Origem do Yom Kipur
Após a fuga do Egito e a peregrinação pelo deserto, Moisés subiu o monte Sinai e recebeu de Deus as Tábuas dos Dez Mandamentos. Ao descer o Sinai, ele encontrou os judeus adorando um bezerro de ouro e agradecendo a este pelo fim da escravidão no Egito. Moisés quebrou as tábuas dos mandamentos ao observar a cena, e Deus condenou os israelitas pelo ato.
Em oração, Moisés passou a pedir perdão a Deus, que ordenou que Moisés levasse as tábuas quebradas novamente para o alto do monte Sinai. Moisés subiu novamente a montanha, recebeu novas tábuas com os mandamentos e o perdão de Deus para os israelitas. Esse Dia do Perdão de Deus é, para os judeus, o primeiro Yom Kipur.
O que os judeus fazem no Yom Kipur?
Como no Yom Kipur é praticado o jejum, duas refeições são realizadas na véspera da data, geralmente reunindo toda a família. Ao final da segunda refeição, velas são acessas pelas mulheres para marcar o início do dia mais sagrado do judaísmo.
O Yom Kipur se inicia com o pôr do Sol. Durante todo o dia, é praticado o jejum e, em Israel, até mesmo entre os não praticantes do judaísmo é considerado falta de respeito se alimentar em público durante o dia. Apenas pessoas de serviços de emergência trabalham, ficando as ruas de Israel quase vazias na data, com exceção das proximidades das grandes sinagogas e de locais sagrados, como o Muro das Lamentações.
A sinagoga é o ponto central do Yom Kipur, nela ocorrem diversas orações relacionadas ao dia. Durante a data, as pessoas usam branco, que simboliza a pureza. Algo semelhante ao Réveillon no Brasil. Alguns praticantes utilizam nas sinagogas o kitel, roupa branca que também é utilizada como mortalha, ela representa o renascimento e a pureza.
Durante o Yom Kipur, também é vedado o uso de perfume, maquiagem, de produtos de couro e são proibidas as relações sexuais. Crianças, idosos e pessoas doentes não precisam praticar o jejum durante o Yom Kipur.
A neilah é a última oração do Yom Kipur. Após o seu fim, o shofar é tocado, indicando o fim do Yom Kipur. Após o tocar do shofar, inicia-se um grande banquete, na maior parte das vezes, em família, em que são comuns pratos como kugel doce, roscas, bolos, queijos, entre outros.
Jejum no Yom Kipur
Diversas religiões utilizam o jejum como uma prática que prepara a mente e o corpo para se aproximar do sagrado. Também é utilizado como uma penitência para expiar pecados, como instrumento que reforça a disciplina e como momento de reflexão. Diversos profetas, como Jesus, Maomé, Buda e Paulo, praticaram o jejum.
Outra característica muito comum em religiões que praticam o jejum é a realização de banquetes pós-jejum, geralmente realizados em comunidade ou família. Durante o Yom Kipur, os judeus praticam um jejum total, ou seja, que proíbe a ingestão de líquidos e comidas. Após o fim do Yom Kipur, é realizado um jantar em família.
Saiba mais: Quaresma — período de jejum e penitências praticado no catolicismo
Orações de Yom Kipur
A primeira oração é conhecida como Kol Nidre, um discurso proferido que se inicia com “todos os votos” ou “Kol Nidre”. Promessas feitas e não cumpridas no ano anterior perante Deus são anuladas. Alguns historiadores apontam que a origem dessa oração se relaciona a períodos em que os judeus foram obrigados a se converter a outras religiões. Diversas comunidades judaicas do mundo não fazem a oração Kol Nidre. A oração se inicia na sinagoga, pouco antes do anoitecer que dá início ao Yom Kipur.
Durante o dia, três orações são realizadas e se relacionam diretamente ao perdão e ao teshuá, o arrependimento. A maioria dos judeus acredita que Deus só perdoará os pecados cometidos relacionados diretamente a ele, não a terceiras pessoas. Os erros cometidos contra outras pessoas devem ser resolvidos com a própria pessoa, com pedido de desculpas e compensações aos danos cometidos. Shacharit é a oração da manhã, Minchá, a da tarde, e Maariv, a oração da tarde.
A última oração realizada no Yom Kipur é Neilá, que significa literalmente “fechar”. Nessa oração, que se inicia no crepúsculo, próximo do fim do Yom Kipur, as pessoas que possuem capacidade devem ficar em pé. A oração termina com o toque do shofar e grande comemoração.
Curiosidades sobre o Yom Kipur
- Guerra do Yom Kipur: em 1973 ocorreu a Guerra Yom Kipur. Nesse conflito uma coalisão de países árabes atacou Israel no dia do Yom Kipur. Países ocidentais apoiaram Israel no conflito, e, por esse motivo, a Opep aumentou drasticamente o preço do petróleo, iniciando a Crise do Petróleo. Saiba mais sobre essa guerra clicando aqui.
- Feriado reconhecido pela ONU: em 2016, a Organização das Nações Unidas reconheceu o Yom Kipur como um feriado judaico. Nos dias do Yom Kipur, sessões não são realizadas na ONU e os funcionários judeus da entidade não precisam trabalhar.
- Yom Kipur em Auschwitz: Elie Wiesel, vencedor do Prêmio Nobel da Paz de 1986 e um dos sobreviventes de Auschwitz, relatou que, no Yom Kipur de 1944, dentro do campo de concentração, presenciou um debate que envolveu seu pai e os outros adultos sobre se eles deveriam ou não jejuar durante o dia sagrado. Alguns foram contrários e alegaram que eles já viviam em um jejum cotidiano, mas a maioria dos judeus do campo resolveu jejuar, reafirmando sua fé em Deus e mantendo vivas suas tradições.
- “Bode expiatório”: em rituais antigos relacionados ao Yom Kipur, um rabino, no alto de um penhasco, colocava suas mãos sobre um bode e falava em voz alta os pecados cometidos pela comunidade durante o ano. O bode era então atirado do penhasco e morria na queda, o sacrifício do bode servia para expiar os pecados de toda a comunidade. Muitos acreditam que o termo “bode expiatório” tenha surgido desse antigo ritual.
- Ritual do Kaparot: é realizado na véspera do Yom Kipur, e nele uma pessoa passa uma galinha sobre sua cabeça diversas vezes, repetindo uma oração por três vezes. Em seguida a galinha é sacrificada, limpa e doada aos pobres. Existem relatos desse ritual sendo realizado no século VII. Atualmente o ritual é criticado em diversas partes do mundo por entidades de defesa dos animais, principalmente nos Estados Unidos e Israel. Na atualidade algumas pessoas substituem a galinha pelo seu valor em dinheiro, também doado aos pobres.
Créditos da imagem
[1] Dr. Avishai Teicher Pikiwiki Israel/ Wikimedia Commons
Fontes
GOODMAN, Martin. A história do judaísmo: a saga de um povo, das suas origens aos tempos atuais. Editora Crítica, São Paulo, 2020.
NOSS, David e outros. História das religiões mundiais. Editora Vozes, São Paulo, 2023.