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A Primeira Guerra da Chechênia foi um conflito armado que aconteceu entre a República da Chechênia e a Rússia (antiga URSS), no período de agosto de 1994 a dezembro de 1996. Essa foi uma das guerras que fizeram parte do processo de independência dos países que estavam, até então, sob o domínio soviético e que, com o fim daquele regime, buscaram sua autonomia, em lutas e guerras.
Essa foi uma guerra sangrenta, tanto pela quantidade e pelos níveis de ataques como por afetar civis. Apesar de diversas manobras, não só bélicas mas também jurídicas, a Rússia saiu perdedora e humilhada dessas batalhas. Todavia, mesmo vencedora e independente, a Chechênia também saiu devastada e teve de lidar, ainda, com diversos conflitos internos. Três anos depois, os russos revidaram e deram início à Segunda Guerra da Chechênia, em 1999.
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Tópicos deste artigo
- 1 - Resumo sobre a Primeira Guerra da Chechênia
- 2 - Antecedentes da Primeira Guerra da Chechênia
- 3 - Estouro da Primeira Guerra da Chechênia
- 4 - Fim da Primeira Guerra da Chechênia
- 5 - Consequências da Primeira Guerra da Chechênia
- 6 - Exercícios resolvidos sobre a Primeira Guerra da Chechênia
Resumo sobre a Primeira Guerra da Chechênia
- Aconteceu entre os anos de 1994 a 1996. Foi um conflito contra a Rússia, com a qual a Chechênia tinha desavenças desde o tempo dos czares.
- Com o fim da URSS, chechenos se autodeclararam independentes, assim como vários países que estavam sob o poderio soviético à época. Porém o caso deste território era diferente.
- A Chechênia fica na região do Cáucaso, uma rota fundamental economicamente para a Rússia escoar, principalmente, petróleo.
- A guerra durou quase três anos e foi bastante sangrenta, além de violadora de vários Direitos Humanos, já que atingiu diversos civis, tanto de um lado quanto de outro.
- Três anos depois, os mesmos países iniciaram mais um confronto: a Segunda Guerra da Chechênia.
- A Rússia saiu perdedora do primeiro conflito, mas a Chechênia também saiu devastada. Além disso, lidava com vários conflitos internos e grupos terroristas.
Antecedentes da Primeira Guerra da Chechênia
Os antecedentes da Primeira Guerra da Chechênia foram os conflitos que aconteciam desde a época dos czares, que tentavam ocupar a capital, Grósnia, e tomar territórios importante, como o Cáucaso. Com a implementação da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), o país, a partir de 1936, passou a se chamar República Socialista Soviética Autónoma da Chechênia e Inguchétia, e esses conflitos só aumentaram.
Entre os principais componentes da guerra estava o nacionalismo checheno, que nunca tolerou, de fato, a dominação soviética. Aliás, anteriormente à Revolução Russa, o país já disputava com czares e, antes ainda, com o Império Otomano.
Isso porque o território não lhes permitia acesso fácil ao Cáucaso, região entre o mar Cápsio e o mar Negro, com planícies e cordilheiras que dividem a Europa Oriental da Ásia Ocidental e, por isso, por onde eram escoados produtos essenciais para a economia, como, mais recentemente, o petróleo.
Esse isolamento geográfico fez com que houvesse conflitos internos entre os vários povos formados naquelas terras ao longo dos anos. Com exceção dos armênios e georgianos, esses povos apresentavam uma cultura e religiosidade pagãs e, depois, no século XVIII, converteram-se ao islamismo.
Dois czares russos já tinham tentado tomar a Grósnia, capital chechena: Pedro, o Grande e Catarina, a Grande, porém houve resistência. O primeiro confronto contra os russos se deu em 1859, ainda no czarismo. Foi nesse ano que a Rússia obteve, após o conflito, o domínio das terras do Cáucaso. Décadas depois, já com Stalin dirigindo a União Soviética, em 1936, foi fundada a República Socialista Soviética Autónoma de Chechênia e Inguchétia.
Em 1943, durante o período nazista, o exército alemão tentou se aproximar da capital, mas não conseguiu, devido ao combate de milhares de chechenos que guerreavam pelo Exército Vermelho. Ainda assim, muitos deles foram considerados desertores e traidores e mandados para o exílio na Sibéria, só retornando ao país após 1957, na chamada desestalinização, conduzida por Nikita Khrushchov (então presidente do Conselho de Ministros, de 1958 a 1964).
Foram assim denominados grupos separatistas que viram na Segunda Guerra Mundial uma oportunidade para finalmente obterem independência. Sem êxito, essa permaneceu a principal pauta dos chechenos até o fim da URSS e eclosão da Primeira Guerra da Chechênia.
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Estouro da Primeira Guerra da Chechênia
Boris Yeltsin, governante da Rússia no período (de julho de 1991 a dezembro de1999), mandou tropas para tentar ter de volta o domínio da área da Chechênia em dezembro de 1994, depois desta ter se declarado independente, em 1991. Essa independência se deu após o fim da URSS, com redução do poderio soviético em diversas regiões. Outras 15 repúblicas também fizeram o mesmo.
Uma questão legal impediu a total autonomia chechena, pois a Constituição então vigente proibia tais rebeliões de territórios que não fossem da União, como era a Ucrânia. A Rússia valia-se dessa lei para manter seu arbítrio, enquanto chechenos continuavam tentando e obtendo fracassos jurídicos.
Conflitos internos dos diferentes povos que habitavam o Cáucaso também aconteciam simultaneamente, até que, em 1994, o exército russo interveio neles. Muitos civis morreram, e a capital, Grósnia, ficou devastada. Foi só em 1996, após tantas mortes e destruição, que a Chechênia, em escombros, conquistou realmente sua independência.
Ainda assim, durante três anos posteriores, muitas turbulências assolavam o país, o que deu origem à Segunda Guerra da Chechênia, em 1999.
Fim da Primeira Guerra da Chechênia
O fim da Primeira Guerra da Chechênia aconteceu com a derrota acachapante da Rússia, que teve diversas baixas. Alguns historiadores consideram a derrota russa foi humilhante. Após o encerramento, foi celebrado um acordo de paz.
Consequências da Primeira Guerra da Chechênia
A Primeira Guerra da Chechênia obteve independência da região do Cáucaso. Outra consequência importante foi a celebração do acordo de paz. Porém os conflitos internos e a rivalidade com a Rússia se mantiveram, até desencadear na Segunda Guerra da Chechênia, considerada também como uma consequência da primeira.
Leia também: Grupos separatistas na região do Cáucaso
Exercícios resolvidos sobre a Primeira Guerra da Chechênia
Questão 01
(PUC-Minas) Leia atentamente o texto a seguir:
Antes da desintegração da União Soviética, havia uma república autônoma, a da Chechênia-Ingústia, que reunia dois povos que lhe davam nome. Quando a União Soviética não mais existia, a Chechênia se recusou a assinar o Tratado de adesão à Federação Russa e proclamou a independência, o que não foi reconhecido pelo governo de Moscou. Em dezembro de 1994, iniciou-se a intervenção militar russa na Chechênia.
OLIC, Nelson Bacic. Conflitos no Mundo: questões e visões geopolíticas. São Paulo, Moderna, 2000. (Adaptação).
Assinale a alternativa que MELHOR explica os interesses russos pela região da Chechênia.
A) Áreas de produção e transporte de petróleo e gás dos importantes jazidos da região; posição geográfica estratégica entre o “mundo russo” e o Oriente Médio; implicações geopolíticas da religião islâmica.
B) Produção de haxixe e ópio para o mercado consumidor da Rússia; atuação da máfia chechena na capital, Moscou; proteção à maioria russa na região.
C) Posição estratégica privilegiada (entre o mar Negro, Cáspio e o Oriente Médio); importantes usinas nucleares e bases militares na região.
D) Jazidas de petróleo e gás natural; atuação de grupos terroristas chechenos que, tendo na religião ortodoxa ponto de união, desafiam o poder de Moscou.
Resposta: letra A. A Chechênia é fundamental para os russos no sentido da estratégia econômica, com passagem de oleodutos pelo mar Cápsio para exportá-los para a Europa.
Questão 02
(Enem) “Com a guinada da Geórgia para o Ocidente, é de fundamental importância estratégica para a Rússia que ela mantenha regiões leais a Moscou no Cáucaso, que é uma região politicamente crítica e de importância estratégica para a federação […]”
Disponível em: http://mundorama.net/2008/04/30/ relacoes-georgia-russia-riscos-de-separatismo-nocaucaso-por-pet-irel-unb/.
O Cáucaso é uma região, situada entre os mares Cáspio e Negro, considerada estratégica em função de estar situada em uma área onde a presença de petróleo é bastante significativa. Sobre a região e os conflitos existentes na área, é correto afirmar:
A) A Chechênia, região de maioria católica ortodoxa, é uma área estratégica para Moscou por estar na rota de importantes oleodutos e gasodutos em operação e constitui o principal foco de tensão na região do Cáucaso.
B) A região de Nagorno Karabak constitui um foco de conflito entre Armênia e a Rússia; a Abkazia e a Ossétia do Sul buscam a independência da Geórgia e são amplamente apoiadas pela Rússia.
C) A Ossétia do Norte pretende a independência da Rússia para passar a congregar com a Ossétia do Sul a Geórgia.
D) O Daguestão constitui a menor república do Cáucaso, é de maioria ortodoxa, e, ao contrário das outras repúblicas que buscam a independência, não abriga grandes campos de petróleo e oleodutos.
E) A região do Cáucaso, que abriga várias repúblicas da Rússia europeia, além do Azerbaijão, da Armênia e da Geórgia, constituiu, ao longo da história, um elo entre o Oriente e o Ocidente.
Resposta: letra E. Por sua localização geográfica privilegiada, com várias rotas, a região do Cáucaso estabeleceu, historicamente, não só conflitos mas também uma ligação entre Ocidente e Oriente, ou seja, entre a Europa Oriental e Ásia Ocidental, conforme vimos neste artigo
Nota
|1| MOTA JÚNIOR, Vidal. Crônicas do Cáucaso: as guerras da Chechênia. REU, Sorocaba, SP, v. 39, n. 2, p. 621-622, dez. 2013.
Por Mariana de Oliveira Lopes Barbosa
Professora de História