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Erasmo Carlos

Erasmo Carlos foi um cantor e compositor de rock que participou do movimento Jovem Guarda. Suas letras foram interpretadas por diversos cantores brasileiros.

Erasmo Carlos cantando no Rock in Rio 2015.
Erasmo Carlos ficou conhecido como Tremendão, na Jovem Guarda. [1]
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Erasmo Carlos foi um cantor e compositor de rock nascido em 1941, no bairro da Tijuca, no Rio de Janeiro. Conhecido como Tremendão, o artista, que também era ator, foi um dos ícones do movimento Jovem Guarda na década de 1960, junto de Roberto Carlos. Suas letras foram interpretadas por diversos cantores brasileiros. Erasmo Carlos morreu em novembro de 2022, em decorrência de uma síndrome edemigênica.

Leia também: Gal Costa — um dos grandes ícones da música popular brasileira

Tópicos deste artigo

Origem de Erasmo Carlos

Erasmo Esteves nasceu no dia 5 de junho de 1941, no Rio de Janeiro. Sua mãe, Maria Diva Esteves, era assistente de enfermagem. De acordo com a biografia do cantor Minha fama de mau, lançada em 2009, o seu pai, Nilson Ferreira Coelho, não assumiu a gravidez da sua mãe na época do seu nascimento. Erasmo Carlos somente conheceu seu pai aos 23 anos, quando já era famoso.

Erasmo cresceu cercado de baianos, uma vez que sua mãe, sua avó e seus tios vieram de Salvador para o Rio de Janeiro de navio antes que ele nascesse. Por isso, a cultura baiana era muito presente no lado materno da família do cantor.

O artista lembrou em sua biografia que sua família degustava comidas baianas em dias de festa. Entre as suas principais lembranças, estava o feijão de coco da avó. O cantor destacou ainda sua devoção ao Senhor do Bonfim.

Conforme o cantor já afirmou, ele não gostava de política. Entretanto, adorava futebol, sendo torcedor assíduo do time Vasco da Gama, do Rio de Janeiro. Erasmo contou em seu livro que até tentou ser jogador, mas foi proibido de praticar o esporte em razão de problemas na coluna.

Antes de se tornar artista, o adolescente Erasmo trabalhou como mostrador de imóveis e auxiliar de almoxarifado. No seu tempo livre, ouvia rádio e recortava fotos de artistas.

Erasmo Carlos e o bairro da Tijuca

Tijuca, bairro localizado na Zona Norte do Rio de Janeiro, foi onde Erasmo Carlos viveu a sua infância e parte da sua adolescência. Segundo o cantor, em várias entrevistas, foi na Tijuca onde ele passou vários momentos importantes de sua vida.

Ruas desse bairro, tais como Barão de Ubá, Haddock Lobo e Matoso, onde hoje existe o bar Divino (lugar de encontro com os amigos), o beco do Mota e a travessa São Vicente enchiam o coração do artista com lembranças inesquecíveis.

Foi no bairro da Tijuca onde Erasmo Carlos fez amigos para toda a vida, especialmente músicos, entre os quais se destacam os cantores e compositores Jorge Ben Jor e Tim Maia. Também foi nesse local do Rio de Janeiro que conheceu o futuro rei Roberto Carlos, jovem capixaba que havia acabado de se mudar para o bairro.

Erasmo Carlos traduziu o seu amor pelo bairro na canção “A turma da Tijuca”, escrita em 1984

[...]

Nessa eterna sensação de gol

Muitas brigas e o nascer do rock’n roll

Muita gente em claro na fila da carne

Esperando o sol raiar

Só pra vender o seu lugar

Que turma mais maluca, aquela turma da tijuca

[...]

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Erasmo Carlos e a paixão pelo rock

Também foi na sua adolescência na Tijuca quando Erasmo Carlos descobriu o rock, estilo musical do qual viria a se tornar ícone brasileiro anos mais tarde. Assim como vários futuros músicos da época, o cantor conhecido como Tremendão era muito fã de Elvis Presley.

Foi ainda nessa época que ele adotou o visual ligado ao rock. Sua imagem de roqueiro era composta por calças jeans, camisa de gola alta, cabelo comprido e costeleta.

Também fã de cantores norte-americanos de rhythm and blues, Erasmo Carlos cantava em “erasmês”, um inglês de araque, conforme ele mesmo definiu, para se aproximar dos ídolos estrangeiros, entre os quais Little Richard, Chuck Berry, Fats Domino e Johnny Cash.

Erasmo Carlos cantando rock em sua juventude.
Conhecido como Tremendão, Erasmo Carlos foi um cantor de rock. [2]

Acesse também: 13 de julho – Dia Mundial do Rock

Erasmo Carlos, mudança de sobrenome e apelidos

Erasmo Carlos declarou, em sua biografia Minha fama de mau, que achava seu sobrenome Esteves de uma pobreza enorme, artisticamente falando.

Quando saiu do grupo musical The Snakes, no início da década de 1960, resolveu adotar o sobrenome Carlos, segundo ele talvez pela convivência com o cantor e amigo Roberto Carlos e com o produtor Carlos Imperial.

A mudança de sobrenome só veio de forma definitiva, de acordo com o cantor, quando ele descobriu que Carlos era um nome considerado especialíssimo pelos mestres do ocultismo e que tinha energia ímpar por conter as iniciais de líderes poderosos.

Ao longo da sua carreira de mais de 60 anos, Erasmo Carlos ficou conhecido por alguns apelidos, como Gigante Gentil (em razão dos seus 1,93 metro) e Brasa. Seu principal apelido, no entanto, foi Tremendão, como foi batizado na época da Jovem Guarda e que significava “rapaz de boa pinta”.

Família de Erasmo Carlos

O primeiro casamento de Erasmo Carlos foi com a paisagista Sandra Saionara Saião Lobato Esteves, mais conhecida com Narinha. Ela foi parceira de composições do artista. Com Narinha, Erasmo Carlos teve três filhos: Alexandre, Gil e Leonardo.

Narinha morreu em 1995, e, segundo o artista comentou em um entrevista, esse foi um dos piores momentos de sua vida. Para tentar superar a perda de sua esposa, Erasmo compôs a canção “É preciso viver”. Confira abaixo um trecho:

[...]

Toda pedra do caminho você deve retirar
Numa flor que tem espinhos
Você pode se arranhar
Se o bem e o mal existem, você pode escolher
É preciso saber viver

[…]

Casou-se com a pedagoga Fernanda Passos, com quem foi casado até o falecimento dele. Os dois não tiveram filhos.

Obra de Erasmo Carlos

No final da adolescência, Erasmo Carlos frequentava o Clube do Rock — programa musical da extinta TV Tupi —, no qual estreitou laços com diversos músicos. Nesse local, também conheceu o produtor Carlos Imperial, que o introduziu definitivamente na música.

Em 1958, Erasmo ingressou no seu primeiro grupo musical, The Snakes, formado por ex-integrantes da banda Sputniks. Este último grupo encerrou suas atividades após uma briga entre Roberto Carlos e Tim Maia.

A banda The Snakes integrava o cenário underground do mercado musical quando foi contratada pela gravadora pernambucana Mocambo. No início da década de 1960, o grupo gravou um bolachão de 78 RPM, um compacto duplo e um LP, twist. A banda The Snakes de Erasmo Carlos encerrou as atividades em 1961.

Em seguida, o cantor começou a trabalhar como assistente do apresentador Carlos Imperial na Rádio Guanabara, no programa diário chamado Os Brotos Comandam. Nessa época, conheceu a cantora e futura parceira da Jovem Guarda, Wanderléa.

No ano de 1962, Erasmo Carlos passou a ser um dos vocalistas do Renato & Seus Blue Caps. No ano seguinte, o grupo acompanhou Roberto Carlos na gravação da música “Splish splash” (ícone do rockabilly americano) em uma versão escrita em português por Erasmo. Foi assim que nasceu a parceria musical entre Erasmo e Roberto.

Amizade de Erasmo Carlos com Roberto Carlos

Conforme o livro Minha fama de mau, Erasmo Carlos e Roberto Carlos se conheceram na adolescência, ainda na Tijuca, quando este último o procurou para saber se ele tinha a letra da música “Hound doy”, de Elvis Presley.

Logo ambos os cantores perceberam que tinham gostos em comum. Eram torcedores do Vasco da Gama. Também eram fãs da atriz Marilyn Monroe e dos atores James Dean e Marlon Brando.

Depois desse primeiro encontro, Roberto Carlos convidou Tremendão para participar do programa Clube do Rock. Anos depois, apresentaram o programa Jovem Guarda, junto da cantora Wanderléa.

Mesmo com o fim da Jovem Guarda, Erasmo e Roberto mantiveram a amizade. Foram parceiros musicais por mais de seis décadas. Juntos, compuseram diversas canções famosas da música brasileira. “Temos o casamento musical perfeito”, chegou a afirmar Erasmo em uma entrevista na TV.

Confira abaixo um trecho da música “Amigo”, de 1997, uma homenagem de Roberto Carlos a Erasmo:

[...]

Você meu amigo de fé, meu irmão camarada

Amigo de tantos caminhos e tantas jornadas

Cabeça de homem, mas o coração de menino

Aquele que está do meu lado em qualquer caminhada

Me lembro de todas as lutas, meu bom companheiro

Você tantas vezes provou que é um grande guerreiro

[...]

Erasmo Carlos e Roberto Carlos tiveram uma briga por causa de um desentendimento musical e ficaram sem se falar por seis meses, mas depois reataram a amizade.

Entre as principais composições de Erasmo Carlos e Roberto Carlos, destacam-se:

  • “Emoções”

  • “Jesus Cristo”

  • “Além do horizonte”

  • “Sentado à beira do caminho”

  • “Se você pensa”

  • “É proibido fumar”

  • “Gatinha manhosa”

  • “É preciso saber viver”

  • “Festa de arromba”

  • “Detalhes”

  • “À beira do caminho”

  • “Minha fama de mau”

  • “Quero que tudo vá para o inferno”

Erasmo Carlos e a Jovem Guarda

Erasmo Carlos, Roberto Carlos e Wanderléa, na época da Jovem Guarda. [3]
Erasmo Carlos, Roberto Carlos e Wanderléa, na época da Jovem Guarda. [3]

Em 1964, o grupo musical de rock britânico The Beatles era sensação no mundo todo, culminando na criação da beatlemania. No Brasil, não foi diferente e a explosão ficou conhecida como iê-iê-iê.

Aproveitando o embalo da beatlemania, a TV Record lançou em 1968 o programa de televisão Jovem Guarda. Os apresentadores eram os cantores Roberto Carlos, Erasmo Carlos e Wanderléa.

Mais do que um programa, a Jovem Guarda foi um dos principais movimentos culturais e musicais brasileiros. Com visual moderno e alegre, os representantes da Jovem Guarda abordavam músicas com cenários harmoniosos e as paixões adolescentes.

O programa Jovem Guarda encerrou suas atividades em 1968, e Erasmo Carlos seguiu com a sua já exitosa carreira solo.

Discos de Erasmo Carlos

Nas décadas seguintes, como cantor e compositor, Erasmo Carlos mesclou suas raízes roqueiras com a música popular brasileira (MPB) e com a bossa nova, estilo musical que ficou famoso pela parceria entre os cantores e compositores Vinicius de Moraes e Tom Jobim.

Ao todo, o cantor lançou 29 álbuns. Veja abaixo os principais discos de Erasmo Carlos:

  • Jacaré/Terror dos namorados (1964)

  • Carlos, Erasmo… (1971)

  • Sonhos e memórias (1941-1972)

  • Pelas esquinas de Ipanema (1978)

  • Erasmo Carlos convida… (1980)

  • Mulher (sexo frágil) (1981)

  • Amar pra viver ou morrer de amor (1982)

  • Pra falar de amor (2001)

Algumas músicas de Erasmo Carlos foram cantadas por ele e outras foram interpretadas por outros músicos e amigos, tais como o próprio Roberto Carlos, Nara Leão, Gal Costa, Rita Lee, Marisa Monte etc.

Veja também: Chico Buarque — um dos principais nomes da Música Popular Brasileira

Filmes e novelas com Erasmo Carlos

Erasmo Carlos participou de alguns filmes ao longo de sua carreira. Veja os principais:

  • Minha sogra é da polícia (1958)

  • Roberto Carlos e o diamante cor-de-rosa (1968)

  • Roberto Carlos a 300 quilômetros por hora (1972)

  • Os machões (1972)

  • O cavalinho azul (1984)

  • Paraíso perdido (2018)

  • Modo avião (2019)

Erasmo Carlos também esteve participou da trilha sonora de algumas novelas, entre as quais:

  • O profeta (1977)

  • Locomotivas (1977)

  • Livre pra voar (1984)

Prêmios e homenagens a Erasmo Carlos

  • 1972: prêmio de Melhor Ator Coadjuvante, pela Associação Paulista de Críticos de Arte, no filme Os machões.

  • 1982: programa Erasmo Convida, no qual recebeu amigos como Gal Costa, Caetano Veloso, Maria Bethânia etc.

  • 2008: programa Som Brasil.

  • 2003: homenageado da noite no 10º Prêmio Multishow de Música.

  • 2022: premiado no Grammy Latino na categoria Melhor Álbum de Rock ou de Música Alternativa em Língua Portuguesa, pelo disco O futuro pertence à Jovem Guarda.

Morte de Erasmo Carlos

Erasmo Carlos morreu aos 81 anos, no dia 22 de novembro de 2022, no Hospital Barra D’Or, na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro, em razão de síndrome edemigênica (um acúmulo de líquido nos tecidos do corpo). A morte do cantor foi sentida por várias personalidades, especialmente da música, que lembraram com carinho a personalidade carismática do Tremendão.

Créditos das imagens

[1] A.PES / Shutterstock

[2] Domínio público / Acervo Arquivo Nacional

[3] Domínio público / Acervo Arquivo Nacional

 

Por Silvia Tancredi
Jornalista

Escritor do artigo
Escrito por: Silvia Tancredi Escritor oficial Brasil Escola

Gostaria de fazer a referência deste texto em um trabalho escolar ou acadêmico? Veja:

TANCREDI, Silvia. "Erasmo Carlos"; Brasil Escola. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/biografia/erasmo-carlos.htm. Acesso em 21 de novembro de 2024.

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